15/02/2011

Camarão com coco, camarão com pimenta, camarão frito, tempurá de camarão...

A mãe de Forrest Gump estava certa e a vida é mesmo uma caixa de chocolates - "você nunca sabe o que vai encontrar". Pois eu não esperava encontrar logo em Hong Kong o restaurante Bubba Gump, uma idéia proposta por Bubba ao seu amigo Forrest quando ambos combatiam no Vietnã.

 

A franquia surgiu primeiro na ficção. O adendo é necessário porque o filme de Robert Zemeckis (baseado no livro homônimo de Winston Groom ) é uma salada que mistura personagens, fatos e marcas reais com outras completamente inventadas, então nunca se sabe. Mas não: o primeiro "Bubba Gump" só abriu em 1996, dois anos depois do lançamento e do sucesso estrondoso de "Forrest Gump - O Contador de Histórias". E ao contrário da réplica do Central Perk de "Friends" em Beijin g, fruto do trabalho de um fã obcecado, o Bubba Gump é coisa oficial, licenciada pela Paramount Pictures e tudo mais. 

No filme, você lembra. O beiçudo amigão de Forrest no exército, Benjamin "Bubba" Blue, era maníaco por camarões e sonhava em abrir seu próprio negócio após a guerra. " O camarão é a fruta do mar ", dizia ele entre um tiro e outro. " Você pode assá-lo, cozinhá-lo, tostá-lo, fritá-lo, grelhá-lo. Existe camarão com abacaxi, camarão com limão, camarão com coco, camarão com pimenta... sopa de camarão, cozido de camarão, salada de camarão, camarão com batatas, hambúrguer de camarão, sanduíche de camarão... " Só que o Bubba não sobrevive à guerra (spoiler! ops, já foi) e o Forrest resolve tocar o negócio sozinho, com a ajuda do tenente Dan. O Bubba Gump vira um sucesso inesperado e aparece até na capa da revista Fortune. 


"Ói eu aí!" 

No mundo real, a história é bem menos romântica: empresários resolveram faturar uns trocados e abriram Bubba Gumps a rodo para atrair os fãs do filme. 

Bom, funcionou: hoje existem 32 restaurantes da franquia pelo mundo, sendo 22 nos Estados Unidos e os outros espalhados pelo Japão, México, Malásia, Filipinas, Indonésia e Hong Kong. Eu sabia que a rede existia nos EUA, mas só folheando umas propagandas no balcão de informações turísticas de Hong Kong é que fiquei sabendo que a ilha também tinha o seu. Fã do filme e mais ainda dos crustáceos, tive que ir lá conferir. 

Entrada do restaurante: a logomarca com o camarãozinho feliz e uma réplica do banco onde Gump passa o filme inteiro contando suas histórias.


Uma plaquinha no banco reproduz uma citação nada redundante do personagem:


O interior: clima de restaurante americano, com clientes asiáticos e decoração de Natal.


A mesa também tem sua dose de citações - como essa aí, " a única coisa boa de ser ferido na bunda é o sorvet e" (?!) - mas o melhor é o cardápio de bebidas, embutido numa raquete de pingue-pongue.


Tem até caipirinha! (Com direito à pronúncia para ajudar os gringos: kai-pur-een-ya )


Genial: se você não precisa que o garçom pare na sua mesa, deixe esta placa à mostra:


Mas se quiser que ele atenda algum pedido, é só trocar para esta: (eu testei e funcionou!)


Um balde com a logo da franquia vem com catchup e... papel higiênico? Calma, é papel-toalha. Não confunda com aquele outro restaurante .


A imensa maioria das opções do cardápio vem com camarões, peixes ou frutos-do-mar. Mais perdido do que o soldado Gump no Vietnã, pedi ajuda ao garçom e ele me sugeriu este combo chamado "Shrimper's Heaven". São quatro cones com as opções que deram título a este post, adornados por molhinhos diversos. Teve bão.


Essa foto tá horrível, mas não poderia deixar de citar a folha de jornal que vem debaixo dos pratos, cheia de notícias relacionadas aos eventos do filme, como a Guerra do Vietnã e o sucesso de Gump no futebol americano.


"Idiota é quem faz idiotices". As paredes do Bubba Gump têm um monte de citações e fotos do filme...


...além de roupas supostamente usadas pelos atores nas filmagens. Espero que sejam as peças originais e cada restaurante da franquia tenha modelos diferentes, mas não me surpreenderia se alguém me falasse que foi em outro Bubba Gump e viu as mesmas roupas.

Enfim: estavam lá a farda de Bubba no Vietnã...


...a roupa do tenente Dan quando era imediato do barco de pesca "Jenny"...


...o uniforme de futebol americano de Forrest...


...e a roupa completa - boné vermelho do Bubba Gump, camiseta amarela, tênis Nike - usada quando ele atravessou os Estados Unidos correndo.


Na saída do restaurante, é claro, uma lojinha de souvenirs aguarda o cliente. Estão lá as camisetas, as plaquetinhas de "Run Forrest Run", os camarõezinhos de pelúcia, os porta-copos com citações do filme. Como eles não são bobos nem nada, dá até pra comprar online .
 

11/02/2011

No ringue: Star Ferry vs. Peak Tram

 

VS.

  
Os dois meios de transporte mais icônicos de Hong Kong são o Star Ferry e o Peak Tram . São tão icônicos que aparecem nos guias não apenas como transporte, mas como atrações da cidade. Os leitores da revista Time Out elegeram ambos como duas das sete maravilhas hongkongueanas - o Peak Tram ficou em sexto e o Star Ferry papou a primeira posição. É tanta fama e tanto elogio que resolvi colocar os dois no ringue: numa disputa entre a balsa que conecta a Ilha de Hong Kong à parte continental da cidade e o bonde que leva os visitantes ao topo do Victoria Peak, quem ganharia? 

Relevância histórica 
Em comparação com outras atrações de Hong Kong, a balsa e o bonde são dois bisavós. Ambos não só remontam ao final do século 18, como datam incrivelmente do mesmo ano – 1888. A Star Ferry Company começou a transportar passageiros pelas águas da ex-colônia britânica quase ao mesmo tempo em que a Hong Kong High Level Tramways Company inaugurou o seu bondinho para levar a galera pelo Victoria Peak. A bem da verdade, não é um bondinho – o nome mais preciso é “ funicular”, que designa um carro que circula sobre trilhos e é puxado por cabos. 

A lógica me manda declarar empate técnico nesta categoria, mas como o funicular foi o primeiro do tipo na Ásia – e o Star Ferry, bem, é só um barco – vou dar o ponto para o bondinho. 

Visual 
É uma questão de gosto pessoal, né? O visual do Peak Tram é sóbrio: ele é quadradão e tem uma cor meio bonina (nú, tinha uns quinze anos que eu não usava essa palavra). O modelo atual, na verdade, existe apenas desde 1989 e é a quinta geração de bondes – antigamente eles eram verdes. Já o ferry boat é bicolor: verde no andar de baixo, branco no de cima. 

Meu voto vai pela singularidade. Bondes boninas existem às pencas por aí, mas barquinhos com as cores da bandeira da Nigéria chamam mais a atenção. Ponto para a balsa. 

Nomes 
De um lado, The Peak Tram. Do outro, uma frota de doze barcos diferentes, todos com nomes terminados em “Star”. Eu andei em dois – Northern Star e Morning Star. Entre outros nomes, temos Celestial Star, World Star, Twinkling Star, Shining Star, Glowing Star. Particularmente, preferiria se eles não soassem como nomes de canções da Disney e passeassem por outras influências – tipo Ringo Star, Jesus Christ Super Star, por aí. Mesmo assim, é pra diversidade de nomes que vai o meu ponto. 

Preço 
O ferry custa apenas 3,50 dólares de Hong Kong (R$ 0,75), e isso para o deck superior, que é mais oneroso. O bondinho nos arranca sete vezes isso – são 25 HKD (R$ 5,35) só de ida. Vitória indiscutível do Star Ferry. 

Utilidade 
O Peak Tram serve como ligação entre a Ilha de Hong Kong e o topo de sua montanha mais alta, o Victoria Peak. Há outras formas de subir: embora as liteiras tenham sido aposentadas há um tempão, dá pra subir de carro, de busão ou mesmo a pé. Os trajetos que o Star Ferry faz também podem ser percorridos de outras formas, incluindo táxi e metrô. Mas só de oferecer múltiplos itinerários (são quatro), já vale o ponto para o barquinho. 

Fila pra entrar 
Tanto o bonde quanto os barcos vêm com uma freqüência boa, a cada dez minutos ou coisa assim. Mas a frota de embarcações é bem maior, reduzindo o tempo de espera e o empurra-empurra. As fotos abaixo não me deixam mentir: mais um ponto para o ferry. 


Quatro aqui... 

...trocentos cá. 

Entretenimento antes de entrar 
As estações do Star Ferry são como qualquer estação de transporte: uma lanchonete, uma máquina de refrigerante, etc. Conveniente, mas nada de especial. Já na fila para o Peak Tram, montaram um pequeno museu, exibindo objetos e cartazes antigos relacionados à história do bondinho. Finalmente o bonde marca uma! 


Toy Story, literalmente. 


O Central Pier: bonitão, mas sem mini-museu. 

Conforto 
Nenhum dos dois é assim um sofazão da casa da vovó. Há quem tenha problemas em barcos e passe mal com o primeiro sacolejo. Eu achei tranqüilo, e se as cadeiras são duras e com encosto baixo, pelo menos não há muitas pessoas e a viagem transcorre na boa. O bonde tem bancos melhores, mas é um pouco claustrofóbico: a subida é inclinada, tem muita gente lá dentro e a geringonça pára de tempos em tempos. Sem querer pegar no pé do bonde, mas é pro barco que vai meu ponto. 


Pelo menos dá pra respirar. 

Vista 
Aqui era de se esperar que o Peak Tram ganhasse. Afinal, ele sobe mais de 500 metros em pouco mais de dez minutos, e permite ao passageiro uma vista magnífica do mar e das ilhas que compõem Hong Kong. Mas isso se você consegue sentar do lado direito do bonde. Eu peguei o esquerdo e só encarei paredes mal cuidadas de prédios, quase colados na minha janela. Enquanto isso, as cabeçorras e os braços erguidos com máquinas fotográficas obstruíam minha visão do lado esquerdo – todo mundo exclamava óóóó, que bonito, e eu não via bulhufas. 


Tá vendo a paisagem? Nem eu. 

O ferry não tem vista aérea, mas só de ser aberto dos dois lados e permitir que todo mundo possa admirar a paisagem, ganha meu voto. 

 

Destino final 
O Star Ferry é um transporte como qualquer outro: ao desembarcar, você escolhe pra onde caminhar e pronto. O Peak Tram, já indica o nome, leva você ao topo do Victoria Peak, onde – aí sim – você tem uma vista excelente da cidade , pode visitar museu de cera , comprar bugigangas temáticas e jantar em restaurantes temáticos. Aqui o bonde faz mais um golzinho de honra. 

O RESULTADO 

 

Que lavada. Star Ferry 7 x 3 Peak Tram. 

Meu conselho: se for pra Hong Kong, passe reto pelo bonde e suba o Victoria Peak de ônibus, que é mais barato e leva ao mesmo lugar. Mas não deixe de singrar as águas hongkongueanas no Star Ferry. A não ser que passe mal com o primeiro sacolejo. 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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