19/08/2009

Sweded



Estocolmo, Suécia
7 a 9 + 11 e 12 de fevereiro de 2007


Fui parar na Suécia por conta de uma passagem da Gol de 50 reais.

Mentira, não foi bem assim. A ligação é ligeiramente mais tortuosa: a passagem barata foi para uma viagem-relâmpago de Beagá a Salvador, em 2006, com mais três amigos. No albergue, conhecemos duas meninas de Estocolmo, mantivemos contato pelos MSNs da vida e, quando contei que estava planejando um mochilão para a Europa, elas me chamaram para me hospedar de graça por lá. E como é que eu não vou?

Às dezesseis horas e trinta minutos, já era noite em Estocolmo. E a neve, que tinha tanto ar de novidade na Alemanha, começou a virar a coisa mais corriqueira. Comprar as botas de neve em Berlim provou-se uma decisão acertada: meus tênis ficariam encharcados na mesma hora. Eu só não precisava ter caído na conversa da vendedora e levado também um spray para proteger o couro da bota, porque só usei o negócio uma vez e ele tá lá em casa até hoje, ocupando o guarda-roupa.

A Suécia é um país para se ir de couchsurfing. Os preços não são nada amistosos: pra se ter idéia, uma viagem simples de metrô custa 20 coroas, o equivalente a 5 reais. Por isso, foi ótimo ter economizado em albergue e me abrigado na casa da Sara. Toda hospitaleira, ela fez comida, milk-shake, e apesar de não ser sueca de raiz - nasceu no Sri Lanka! - preparou alguns pratos típicos da terra do Bergman, como o köttbullar (almôndegas suecas) e o semla (doce servido tradicionalmente no primeiro dia da Quaresma). De manhã, saía e deixava bilhetes com instruções detalhadas sobre o café da manhã: "Com fome? Pão [setinha indicativa perto do pão] - 2 tipos diferentes (na verdade também tem torradas no freezer). Um branco que você pode enrolar ou outro marrom. Na geladeira você encontra leite (mjölk), iogurte, e 4 coisas diferentes para você provar com o pão: frango (kyekling), peru (kalkon), salame e queijo". Mordomia pouca é bobagem. Mas ei, eu lavava as vasilhas!


20 köttbullars prontos para o abate.

Estocolmo é um arquipélago formado por 14 ilhas cercadas, no inverno, de água congelada por todos os lados. Eu até peguei uma pedra e joguei na água pra ver se a camada de gelo furava fácil, mas não, ela saiu deslizando em movimento retilíneo uniforme com atrito desprezível. A ilha mais famosa é a Gamla Stan. Como você poderia deduzir se soubesse falar sueco - o nome significa "Cidade Velha" - ela é o centro histórico e, previsivelmente, lar das abundantes lojinhas de souvenirs vendendo alces de pelúcia pra ocupar espaço no avião e estatuetas de vikings pra quebrar na mala. É também na Gamla Stan que fica o Palácio Real, onde você observa os guardas andando mecanicamente de um lado pro outro, como soldadinhos de corda.

Tinha museus interessantes em Estocolmo. Perto da casa da Sara, que ficava em Östermalm, topei com um tal Museu da Música (Musikmuseet), cheio de instrumentos exóticos pra olhar, ouvir e até tocar, além de exibições temporárias, como aquela que homenageava o ABBA. Outro bacana, ali na ilha de Djugården, é o Museu Nórdico (Nordiska Museet), com vários andares e os mais diversos artefatos, de esqueletos a casas de boneca. O mais legal era a exposição temporária com dezenas de coleções de tudo quanto é cacareco: selos, moedas, chapéus, xícaras, brinquedos de Kinder Ovo, artigos do ABBA (pelo visto, eles estão em toda parte).

Mas o museu que mais se destacou ante meus olhos foi o Vasamuseet. O Vasa era um navio de guerra que afundou em sua viagem inaugural, em 1628. O mergulho foi na própria baía de Estocolmo, perto do porto, só que ninguém conseguiu tirá-lo da água e sua localização acabou esquecida (você sabe como era a tecnologia de resgate de embarcações no século XVII). Trezentos e trinta e três anos depois, em 1956, conseguiram achar o navio inteiro, com várias armas de guerra, canhões e, naturalmente, cadáveres. O barcão tá lá exposto no museu: você só não consegue caminhar por dentro dele, mas dá pra ver bem de perto como era e se imaginar limpando o convés. Curiosamente, o museu do Vasa foi uma das duas únicas atrações em toda a viagem que tinha folheto em português (a outra era a Sagrada Família em Barcelona). Nosso idioma era o último de uma lista que tinha sueco, inglês, norueguês, dinamarquês, alemão, francês, holandês, italiano e espanhol.


Depois de Estocolmo fui a Uppsala escorregar na neve e visitar a Pernilla, a outra sueca que conheci na Bahia. Mas depois de dois dias precisei voltar a Estocolmo, para azar da Sara e do namorado dela - o quarto deles ficava no andar de cima e o apartamento não tinha paredes. Eu, deitadão no sofá no andar debaixo, era o legítimo empata-foda.

Mas não tive escolha: é que meu avião da Ryanair para Roma saía de um aeroporto de Estocolmo. Na verdade, não ficava dentro da cidade: era em Skavsta, longe pra cacete, a mais de 100 quilômetros. E o horário não podia ser menos camarada: 6h45 da manhã. Tive que sair às 3h15, tomar um táxi para o City Terminalen e depois um ônibus para o aeroporto. E você achando que os escandinavos eram todos exemplos de cidadania: para entrar no ônibus, peguei uma fila desorganizada e um empurra-empurra de dar inveja à Praça Sete na hora do rush. Pelo visto, a Suécia não fica assim tão longe do Brasil.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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