08/10/2005

A história da M8

Parte III - The end of M8 as we know it



Lá pelo final do século XX, existia um programa no Canal 25 chamado "Online". Ele era apresentado por um gordão chamado Cláudio e uma mulher chamada Janaína, e dedicava-se a responder as dúvidas sobre informática que os telespectadores mandavam pelo e-mail ou pelo pager. Quando o Rafael Tadeu apareceu na aula contando que ele e seus irmãos tinham mandado uma pergunta engraçadinha para o pessoal do programa, e que eles leram a pergunta ao vivo, tivemos logo a idéia de entupir o Online de piadas internas e dúvidas esdrúxulas.

Era 12 de novembro de 1999, uma sexta-feira. Na hora do programa, ficamos todos em frente à TV, cada um em sua casa, ligando para a central do bip e ditando à telefonista as perguntas que ela mandaria ao pager da Janaína. Não combinamos nada, quem ia perguntar o quê, as coisas foram simplesmente surgindo.

Se não me engano, a primeira pergunta foi do Adriano: "Meu nome é Ricardo e meu computador tá dando problema no CPK 32D barra BCK8. O que eu tenho que fazer para resolver isso? Gostaria de mandar um beijo para todas as meninas da 801".

O gordão ficou sem saber o que dizer: "Ricardo, essa pergunta sua aí, vou te contar um caso, viu?... Tem que dar uma olhada aí no que seria um CBK... CPK... Realmente, eu nunca vi aí esse tipo de erro acontecer..." Janaína ainda emendou: "Loucura total..."

"Qual a diferença entre M8 e 8M? Queria mandar um abraço para toda a 801 do ICJ. Adriano."

O gordão ficou encurralado novamente: "Depende da pergunta, aí no caso." Um moleque de 16 anos, convidado do programa no dia, tentou ajudá-lo: "8 Mega e Mega 8? Ou então, M8 é o contrário de 8M?". O gordão pelo menos foi sincero: "Não entendi muito não, tem que ver aí sobre o quê que cê tá falando..."

E assim seguiu-se o programa. Por três vezes, Cláudio e Janaína pediram desculpas aos telespectadores e ainda agradeceram a audiência, porque tinham recebido tantas mensagens através do bip que elas estavam sumindo à medida em que mais iam chegando. Leandro Fabel mandou mensagem com o codinome Sidnélson (tirado de uma propaganda do tênis Rainha, "Sidnélson joga tênis!"), eu enviei a minha sob a alcunha de Mário, e o Rafael aproveitou para mandar "um alô pro Lucas, Adriano e Gabriela".

O melhor momento da noite, pelo menos pra gente que sabia dos bastidores, foi quando perguntamos: "Minha impressora está imprimindo antes de terminar o documento. Será que ela está com algum problema de ejaculação precoce?". Depois de um intervalo comercial, disse a Janaína: "Já estamos de volta e estamos rindo aqui do Lucas, Rafael, Gabriela, Leandro e Adriano, que mandaram uma pergunta que só dá pra ler o começo, não dá pra ler o final". Realmente, nunca chegaram a ler na íntegra, mas os três (Janaína, gordão e moleque convidado) rachavam de rir e ela ainda comentou: "Essa impressora tá precisando de ajuda, cara".

Repetimos a brincadeira nas noites seguintes, sempre com perguntas para deixar o pessoal do programa sem graça, ou divulgado nossas próprias piadas internas. Uma vez tinha lá um especialista em Linux, ao qual perguntei: "Gostaria de saber se é possível criar ícones de sistema através do Linux". Claro que eu não tinha idéia do que seriam "ícones de sistema". Nem ele: "Bem, veja bem, é possível criar qualquer coisa através do Linux, e...". Numa outra ocasião, perguntamos pro gordão se ele tinha MIPET. Era uma sigla derivada do primeiro American Pie, que queria dizer "Mãe Ideal Para Eu Traçar". Mas, em vez de MIPET, a mulher do bip tinha entendido WIPET, que é o nome de uma raça de cachorro de corrida. E o pior: o gordão realmente tinha um wipet! "O meu tá lá na fazenda agora, é um cão muito saudável", respondeu ele.

Todos os programas dos quais "participamos" foram gravados por mim numa fita VHS. Mas num momento de descuido, alguns meses depois, o vídeo-cassete da minha avó acionou o botão de gravação sozinho e gravou a novela por cima de tudo. Só restou o primeiro programa, o da impressora com ejaculação precoce.

A M8 terminou com o fim da oitava série. Alguns de nós continuamos no ICJ no ano seguinte, mas vários - como Bruno Pirolli, Larissa, Gabriela e Rafael Tadeu - foram para outros colégios. No primeiro ano, ainda quisemos dar continuidade e formar a "MM". O primeiro M era a inicial da palavra "Máfia" e o segundo se referia às salas "mil e um" e "mil e dois", mas a tentativa não deu certo.

Não que o espírito outlaw tenha se perdido: em abril de 2000, por exemplo, quase fomos expulsos por publicar na Internet um site falando mal dos professores. O curta-metragem trash que produzimos no final do ano, Parte II - O Meio do Fim, continha certas homenagens à M8, como alguns nomes de personagens: Leandro virou Sidnélson e eu virei o doutor Mário, os mesmos pseudônimos que usamos no programa Online.

Mas no final das contas, não foi a professora Célia nem nossa colega Danielle que desbarataram a nossa máfia: foi o tempo. Na suposta comemoração de um ano da M8, em 5 de outubro de 2000, comparecemos apenas eu, Adriano e Gabriela. Comemos uma pizza no BH Shopping. Nos anos seguintes, nem comemorações tivemos. Ainda assim, é engraçado que, todo início de outubro, reapareça um ou outro aluno da 801 mais sumido, ou que aconteça coisas estranhas como a Célia, depois de um derrame e de uma amnésia, relatando a seus alunos da oitava série o que tinham aprontado seus alunos de duas 801 pra trás.

Na última prova aberta de inglês no terceiro ano, eu e um amigo meu combinamos de encher a prova de besteiras. Preenchi todas as respostas com trechos de letras de músicas selecionados, tomando o cuidado de colocar pelo menos um de cada uma das minhas bandas preferidas. Mas terminei a prova não com uma canção, e sim com uma frase: "3001 is the best, M8 lives forever".

Tirei zero.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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