27/08/2009

Arrivederci



Roma, Itália
18 a 20 de fevereiro de 2007

Quando regressei a Roma depois de alguns dias perambulando por Venezia e Firenze, cumpri a promessa de não pisar novamente no Alessandro Palace e me instalei no Stargate Hostel, na mesma região feia mas bem localizada, perto da Termini. O albergue seguia o esquema que eu já experimentara no Peace & Love de Paris: chuveiro dentro do próprio quarto, sem porta nem nada - mas com cortinas impedindo a exibição das nudezes alheias - e privada no corredor, essas com portas. Outro aspecto marcante do Stargate era seu elevador à moda antiga, com grades de metal ligeiramente enferrujadas. Não quis nem conferir o estado das correntes.

Logo que cheguei, o Efeito Itália fez-se presente mais uma vez: vira e mexe conhecia alguém numa cidade e encontrava por acaso em outra. Foi assim com as duas brasileiras que conheci em Roma e vi de novo em Veneza, o casal australiano de Newcastle que reencontrei casualmente em Florença e esse baiano, com quem bebi no pub crawl de Berlim e topei outra vez nas ruas romanas.

A última noite da viagem - uma segunda-feira de Carnaval! - foi com um apanhado de várias regiões brasileiras: o baiano, os três cariocas que estavam com ele e com quem rodei em Pompéia, e as três gaúchas que conhecemos nas ruínas. Elas sugeriram um bar logo ao lado de onde estavam hospedadas. Ironicamente, se era tão fácil esbarrar a esmo com alguém, foi complicado reunir toda a patota pra sair à noite, sem celular.

Chegamos no tal pub e um rapaz veio saber o que queríamos ali. Ué, tomar uma cerveja? Ele foi lá dentro, consultou um superior e deixou que entrássemos. Senhores com muita cara de mafiosos penduravam seus ternos e nos olhavam de rabo de olho. Olhávamos o cardápio quando a garçonete veio e avisou que, na verdade, todas as bebidas custavam 10 euros. E a gente achando aquilo muito estranho, mas uma das gaúchas estava com muita vontade de beber e acabou pedindo a cerveja mais cara de sua vida - 27 reais por uma long neck. Assim que ela terminou, pegamos os casacos e demos no pé, antes que nos dessem um tiro ou furassem nosso olho, o que viesse primeiro.

Melhor pedida foi o Julius Caesar Pub, que tinha cerveja Guinness mais em conta e tocava de tudo, até uma ou outra música brasileira - uma razoável para cada outra lamentável, mas brasileira ainda assim. Depois saímos todos bêbados, em busca do Yellow Hostel, o albergue onde os cariocas estavam e que tinha um bar para continuarmos a noitada. Após seis quarteirões sem reconhecer um nome de rua sequer, nos demos conta de que andáramos aquilo tudo na direção errada. Tudo bem: eu já tinha feito coisa parecida antes, e sóbrio.

Voltei para o albergue às 4 da manhã, depois de algumas horas de vinho e cavaquinho, confiando no acaso para acordar antes do horário do check-out, que era às 10h. Abri os olhos, assustado, às 11h40. Ninguém no quarto: nem os iranianos, nem o casal do Peru, nem as mochilas e malas de ninguém - exceto as minhas, ainda bem. Desci correndo, pedindo pelamordedeus que não me cobrassem outra diária, e os caras: "Va bene, va bene!", naquele bom humor que você já conhece. Saí pelas ruas apressado em direção à estação, carregando as mochilas, despenteado e com uma já prevista dor de cabeça. Nada mais adequado para encerrar uma viagem do que uma boa ressaca.

Este post conclui a série tardia sobre meu mochilão na Europa em 2007. Para ler todos, clique aqui. A seguir, voltamos com nossa programação normal. Ou quase.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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