23/05/2006

Salve Salvador! Parte II

Fitas & fittas - Faz o primeiro pedido. Pronto? Agora faz o segundo. Pronto? Agora o terceiro. Era vapt vupt, zás-trás, sem chance de recusar. Mal pusemos os pés nas pedregosas ruas do Pelourinho, debaixo do pé d´água já esperado, e imediatamente fomos abordados por quatro vendedores de penduricalhos. Todo lugar era a mesma marcação cerrada, amigo, amigo, um colar de presente pra você, agora leva esse aqui baratinho, mas no Pelourinho viramos alvo preferido da galera, com essa nossa cara de tudo menos de baiano. E assim, sem que sequer pudéssemos matutar melhor acerca dos famosos três pedidos, vimos nossos pulsos receberem coloridas fitinhas do Senhor do Bonfim. Duas semanas depois, a minha permanece atada ao meu braço. Decidi deixar pra ver quando é que apodrece. As perspectivas não são animadoras: andei fuçando orkut afora em comunidades como “eu uso fitinha do Bonfim!”, e, pelo que pude averiguar, a vida média desses pedaços de pano costuma ultrapassar dois anos. Bom, pelo menos foi de graça... (como se doesse o bolso levar 14 por um real) ¡Ola amigos! Constatação da viagem: mineiros são gringos em terra de baianos. Tudo bem, era óbvio que por baiano a gente não ia conseguir passar mesmo, branquelos daquele jeito, curtindo praia na chuva, entrando no mar aos pulos desengonçados. Agora... espanhóis? Sim, eles achavam que éramos espanhóis. De início achamos que fosse apenas por causa do Leandro, de cabelo arrepiado e usando a camisa do Barcelona. “Ronaldinho, cuando vienes rogar aqui en el Brassil?”, zoavam os moleques. Mas quando, sozinho, recebi um “Buenas tardes” de um vendedor, é que percebi o quanto parecíamos deslocados. Às vezes a gente entrava no clima: - Amigo! Tienes un cigarete? - No tengo, no tengo! Noutras, principalmente na hora de pechinchar, fazíamos questão de afirmar nossa brasilidade. Dependendo do choro, o preço pra brasileiro podia chegar a um quarto do valor pros gringos. Teve um vendedor engraçado que nos viu de longe e já veio portunholizando pra cima da gente. - Pó falar português, aqui é tudo brasileiro – esclarecemos. - Cariocas? - Não, mineiros. - Ah, então desculpa a ofensa. Um velho calção de banho... É bom Passar uma tarde em Itapoã Nadar no mar de Itapoã Cheio de pedra em Itapoã Pisar na lama em Itapoã Passar uma tarde em Itapoã Tomando chuva em Itapoã Roupa enxarcada em Itapoã Pneumonia em Itapoã ? Estou como? Conhecemos duas suecas na nossa última manhã em Salvador, durante o café da manhã no albergue. Mochilavam pelo nosso Brasil varonil: já tinham visitado o Rio de Janeiro, agora passavam pela Bahia e depois continuariam pelo nordeste, subindo para Recife, Natal, aqueles lados. Talvez devessem apenas ter pesquisado mais sobre as estações do ano: andavam injuriadas com aquela chuva toda, ainda mais depois de uma jornada de 29 horas num ônibus da capital carioca à baiana. (Isso de ônibus, pensa o Frejat que declarou que “iria a pé do Rio a Salvador”...) Chamavam-se Sara e Pernilla. Pernilla era sueca típica, loira branquela, mas Sara tinha pele morena e poderia facilmente se fazer passar por baiana, como bem disse um ambulante que tentou nos vender suas quinquilharias. “Bota um colar e dois brincos de côco que ela vira uma baiana big beautiful!”, apontou. Durante as poucas horas em que andamos com elas a pé pelos arredores, visitamos feirinha de artesanato, Museu Náutico da Bahia, praia, aprendemos palavrões, ensinamos outros tantos, e acabamos indo parar num site sueco de viajantes pelo mundo, onde, horas depois, as duas publicaram fotos e relatos da manhã passada com os quatro brasileiros insanos. Você aí que sabe ler sueco, por favor, traduza pra gente. Tá aqui. Tá premiado Algumas premiações que poderiam ter sido distribuídas durante nossa viagem: >> Nome de Rua Mais Adequado: Em todos os nossos trajetos de ônibus pela cidade, mesmo sob os torós torrenciais que já previam os meteorologistas, pegamos engarrafamento uma vez apenas, a caminho do Pelourinho. O nome do lugar: Rua da Paciência. >> Meio de Transporte Mais Barato: Sem dúvida o Elevador Lacerda, notória construção que liga o Pelô à Cidade Baixa, e que custa a módica bagatela de 5 centavos. Agora, vai arranjar 5 centavos trocadim assim... >> Situação Mais Improvável: Uma sueca passando frio em Salvador. Tudo bem, estava chovendo e ela tinha acabado de sair do morno mar direto pro vento gelado, mas ainda assim, pensa só: é uma sueca passando frio em Salvador. Não é avulso? >> Prêmio “Não Entendi”. Eu e Leandro no Aeroclube, numa barraquinha de comida baiana: “Moça, tem cuscus?” Seguem-se gargalhadas, dela e dos dois que a acompanhavam. “Por que a risada?”, queremos saber. “Aqui é só comida baiana, gente...”, respondem. Ficamos sem entender. Afinal, não era a música dos Novos Baianos que dizia: “Vai entrar no cuscus, acarajé e abará”? >> Prêmio Poliglota Troglodita: Vai para um dos nossos amigos, confundindo os idiomas e comentando alto perto das suecas: “I want to fuck her”. >> Preço de Cardápio Mais Sem Nexo: Uma barraquinha na Praia de Jaguaribe, na qual a vodka Natasha custava dois reais e a Smirnoff dois e cinqüenta. Uma Smirnoff de Assunção, provavelmente. >> Top 3 Formatos de Orelhão 3 - Côco verde (com canudinho). 2 - Farol da Barra. 1 - Berimbau.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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