20/11/2005

Cubismo



Um gênero cinematográfico que me atrai bastante é o tal do filme claustrofóbico. Películas que se passam toda num cenário só, geralmente calcadas nos diálogos, nas interpretações e nas relações que se desenvolvem entre os personagens.

Foi pensando nisso que aluguei, esse final de semana, um "clássico" do qual só tinha ouvido falar: Cubo. Clássico é brincadeira, claro. É um suspense recente, que no Brasil nem passou pelos cinemas, e que ganhou um peculiar status de cult nos últimos tempos. A premissa é tão simples quanto bizarra: vários desconhecidos acordam presos dentro de um cubo. Entre eles encontram-se uma estudante, um policial, uma médica, um autista e um famoso ladrão. Todas as salas do cubo, também cúbicas, têm portas em cada um dos lados, que levam a outras salas cúbicas e assim por diante, até a loucura. O filme é canadense, talvez por isso tenha um pé no cinema europeu (no que se refere às relações entre os personagens, no instinto de sobrevivência e da filosofia que se pode tirar disso), mas também uma forte influência roliudiana: em dado momento, por exemplo, um dos protagonistas enlouquece e a tensão passa a ser quem sobreviverá à sua fúria insana.

O mais engraçado é que o DVD de Cubo vem como extra no DVD de sua seqüela, Cubo 2: Hipercubo. Como toda continuação, ela tem mais efeitos especiais, mais viagens, atores mais ruins e roteiro mais caótico. Dessa vez o cubo tem realidades paralelas, salas com velocidades de tempo diferentes e armadilhas que lembram menos Indiana Jones, como no primeiro, e mais O Predador. Existe ainda uma terceira parte da "história", chamada Cubo Zero. Não, obrigado, chega de cubismo por hoje. Mas aceito outro filme claustrofóbico, se tiver aí no cardápio. Alguns exemplares:

Doze Homens e Uma Sentença. (Uma sentença mesmo, não outro segredo). Meu preferido. Traz Jack Lemmon (um dos velhos rabugentos) e mais onze jurados tendo que decidir entre a culpa e a inocência de um jovem acusado de assassinato. O filme se passa inteiramente na salinha que o júri se reúne para deliberar, quase que em tempo real. É, na verdade, a refilmagem de um clássico dos anos 50, que, como quase todo clássico dos anos 50, é muito difícil de se achar nas locadoras. Portanto, conheço apenas a versão de 1997, lançada direto pra tevê, mas brilhante mesmo assim.

Festim Diabólico. Clássico hitchcockiano que se passa todo dentro de um apartamento. Na verdade, Janela Indiscreta também se passa todo dentro de um apartamento, mas como tem vários takes do exterior, ainda que pela janela, acaba sendo menos claustrofóbico que este Festim. O filme se passa em tempo real: tem um corte a cada dez minutos, que era a duração do rolo de filme na época. Conta a história de dois sujeitos que matam um colega e fazem uma festa logo em seguida, montando o bifê, inclusive, em cima do caixão onde jaz o garoto.

Jogos Mortais. Esse é meio claustrofóbico. Meio porque a história principal se passa num banheiro, com dois caras algemados tentando entender o que estão fazendo ali. Mas a trama é também recheada de bifurcações e histórias paralelas, algumas das quais acabam estragando a tensão e o filme (Danny Glover nunca esteve tão bocó). Ainda não vi o dois, que parece ser igualmente centrado num ambiente fechado. A sinopse do jornal Pampulha é bastante convidativa: "O quebra-cabeças continua num jogo, no qual um grupo de pessoas está trancado em um cativeiro. Elas são obrigadas a matar o seu próximo, um a um, enquanto um detetive, ao lado de um mórbido serial killer, tenta descobrir onde elas se encontram. Se mesmo com essa história você ainda acha que compensa assistir ao filme..."

O Quarto do Pânico. Jodie Foster trancada num bunker doméstico com a filha, enquanto ladrões assaltam sua casa (que falta faz Kevin McCallister numa hora dessas...) Passou outro dia na Tela Quente, mas fiquei com sono no meio e preferi tirar uma soneca. Mas minha mãe me mantinha atualizado: "Agora um bandido matou o outro...", "Agora ela saiu do quarto e pegou a seringa dentro da geladeira..."

Destaco ainda:

>> A cena de Kill Bill Volume 2 onde a Noiva é enterrada viva. Na verdade, etimologicamente falando, essa é a única cena realmente claustrofóbica de toda essa lista.

>> O controverso Mar Aberto. Etimologicamente falando, não é nada claustrofóbico, pois se passa, o próprio nome já diz, em mar aberto. Mas é justamente a imensidão do mar e a solidão do casal de protagonistas que nos passa essa sensação.

>> Um episódio de Friends, da primeira temporada, onde Chandler fica preso com uma garota no banco, quando um blecaute assola Nova York. Entre outras coisas, ela tenta ensiná-lo a fazer bola de chiclete. Um dia eu também gostaria de aprender.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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