08/02/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 7

Filmes vistos na primeira semana de fevereiro:


AJUSTE FINAL (Miller's Crossing, EUA, 1990, dir. Joel & Ethan Coen)
Um filme de gângster que só não fez o sucesso merecido porque teve a infelicidade de estrear junto com Os Bons Companheiros – isso é que é timing ruim. O roteiro é intrincado mas não é difícil de seguir, girando em torno do personagem de Gabriel Byrne e suas idas e vindas de uma gangue para outra. O grande destaque no elenco é John Turturro, que aparece pouco mas sempre rouba a cena. A fotografia (de Barry Sonnenfeld, futuro diretor de Homens de Preto) e a montagem (que aqui não é dos Coen como de praxe, mas de Michael R. Miller) criam transições belíssimas como em uma cena crucial no "Miller's Crossing" do título original. Nota 4/5


BATMAN - O HOMEM-MORCEGO (Batman, EUA, 1966, dir. Leslie H. Martinson)
O único longa-metragem com o Batman e Robin de Adam West e Burt Ward tem todos os ícones camp do seriado de TV: a galhofa, as piadas infames, os bordões do Robin ("santa festa a fantasia!"), as onomatopéias pipocando na tela, os milhares de bat-trecos. Batman enfrenta nada menos que quatro vilões (toma essa, Joel Schumacher!): Coringa, com aquele bigodinho safado sob a maquiagem; Pingüim, com seus gritos de qüen-qüen e disfarces infames como "P. N. Gwynne"; Mulher-Gato (que aqui não é a Julie Newmar da TV, mas uma Lee Meriwether que capricha no sotaque russo de sua falsa alter-ego Kitka); e Charada, responsável por charadas tão ridículas, mas tão ridículas, que acabam sendo ótimas. Um exemplo: "O que é amarelo e escreve?" E o Robin: "Uma banana esferográfica!" E o Batman: "Precisamente, Robin! O único significado possível." Os bat-trecos não são apenas absurdos, mas aparecem todos identificados com plaquinhas redundantes: "instant costume change lever", "bat-escada", "bat-spray repelente de tubarão" (sem falar em bat-sprays repelentes de baleia, arraia e barracuda). A história é uma sucessão de cenas nonsense, culminando na "desidratação" do Conselho de Segurança de um órgão estilo ONU – todos os delegados viram pozinhos coloridos. E as coincidências do roteiro? O batcóptero sofre uma pane mas aterrissa em terreno macio; quando vão ver, caíram sobre a "Convenção de Atacadistas de Espuma de Borracha". Batman – O Homem-Morcego sabe que é infame, e se diverte muito com isso. Nota 4/5


UM DRINK NO INFERNO (From Dusk Till Dawn, EUA, 1996, dir. Robert Rodriguez)
São dois filmes em um. A primeira metade é bem tarantinesca, com diálogos espertos e situações tensas – seu Quentin, não por acaso, escreveu o roteiro e é um dos personagens principais. George Clooney faz aqui sua estréia no cinema, meio tardiamente e já agrisalhando. A segunda metade muda o tom completamente e abraça o trash sem pudor, com direito a pistola de água benta, guitarra feita de membros humanos, muita gosma e mortes absurdas. O conceito dois-em-um ganha pontos por ser original e reverter expectativas, mas com isso o filme perde um pouco a unidade e acaba sendo só um bom divertimento. Nota 3/5


O AMOR CUSTA CARO (Intolerable Cruelty, EUA, 2003, dir. Joel & Ethan Coen)
Este é o mais próximo que os Coen chegaram de fazer uma comédia romântica – e mesmo assim, só o terceiro ato pode ser encaixado nessa classificação. George Clooney e Catherine Zeta-Jones estão ótimos como o advogado canalha e a beldade atrás de marido rico, e os coadjuvantes incluem uma galeria de personagens bizarros típicos dos Coen: o detetive particular, o "barão" afetado, o velhinho advogado com o pé na cova e o assassino asmático. Só há uma cena de morte no filme mas é uma das mais criativas (e das mais inverossímeis) da carreira dos irmãos. E os diálogos estão cheios de pérolas como essa:
"Attila the Hun, Ivan the Terrible, Henry the Eight – what did they have in common?"
"The middle name?"
Nota 4/5


MATADORES DE VELHINHA (The Ladykillers, EUA, 2004, dir. Joel & Ethan Coen)
Filme com a pior reputação da carreira dos Coen, Matadores de Velhinha é sem dúvida irregular, mas funciona como bom passatempo de humor negro. A quadrilha de bandidos bizarros é heterogênea: Tom Hanks está quase sempre ótimo como o eloqüente Professor Dorr (deslizando apenas nas risadinhas de Sheldon Cooper), J.K. Simmons só não funciona quando é obrigado a encenar piadas de peido, e o General feito pelo hongkonês Tzi Ma é excelente e responsável por pouquíssimas e memoráveis falas (a do provérbio budista me fez gargalhar sozinho). Por outro lado, Marlon Wayans e principalmente Ryan Hurst (o brutamontes bobalhão) parecem muito fora de lugar num filme dos Coen. O roteiro depende de coincidências demais, mas a intenção é ser mesmo galhofa, e mesmo um Coen menor ainda vale a pena conferir. Nota 3/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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