04/09/2009

Chinese Bureaucracy

Em um mundo ideal, as pessoas sairiam de um país e entrariam noutro como a gente vai de Beagá pra Juatuba: sem vistos, sem alfândegas, sem burocracias prévias. Mas ainda teremos que conviver com taxas consulares e serviços de imigração por um bom tempo. E se a China não tem aquela chatice do visto norte-americano, com entrevista e atestado de não-valadarense, também não é só chegar com sorriso no rosto e entrar sem pedir licença. 

A intenção aqui é detalhar os procedimentos para tirar passaporte, se inscrever numa escola chinesa e pegar o visto. Se você não tem interesse algum em visitar a China um dia, pode pular este post sem peso na consciência. Mas se essas informações forem úteis pra você de alguma forma, acompanhe comigo: 

Passaporte 

Está muito mais fácil que da última vez que fiz, em 2005. Na época, fiquei a tarde inteira na fila da Polícia Federal, passando fome sob um sol de lascar. Agora, pelo menos em Belo Horizonte, o processo mudou e tudo se resolve rápido. Claro que, para isso, o preço quase dobrou: os antigos R$ 89,71 viraram uma facada de R$ 156,07. 

Passo a passo: 

1. Você entra no site da Polícia Federal e agenda um dia pra ir lá. Eu acessei o site numa terça e marquei pra quinta cedo, pra dar tempo de pagar o boleto que você imprime pelo site. 
2. No dia marcado, leve os documentos: identidade, CPF, título de eleitor, comprovante de votação na última eleição, certificado de reservista do Exército, comprovante de pagamento da taxa e passaporte anterior (se tiver e não levar, o preço sobe para absurdos R$ 312,14). 
3. Não precisa mais de foto 5x7 com data, fundo branco, aquela ladainha. Cada guichê agora tem uma câmera digital no tripé, e o cara já tira sua foto na hora. Tire as remelas do rosto antes de ir. 
4. Também não precisa carimbar o polegar: você coloca os dedos num scanner e as impressões digitais vão direto pro sistema. Assim também é a assinatura: você escreve já numa mesinha digitalizadora. 

O passaporte fica pronto em poucos dias. Fui lá numa quinta, e na segunda já recebi um e-mail dizendo que podia buscá-lo.

Inscrição na BLCU 

Se inscrever na BLCU (Beijing Language and Culture University) , a escola onde vou estudar, é relativamente fácil. O bom é que dá pra escanear os documentos e mandar tudo por e-mail, poupando tempo, dinheiro e encheção de saco. O mais trabalhoso - e dispendioso - é pagar a taxa de inscrição, que custa 600 (cerca de R$ 165). Eu tive a sorte de ter uma amiga do meu pai na China, que fez o pagamento pessoalmente e mandou o recibo escaneado. O único outro jeito é portelegraphic transfer , que custa uma boa grana e eu não sei te explicar como faz. 

Documentos necessários: 

1. Passaporte 
2. Passaporte do seu contato de emergência (no caso, meu pai) 
3. Formulário de admissão preenchido, com foto 3x4 
4. Diploma acadêmico, se tiver (finalmente o meu serviu pra alguma coisa!) 
5. Recibo de pagamento da taxa de inscrição 

Enviei tudo por e-mail no dia 10 de junho. Eles dão um prazo de 2 meses pra responder, mas 19 dias depois já tinha chegado o envelope na minha casa, com carta dizendo que eu fui aprovado, formulário pra encaminhar para o Consulado na hora de pedir o visto e até mapinha da universidade. 

Exames médicos 

Sim: para pisar na China você tem que fazer exames médicos. E se descobrir que é HIV-positivo, melhor escolher outro lugar pra passar as férias - simplesmente não deixam entrar quem é portador do vírus. Mas pra pedir o visto não basta só um exame de sangue. E é melhor que tenha convênio, porque senão é mais uma grana que vai pelo ralo. 

A lista que tive que seguir: 

1. Consulta com uma médica - acho que era clínica geral. Nessa primeira visita, só me passou três pedidos de exames para eu fazer por fora, enquanto ela saía de férias e passeava pelo deserto do Marrocos. 
2. Exame de sífilis e HIV: tirei sangue numa sexta de manhã, peguei o resultado segunda à tarde. Preço: R$ 48. 
3. Raio-X de tórax: fiz numa quinta, peguei na sexta. R$ 84. 
4. Eletrocardiograma: fiz numa quarta, peguei na sexta. R$ 20. 
5. A consulta propriamente dita com a médica. Mediu peso, altura, pressão, pôs estetoscópio no meu peito e costas, fez exame de vista (letrinhas à distância) e de daltonismo (abriu uma página na internet com as famosas bolinhas coloridas e pediu pra identificar os números). Ela cobrou R$ 200 para um exame que qualquer vestibulando de Medicina faria. E pra preencher o formulário em inglês. 

Fora isso, ainda tomei vacina de febre amarela e fui na Anvisa trocar meu cartão pelo certificado internacional. Esse não tem taxa não. 

Visto chinês 

Resolvi tirar o visto através de um despachante depois de notar a boa vontade dos consulados chineses no Brasil. Pra se ter idéia, você liga e diz "Bom dia, quem fala?" e a mulher responde: "Não preciso falar meu nome, não". Por isso, melhor evitar a fatiga e mandar por um intermediário acostumado a fazer aquilo todo dia. 

Documentos necessários (e nada de escanear e mandar por e-mail, todos têm que ser originais): 

1. Passaporte 
2. Formulário que a escola mandou, mais a carta dizendo que eu fui aceito 
3. Formulário médico devidamente preenchido (não precisa anexar raio-X, eletrocardiograma, só o formulário mesmo) 
4. Duas fotos 3x4 
5. Taxa de R$ 210, relativo ao visto de uma entrada 
6. Passagem (não sei se é obrigatório, mas eu já estava com a minha e mandei junto) 

Solicitei o visto com validade pra 6 meses, que é o tempo de duração do meu curso, mas eles só me deram o de 30 dias e recomendaram que eu procurasse o serviço de imigração chinês com a documentação da minha escola pra poder estender o visto. É aquela história: se pode complicar... Pelo menos, veio rápido: em uma semana, o passaporte já tinha voltado às minhas mãos.


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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