26/01/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 4

Os filmes que vi entre 16 e 25 de janeiro (uma viagem no feriado arruinou minha média de 1 por dia, mas quem sou eu pra reclamar) incluem uma animação da DC Comics, o primeiro Planeta dos Macacos (decidi rever este original e assistir ao restante da série), um clássico do De Palma, um dos poucos Nolans que não tinha visto (acho que agora só falta o primeiro, Following) e um dos 9 candidatos a Melhor Filme no Oscar 2012 - como no ano passado, pretendo ver todos antes da cerimônia, e até agora só tinha assistido Meia-Noite em Paris.


BATMAN - ANO UM (Batman: Year One, EUA, 2011, dir. Sam Liu e Lauren Montgomery)
A DC vem lançando longas animados em vídeo com seus principais personagens nos últimos anos, e este, primeiro que vejo, adapta quadro a quadro a clássica Batman – Ano Um de Frank Miller e David Mazzucchelli. Estão lá todas as cenas, todas as falas, todos os detalhes, sem tirar nem pôr – e isso tem um lado bom e outro ruim. Bom porque a história é ótima e não há espaço para simplificações ou invencionices, e tudo o que não podia existir na mídia impressa (vozes, trilha, efeitos sonoros) é feito direitinho. Ruim porque o projeto não extrapola em nada a obra original, quando tanto a duração do filme (apenas 60 minutos) quanto da trama (que cobre um ano inteiro) seriam motivos bem justificados para aprofundar personagens e conceitos. Do jeito que ficou, e pela própria natureza pouco ambiciosa do projeto, feito para ser lançado direto em DVD, a impressão é de que Batman - Ano Um é uma animação competente, mas a maior parte dos seus méritos vem mesmo dos quadrinhos. Nota 3/5


O PLANETA DOS MACACOS (Planet of the Apes, EUA, 1968, dir. Franklin J. Schaffner)
Incomodam alguns exageros, como o excesso de zooms e o notório overacting de Charlton Heston. Mesmo assim, O Planeta dos Macacos original é ficção científica de primeira, com uma história contada com calma, trilha atonal nervosa, maquiagem que ainda convence após 44 anos e um final-surpresa hoje ultraconhecido (a capinha do DVD já solta o spoiler descaradamente), mas que é legal pra caramba. Também me agrada como todas as semelhanças entre macacos e humanos – eles falam inglês, andam a cavalo, usam armas de fogo – fazem sentido dentro da lógica do filme, ao contrário de tantos outros exemplares do gênero. Nota 5/5


SCARFACE (EUA, 1983, dir. Brian De Palma)
Filmão de gângster com Brian De Palma no auge (7 anos após Carrie, 4 antes de Os Intocáveis) e Al Pacino interpretando novamente um mafioso, depois de dois O Poderoso Chefão. Mas Tony Montana é um personagem bem diferente de Michael Corleone, ficando mais entre um Sonny (pelo temperamento explosivo) e um Vito (por ter construído do nada sua carreira no crime). Enquanto Michael falava baixo e usava os olhos para impor respeito, Tony é impulsivo, muda de humor em questão de segundos, grita com os cantos da boca virados pra baixo. O filme é longo mas jamais cansativo, repleto de falas clássicas ("Say hello to my little friend" é só a última delas) e cenas violentas, mas visualmente impecáveis – com destaque, claro, para os últimos instantes de Tony Montana. Nota 5/5


O GRANDE TRUQUE (The Prestige, EUA/Reino Unido, 2006, dir. Christopher Nolan)
Como em Amnésia e A Origem, a estrela é o roteiro engenhoso dos irmãos Nolan, que mescla com competência flashbacks, plot points e revelações que alteram, em retrospecto, nossa percepção da história. Christian Bale e Hugh Jackman estão ótimos como dois mágicos rivais que vivem num incessante jogo vingativo que lembra o Spy vs. Spy da revista Mad. Das duas grandes revelações da cena final, uma funciona muito bem e nos dá vontade de rever o filme todo, enquanto a outra decepciona por ser extremamente implausível e bandear para um estilo sci-fi (ou, neste caso, "steampunk") que infelizmente destoa de todo o resto. Nota 4/5


A ÁRVORE DA VIDA (The Tree of Life, EUA, 2011, dir. Terrence Malick)
É o 2001 de Malick. As semelhanças não estão no conteúdo – que focam na relação conflituosa entre pai e filho numa família americana dos anos 50 – mas na forma, no ritmo e até nas reações dos espectadores. Aqui também temos grandes saltos temporais, questões filosóficas e existenciais, um uso poético de efeitos especiais (meu preferido é quando Jessica Chastain dança no ar), uma visão da Terra pré-histórica e do espaço (até Júpiter reaparece aqui; não por acaso, os efeitos à moda antiga foram feitos pelo mesmo Douglas Trumbull de 2001), um roteiro que não se preocupa em se explicar, música clássica a rodo, belíssima fotografia, ritmo lento, muito simbolismo e um final onírico, meio malucão. Não me admira que o cara que entra no cinema esperando um típico blockbuster do Brad Pitt ache um saco, e que as opiniões do público se polarizem entre o ambicioso e o pretensioso. Eu gostei, minha seqüência favorita sendo a que vai do início da vida na Terra ao desenvolvimento da família de Pitt e Chastain – mas, assim como 2001, assistindo só uma vez não dá pra dizer que pude digerir tudo. Nota 4/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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