03/05/2005

O DRUIDA DA POCILGA

Capítulo I - A declaração



Antigamente eu ouvia a palavra "druida" e lembrava na hora do Panoramix. Sabe, aquele mago que fazia a poção mágica nas histórias do Asterix. Era um velho de barbas brancas. Bom, qual mago não é um velho de barbas brancas? Do Merlin ao Papai Noel, assim são todos. Deve ser uma espécie de exigência para o cargo. O aprendiz de feiticeiro ainda não fez seu primeiro bigode, o bruxo já cultiva um cavanhaquezinho, e o mago ostenta uma invejável barba branca. Quase uma lei universal.

Eu nem lembrava mais do Panoramix até poucos minutos atrás, quando comecei o parágrafo anterior. É que hoje em dia, depois de tanto tempo convivendo com o Druida da Pocilga, como é que vão falar "druida" e eu vou pensar em história em quadrinho?

Druida da Pocilga. Sim, é mesmo um nome estranho. Alguns o chamavam de Profeta dos Farrapos, fazendo referência não à guerra que aconteceu na terra do chimarrão, mas à precária vestimenta que ele usava. Também já vi gente falando Conselheiro Sujo e Venerável Traste. Alguns passavam horas procurando no dicionário pseudônimos insólitos pro cara. Mas "Druida da Pocilga" era, sem dúvida, o que tinha mais apelo, e foi o nome que pegou.

A primeira vez que ouvi falar do Druida foi numa sexta-feira, em meio à tradicional confraternização no boteco perto da faculdade. Já passava das quatro da tarde e estávamos todos meio alterados pelo halterocopismo praticado desde as onze horas. Àquela altura, a maioria já tinha ido embora. Só tinha sobrado eu, Farsante, Samba e a Margarete. Os quatro sem assunto, no melhor estilo "será que chove hoje?". Lá do balcão, ouvimos o grito do garçom pra gente: mais uma aí? Olhei pros outros, declarei que minha carteira tava quase vazia, final de mês é foda. O Samba disse a mesma coisa. Só o Farsante tava afim de beber mais, mas aí falou que bancava a saideira, e bom, se ele ia pagar, que bebêssemos. A Margarete, no entanto, se despediu da gente e foi embora antes do garçom trazer a garrafa. Aliás não perdeu nada, porque a cerveja tava quente pra caramba e até me deu um certo enjôo depois de tanta cevada ingerida.

Enfim. Assim que a Margarete virou as costas, o Samba deu o primeiro gole na cerveja e disse sorrindo: Ah... delícia... Na hora pensei, ele só pode estar bêbado mesmo, pra elogiar uma porcaria dessas, mas aí percebi que ele falava era da Margarete e concordei, essa delícia é mesmo uma menina, algo nesse sentido, já estava embolando tudo. Foi quando os olhos do Farsante brilharam. Eu nunca tinha visto os olhos dele brilhando antes. Mas naquela hora brilharam, juro. E ouvi dele a seguinte frase:

- O Druida disse que a minha primeira filha vai ser com ela.

Ora bolas, ele era o Farsante, o maior inventor de lorotas da faculdade. Qualquer um o ignoraria e continuaria saboreando a cerveja quente. Mas eu não encarei aquela declaração dele com o desprezo habitual, mas com curiosidade. Porque ele não tinha dito "A minha primeira filha vai ser com ela", o que seria um simples devaneio, um sonho expressado em voz alta. Ele mencionou um druida, que tinha falado aquilo com ele.

Daí foi a coisa mais estranha. Na mesma hora, quando perguntei "Que druida?", tanto o Farsante quanto o Samba pararam com os copos no ar. Não só os copos ficaram paralisados: um gole de cerveja chegou a empacar na garganta do Farsante, algo raro de se ver por aí. O Samba, que teve a sorte de engolir antes que eu fizesse a fatídica pergunta, foi quem primeiro conseguiu falar alguma coisa.

- Agora deu samba - disse, praticamente em pânico.

Leia o resto da história periodicamente em O Druida da Pocilga.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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