01/09/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 29


BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE (The Dark Knight Rises, EUA/Reino Unido, 2012, dir. Christopher Nolan)
É um filme de super-herói tão atípico que nem dá pra inclui-lo nesse, digamos, subgênero. O próprio Batman faz poucas aparições antes do final épico. A paleta de cores segue o clima soturno: é tudo preto, cinza, pardo, sem deixar espaço para cores mais vivas como o verde do cabelo do Coringa. Dá pra contar nos dedos os momentos de humor – uma piadinha de Lucius Fox aqui, outra do Batman com a Mulher-Gato acolá. Definitivamente não é um filme que você vai pra se divertir, mergulhar num mundo de fantasia e esquecer da vida por algumas horas. É pesado, sombrio, pra baixo, que vai deixar poucas crianças com vontade de ser o Batman. Isso está longe de ser um problema, é só uma característica. Ressurge continua sendo um filme muito bom e consistente e um final extremamente digno para a trilogia. Nota 4/5
(Resenha completa no Cinema de Buteco)


BATMAN ETERNAMENTE (Batman Forever, EUA, 1995, dir. Joel Schumacher)
Bastam dois minutos de falsa seriedade para que o primeiro diálogo (Alfred: "Não quer levar um sanduíche, senhor?" Batman: "Eu passo num drive-thru") mostre que o tom será bem diferente dos filmes de Tim Burton. As tentativas de humor estão por toda parte e quase sempre falham vergonhosamente. Schumacher abusa das cores, dos ângulos tortos (sempre que há uma ameaça ou vilão, à la série dos anos 60) e da boa vontade do espectador. Em sua primeira aparição, Batman não está nas sombras, escondido da população – está no meio da rua, sendo apresentado a uma Nicole Kidman que passa o filme inteiro migrando suas paixonites de um lado pro outro como se estivesse em Malhação: "Eu gosto do Bruce!" "Agora gosto do Batman!". Se a escalação do Robin como um marmanjão é bem duvidosa (Val Kilmer tinha 35 anos, Chris O'Donnell tinha 25! Precisava mesmo ir morar na Mansão Wayne?), ainda piores são as desculpas para ele encontrar a Batcaverna e se tornar um super-herói (descuidado e desobediente, Alfred deve ser o pior mordomo do mundo). O subtexto gay não atinge apenas a dupla dinâmica, mas a bandidagem também: Charada e Duas-Caras parecem um casal, um cheio de trejeitos, outro com metade do rosto cor-de-rosa e soltando risadinhas calcadas em Cesar Romero, os dois abraçadinhos planejando o próximo crime. Das poucas coisas que se salvam, o novo tema musical de Elliot Goldenthal é até bacana. Mas o de Danny Elfman ainda era melhor. Nota 2/5


OS BONS COMPANHEIROS (Goodfellas, EUA, 1990, dir. Martin Scorsese)
"De Niro, Pesci, rock dos bons e comida italiana: este é o Scorsese mais scorsesiano", escrevi no Twitter há mais de um ano. É óbvio que o diretor passeia brilhantemente por outros universos (do boxe a Jesus Cristo), mas o crime organizado nas telonas é um território que ele domina, e Goodfellas, que apresenta o submundo da máfia de forma estilizada e quase didática, cheia de cenas marcantes ("Funny how?") e pequenas histórias ligadas pelo tema central, é o filme do tio Marty mais representativo desse seu subgênero particular. Nota 5/5


O DITADOR (The Dictator, EUA, 2012, dir. Larry Charles)
Depois de Brüno não convencer como mockumentary da forma como Borat fez com primor, Sacha Baron Cohen e Larry Charles migram para uma comédia de estética "normal", sem pretensões de enganar ninguém (mesmo que a abertura seja bem similar à de Borat). Assim, O Ditador acaba virando um filme mais comum, com atores conhecidos (John C. Reilly, Ben Kingsley) representando papéis que não são versões de si mesmos (embora bom mesmo seja ver as pontas nada gloriosas de Megan Fox e Edward Norton). Cohen entrega uma performance impecável como sempre: é o único comediante de verdade no filme e todas as piadas que funcionam são suas. As mais hilariantes são justamente aqueles que têm uma triste conexão com a realidade ("Where is the trash can?") e com a política – não sobra pra ninguém, de déspostas e terroristas a democratas e vegans. Já as situações que não têm nada a ver com o tema (como a masturbação) não provocam tanta graça, assim como quase sempre falham as tentativas de humor dos personagens coadjuvantes. Cohen se sai bem melhor quando é a única figura bizarra e fora de lugar, compartilhando a piada somente com o espectador. Nota 3/5


A ERA DO RÁDIO (Radio Days, EUA, 1987, dir. Woody Allen)
Uma coleção de pequenas anedotas compiladas por Woody Allen com base em suas próprias memórias, A Era do Rádio pode não ser estritamente autobiográfico no sentido de aquelas histórias terem ocorrido de verdade, mas evocam com carinho e nostalgia o espírito de uma época que já se foi. Woody narra o filme mas se coloca na história não em sua própria pele, mas na de um garoto (Seth Green, ainda moleque). As anedotas têm o rádio como pano de fundo, usando uma seleção certeira de músicas (tem até Carmen Miranda e "Tico-Tico no Fubá"!) e fatos reais, como a famosa transmissão de A Guerra dos Mundos por Orson Welles. Os personagens provocam tanta empatia que rapidamente nos familiarizamos com eles; é como se morássemos naquela casa onde todos passam o dia metendo o bedelho na vida do outro e cutucando o próximo com tiradas mordazes, mas nunca ofensivas. A gente sabe quando um filme é bom quando só se passaram 20 minutos e já não queremos que acabe. Nota 5/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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