17/01/2006

Horas e horas e horas...



Foi em Buenos Aires que estivemos todos juntos pela última vez. Pela primeira também, aliás. Aproveitamos pra tirar uma foto - a mesma pose, com três máquinas diferentes, batidas por uma brasileira que interceptamos antes que ela pudesse integrar a fila do embarque. Depois das treze malditas horas de viagem que se seguiram, com destino a Auckland, na Nova Zelândia, cada um tomou seu rumo. A coisa mais improvável do mundo é que todos se achem reunidos novamente. Cada um era de um lugar diferente do Brasil, ia pra uma cidade diferente na Oceania e ficaria por lá durante diferentes períodos de tempo.

Na ordem da foto:

Rui, de São Paulo, indo passar quinze dias em Auckland (NZ), onde mora a irmã.

Lucas, de Belo Horizonte, indo passar quatro semanas em Mackay, no nordeste australiano, onde mora o pai.

Lúcia, de Goiânia, indo fazer um intercâmbio de sete meses em Auckland.

Luíza, de Santos, indo passar dois meses em Sydney.

Tiago, de Recife, indo passar sete meses em Proserpine, também no nordeste australiano, estudando inglês (se é que é inglês o que falam o pessoal de lá).

E finalmente Bruno, de Beagá, indo com seu primo Lucas passar quatro semanas em Mackay, onde mora o tio.

Bruno e eu deixamos Confins por vias aéreas quase ao meio-dia de 13 de janeiro, com uma hora de atraso. Sessenta minutos depois desembarcávamos em São Paulo, mas tivemos que esperar até as cinco horas pra abrirem o balcão da Aerolíneas Argentinas. Enquanto isso carregamos as malas pra cima e pra baixo, caminhando lentamente, na esperança de que com isso o tempo passasse mais depressa. O almoço foi no Pizza Hut do aeroporto. Eu devia ter lido antes minhas anotações de julho de 2005, aqui mesmo no blog. Na ocasião escrevi: "(...) almoçamos no Pizza Hut do aeroporto (olhos da cara)". Bom, continua os olhos da cara. E não é o pudim que ganhamos "de brinde" que vai tirar essa impressão.

"De brinde" também foram cinco revistas de cinema e turismo que "ganhamos" dum balcão de alguma editora. A promoção era quase tentadora: receberíamos as revistas em casa por meses a fio, sem pagar nada, exceto a taxa do correio, pra mandá-las de San Pablo a Belo Horizonte. Recusamos prontamente depois de uma matemática simples: só de taxas de correio, daria quase uns duzentos reais. Diante de nossa negação, a moça do balcão ofereceu cinco revistas "de graça", em troca apenas de uma pequena contribuição para a formatura dela no final do ano. Duvido imensamente que ela esteja mesmo precisando de dinheiro pra terminar o curso, mas ao menos agora tínhamos material pra ler durante as longas horas de espera.

E tome longas horas. Só na fila do check-in pra Buenos Aires, no balcão da Aerolíneas Argentinas, foram duas. Incrível a quantidade de gente indo pro outro lado do mundo nessa época do ano. Tinha neguinho lá levando umas seis pranchas de surf de uma vez só. A espera acabou dando origem a conversas entre os que estavam próximos um do outro na fila. Começamos um papo rápido com Tiago, de Recife, e logo se juntaram a nós a Lúcia, de Goiânia, e o paulistano Rui. Na nossa rápida passagem pela Argentina, depois de umas três horas de vôo chato, a santista Luíza integrou o grupo. Foi onde tiramos as fotos e pegamos MSNs uns dos outros. Já entrei em contato com vários deles aqui em Mackay.

O vôo para a Nova Zelândia foi chato. Dormi picado, e cada vez que acordava estava com o pescoço doendo, ou a perna doendo, ou não sentia os dedos da mão. No começo do vôo o piloto se desculpou e disse que infelizmente não passariam filmes ou programas durante a viagem. Foram treze intermináveis horas, portanto, sem ter nada pra fazer. Nem ler eu podia: a luzinha do meu assento, e de vários outros, estava estragada. Restavam-me as músicas pra ouvir, só que o único canal de rádio razoável tinha uma incidência altíssima de repetição de canções. Cheguei a escutar quatro vezes a mesma seqüência: "Billy Jean" (Michael Jackson), "People Are Strange" (The Doors), "Space Cowboy" (Jamiroquai) e "Mr. Jones" (Counting Crowes). Acabei enjoado não só das músicas como estomacalmente falando, e as infindáveis turbulências, definitivamente, não ajudavam. Faltando uma meia hora pra pousarmos, vi-me obrigado a usufruir do famigerado saquinho. Maldita Aerolíneas.

Maldita mesmo. A companhia argentina foi incapaz de mandar as nossas bagagens direto pra Austrália. Ao invés disso, "por segurança", preferiram despachá-las pra Auckland, na Nova Zelândia. Como resultado, tínhamos meras duas horas pra pegar as malas e enviá-las pra Brisbane novamente por outra companhia, a Qantas. Só não contávamos com um detalhe: pra botarmos as mãos nas bagagens, teríamos que passar pela imigração, e não tínhamos visto neozelandês. Passamos por cinco pessoas diferentes, cada uma falando uma coisa, até chegarmos à informação correta. No final, uma asiática da Qantas ou da Air New Zealand acabou ajudando a gente e foi, ela mesma, buscar nossas malas pra mandar pra Austrália, não sem uma alfinetada: "O pessoal do seu país não podia mandar a bagagem direto?" Pois é, Kim, eu faço a mesma pergunta.

Após um lanchinho rápido no Burger King do aeroporto neozelandês, entramos no avião da Qantas para um vôo de duas horas e meia até Brisbane. Bem melhor que os anteriores. Tínhamos televisãozinha na frente de cada cadeira passando programas e filmes como A Noiva-Cadáver (que nem em vídeo saiu ainda), músicas muito melhores e até joguinhos. Acabei fazendo amizade com um velhinho da Indonésia que tava do meu lado. Chamava-se Hasannudin, tinha setenta anos e viajava com a esposa para Singapura, após visitar o único de seus seis filhos que mora na Nova Zelândia. Aproveitei a situação inusitada pra tirar uma foto com ele.



Eu e Hasannudin em algum lugar sobre o Pacífico

A fila da imigração em Brisbane estava imensa. Gente de todo canto, indianos, africanos, brasileiros, australianos, e principalmente chineses. Vai ter chinês assim lá na China. Enquanto isso, rezávamos pra que a asiática de Auckland tivesse encontrado e enviado nossas bagagens. Havia uma razão pra preocupação: quando ela foi pegar nossos dados, precisou chamar o colega de balcão umas três ou quatro vezes, pra que ele a ajudasse com o programa de computador. "Meu cérebro não tá funcionando muito bem hoje", desculpou-se. Pelo menos Bruno e eu, felizmente, achamos fácil as nossas duas. O Tiago de Recife não teve a mesma sorte. Ficou lá plantado até parar de sair mala, enquanto simpáticos beagles comandados por homens e mulheres bem menos simpáticos cheiravam as bagagens de todo mundo, inclusive a nossa. Tiago já ia reclamar do sumiço de suas coisas quando descobriu sua mala no chão. Era grande e tinha rolado da esteira, ao invés de educadamente seguir as demais.

A alfândega foi tranqüila, nem precisamos abrir as malas e mostrar que o café que declaramos trazer era café mesmo, não outro tipo de pó. E finalmente, então, Austrália. Antes de curtir o calor infernal, é hora de trocar dinheiro e pedir informações. Precisávamos descobrir o jeito mais barato de chegar ao hotel, já que táxi por aqui é como o Pizza Hut, caro pra burro. A mulher do balcão de informações pra turistas nos indicou um ônibusinho que saía em quinze minutos e não só nos deixava na porta como nos buscava no dia seguinte, pra que pegássemos o avião pra Mackay. O Tiago estava no balcão da Qantas enquanto isso, e depois não o achamos mais. Deduzi (corretamente, como confirmei depois pelo MSN) que tivesse ido pegar o trenzinho pro aeroporto doméstico, já que tinha um vôo dali a algumas horas pra Proserpine. Ou Prossy, como dizem os australianos. Gostam de abreviar tudo. Barbie aqui não é a boneca, mas uma forma menos palavrosa de dizer barbecue. Bundy não é a família de Married With Children, mas o famoso rum Bundaberg. Algumas abreviações beiram o infame, como esse autêntico trocadalho do carilho australiano, que dá nome a uma lanchonete no aeroporto de Brisbane.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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