16/12/2005

War of the remakes


Podem me tacar pedras: não sei fazer bola de chiclete, não sei pular de ponta e não vi a versão original de A Fantástica Fábrica de Chocolates. Mas não me culpem por esse último. Embora vários digam que esse é o maior clássico sessão-tardino de todos os tempos (discordo: desse posto ninguém tira Curtindo a Vida Adoidado), a Globo não passa as aventuras de Charlie na fábrica de Willy Wonka há tanto tempo que nem lembro qual foi a última oportunidade perdida de ver esse filme. Se quiserem me tacar pedra por causa da Sessão da Tarde, taquem por eu ainda não ter visto Os Goonies.

Ontem à noite redimi uma parcela miúda de meus pecados, ao assistir ao remake 2005 da Fantástica Fábrica de Chocolates, dirigido por Tim Burton e estrelado pelo mutante Johnny Depp. Não foi o único remake que vi ontem: aluguei também a versão 2005 do Spielberg para Guerra dos Mundos, e com isso ganhei um cupom para concorrer a um DVD player no final do mês, nunca se sabe, né. Os dois filmes não têm absolutamente nada a ver - exceto pelo fato de que ambos são refilmagens, foram baseados em livros, têm diretores famosos no comando e rostos mais do que conhecidos como protagonistas. Itens mais que suficientes para colocarmos ambos num ringue de batalha e ver no que dá uma luta entre os dois, só pra espairecer. Vejamos:

Fidelidade ao original
Não li o livro cacaueiro de Roald Dahl (nem vi o filme de 1971), bem como não li o relato bélico-alienígena de H. G. Wells (nem vi o filme de 1953). Falo, portanto, com pouquíssimo conhecimento de causa, e não me gabarito para discorrer sobre este aspecto. Pra falar a verdade, nem sei pra quê eu pus essa categoria. Pula.

Premissa básica
Etês invadem a Terra. Crianças visitam uma fábrica de chocolates. Isoladamente falando, a primeira premissa é mais interessante do ponto de vista dramático. Mas já foi usada de tantas e tão variadas formas (só pelo Spielberg, em dois filmes, E.T. e Contatos Imediatos do Terceiro Grau) que o tema já está mais batido que meu carro três meses atrás. Por sua vez, não vejo assim tantos filmes com crianças visitando fábricas de chocolates, que aliás não deixa de ser um tema inusitado e original. Ponto para Willy Wonka.

Protagonista
Tom Cruise vs. Johnny Depp. Ridícula essa. Por mais que falem que não, Cruise faz o mesmo personagem há vinte anos. Enquanto Depp é a maior prova da versatilidade humana na história recente do cinema. Os personagens principais de ambos os filmes têm lá suas semelhanças (ambos são egoístas e têm claras dificuldades de lidar com crianças, por exemplo). Mas o chocolateiro Wonka, com suas frases sarcásticas e seus trejeitos malucos, ganha de mil do operador de guindaste (!!!) Ray Ferrier. Ponto para Wonka.

Principal criança em cena
Freddie Highmore vs. Dakota Fanning. Freddie é o Charlie do título original do filme dos doces (Charlie and the Chocolate Factory), enquanto a jovem Dakota vive a filha de Tom Cruise-Credo em Guerra dos Mundos. Freddie/Charlie mostra-se um bom ator infantil na primeira parte do filme, quando sonha em ganhar o bilhete dourado que vai levá-lo a uma visita à tal fantástica fábrica. Mas praticamente some quando começa a contracenar com Johnny Depp. Já Dakota (ô nominho... se era pra homenagear os Estados Unidos, por que não Carolina ou Virginia?) é claramente melhor que Cruise nas cenas que faz com ele. Ou seja, o filme todo. Ponto para Spielberg.

Coadjuvantes
De um lado, a corja de Tom Cruise: seu filho no filme (péssimo), Tim Robbins (competente, mas nada excepcional) e umas mulheres avulsas (que somem tão rápido quanto aparecem). Do outro lado, a família de Charlie e as criancinhas nojentas e metidas que também ganharam a visita à fábrica, todos caricaturais na medida certa, todos memoráveis. Sem dúvida alguma, ganha a turma de Charlie. Ponto para Willy Wonka.

Personagens esquisitos
Outro que não há dúvidas: os etês de Guerra dos Mundos são asquerosos e metem um certo medo, mas nada é mais bizarro que os Oompa-Loompas, interpretados todos por um só ator. E com o adendo do não menos bizarro idioma natal dos Loompas, que Willy Wonka usa para convidá-los a trabalhar na fábrica dele. Os etês não têm um idioma tão legal assim. Ponto para Wonka.

Trilha sonora
John Williams, antigo comparsa de Spielberg, versus Danny Elfman, antigo comparsa de Tim Burton. Williams já fez temas excelentes (Indiana Jones, Superman, Jurassic Park), mas em Guerra dos Mundos está contido, tímido, a gente quase não percebe que tem música tocando. Por sua vez, Elfman (responsável por Edward Mãos-de-Tesoura, Batman e Simpsons) compôs e cantou todas as musiquinhas cínicas que os Oompas-Loompas dançam (e dublam), o que por si só já garante mais um ponto para Wonka.

DVD
Fantástica Fábrica de Chocolates poderia ter um DVD muito mais completo do que este que está aí, só como extra só tem um trailer e o comercial da trilha sonora (!!). Material pra making-of não faltava, curiosidade para vê-los muito menos. Guerra dos Mundos conta com um disco só pros extras, com trocentos mini-documentários sobre o livro de H.G. Wells, o filme original, e todos os detalhes desta nova versão. Ponto para Spielberg.

Efeitos visuais
Guerra dos Mundos nos mostra uma destruição bem verossímil do nosso pequeno planetinha azul - mas digamos que isso é o mínimo que podemos esperar de um filme-catástrofe. Já a fantástica fábrica é recheada de absurdos detalhes visuais: uma cachoeira de chocolate, esquilos sacanas, um elevador que anda em todas as direções, sem falar na própria direção de arte e na fotografia do filme, magníficas (pra não dizer fantásticas). Mais um ponto para o filme de Tim Burton, o que nos leva ao resultado final:

Uma incrível (e previsível) lavada de seis a dois para Willy Wonka.

Willy Wonka, Willy Wonka
The amazing chocolatier
Willy Wonka, Willy Wonka
Everybody give a cheer!


E que venha o Rei.

   3 comentários :

  1. Silveira12:22 PM

    Vê o dafábrica velho so..
    Tem umas coisas mais legais q esse.. embora esse tb tenha algumas coisas mais legais q o velho..

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  2. Bernardo12:23 PM

    Vamos fundar um grupo de auto-ajuda para aqueles que não sabem fazer bola de chicletes nem pular de ponta.

    Convenhamos que pular de bomba é um milhão de vezes mais legal...

    ResponderExcluir
  3. Leandro Fabel12:25 PM

    Dooompa, dooompa, doooompa dí dû,
    I got a perfect present for you !!!

    ResponderExcluir

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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