15/10/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 31

Estou atrasadaço com meus comentários filmísticos (não que alguém leia, mas foi uma promessa de ano-novo...). Cá estão os filmes vistos entre 1 e 6 de setembro:


BAMBI (EUA, 1942, dir. David Hand)
Muitas características de Bambi seriam recicladas meio século depois em O Rei Leão: o nascimento de um “príncipe”, os animais da floresta se reunindo pra ver, a trágica morte da mãe (ou pai, no caso de Simba), o amadurecimento do personagem-título. As cenas são bem dirigidas e a fotografia traz cores e sombras que contrapõem com eficácia as diversas estações do ano/fases da vida. Bambi tem menos humor do que Branca de Neve, Pinóquio ou Dumbo, e sua primeira metade é bem mais infantil: só quando os personagens estão crescidos é que se brinca mais com gags visuais. O filme é curto, mas os conflitos são pontuais – a ameaça do Homem, o confronto com outro veado (opa), o incêndio na floresta –, fazendo com que o roteiro não seja tão bem amarrado. Mas embora hoje seja pouco visto e seu nome mais usado pra fazer piada, Bambi vale uma redescoberta. Nota 4/5




A MARCA DA MALDADE (Touch of Evil, EUA, 1958, dir. Orson Welles)
Mais um filme de Orson Welles que sofreu nas mãos dos estúdios, com trocentas remontagens e alterações, A Marca da Maldade foi finalmente montado nos anos 90 como seu diretor queria. Talvez seja um dos últimos noirs da “era clássica”, trazendo Charlton Heston como um investigador mexicano (!) metido em uma conspiração e Welles, gordaço, como o antagonista. A célebre cena inicial, um plano-seqüência primoroso, dá início ao plot intrincado envolvendo o assassinato de um figurão. Mas a trama principal é mesmo o confronto que se desenrola entre Heston e Welles, ambos policiais, que culmina em um final bastante irônico para o personagem de Welles. Nota 5/5


A EXPERIÊNCIA (Das Experiment, Alemanha, 2001, dir. Oliver Hirschbiegel)
Das Experiment foi baseado em um experimento psicológico real que tinha tudo pra dar errado, e deu: homens comuns são divididos em dois grupos, guardas e prisioneiros, e precisam agir como se esses papéis fossem de verdade. Já prevemos desde o início que os participantes vão começar a levar aquilo tudo a sério demais, mas ainda é interessante acompanhar o desenvolvimento da trama e das questões que ela propõe: por exemplo, o sadismo é inerente ao homem? Quando o filme peca, é principalmente no roteiro, ao optar pelo maniqueísmo de prisioneiros-mocinhos versus guardas-bandidos, ausentar o professor-chefe em um período crítico do experimento apenas para servir à história e investir na subtrama da namorada do protagonista, que é dispensável e faz o filme perder o ritmo sempre que foca nela. Nota 4/5


O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (Le Charme Discret de la Bourgeoisie, França/Itália/Espanha, 1972, dir. Luis Buñuel)
Mais uma excelente história surrealista de Buñuel. Se em O Anjo Exterminador os burgueses jantavam e não conseguiam ir embora, aqui eles vêm e vão à vontade, mas não conseguem iniciar a refeição, interrompidos a cada hora por um incidente mais absurdo: o restaurante está realizando um velório; os anfitriões fugiram pra trepar no jardim; a sala de jantar se revela o palco de um teatro. É mais uma coleção de minicausos do que uma narrativa coesa, e Buñuel se esbalda com flashbacks e sonhos dentro de sonhos dentro de sonhos, décadas antes de Inception. Os personagens insólitos (o bispo que faz bico como jardineiro, os diplomatas que também são traficantes) completam o retrato irônico que o diretor adora fazer desse mundinho burguês. Nota 5/5


UM BALDE DE SANGUE (A Bucket of Blood, EUA, 1959, dir. Roger Corman)
Roger Corman teve apenas cinco dias e 50 mil dólares pra fazer este filme, mas saiu com uma pequena pérola do humor negro. Dick Miller é um garçom aspirante a artista (“Seja um nariz!”, ele diz a um monte de argila, incapaz de dar forma ao troço) que ganha sua grande chance a partir de um incidente bizarro envolvendo um gato preso na parede (!). Embora o desdobramento da história seja meio previsível desde o início, a sátira ao mundo das artes e o humor negro que atravessa o filme, do balde-título à cena final, valem desenterrar Um Balde de Sangue. Nota 4/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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