22/12/2015

Top 10 filmes favoritos de 2015


Em 2015 tive a minha pior contagem de filmes dos últimos cinco anos. Foram pouco mais de 100, incluindo cinema, DVD, Blu-ray, Netflix, filmes inéditos, revisões, filmes que já vi trocentas vezes. Isso contra 265 em 2011, 235 em 2012 (quando escrevi sobre todos aqui no Biselho), 216 em 2013 e 161 em 2014. Nesse ritmo, lá pra 2023 só assistirei a um filme por ano, provavelmente a reprise natalina de Esqueceram de Mim

(Enquanto isso, essa cinemaníaca assistiu a 1.117 filmes em 2011 — contando apenas os que ela nunca tinha visto antes.)

Minha lista de 10 filmes favoritos do ano, portanto, padece do inevitável fato de que conferi poucos lançamentos deste doismilequinze que já finda, focando em grande parte nos longas de animação (o que, ao menos, rendeu uma lista bem diversificada no Cinema de Buteco). Pelo menos posso me gabar de ter assistido à trilogia De Volta Para o Futuro no cinema no emblemático 21 de outubro de 2015 e a O Poderoso Chefão com orquestra ao vivo, naquela que deve ter sido a melhor semana cinematográfica da minha vida.

De qualquer forma, taí o registro do meu top 10 pessoal:


10- Beasts of No Nation
(dir. Cary Joji Fukunaga)

Eficiente drama de guerra produzido pela Netflix e o segundo ótimo filme nos últimos anos com "Beasts" no título, depois de Beasts of the Southern Wild. Será que Fantastic Beasts and Where to Find Them seguirá o padrão de qualidade?


9- Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
(Birdman or (The Unexpected Virtue of Ignorance), dir. Alejandro González Iñárritu)

O plano-sequência pode ser "falso", mas isso de forma alguma tira os méritos desta semi-comédia iñarritúrica, com diálogos espertos e elenco supimpa.


8- Kurt Cobain: Montage of Heck
(dir. Brett Morgen)

Documentário extremamente eficaz que mistura técnicas variadas para colocar o espectador no estado mental de seu personagem-título. Destaque para as cenas em animação: por mim o filme todo teria sido assim, but nevermind.


7- Ex Machina: Instinto Artificial
(Ex Machina, dir. Alex Garland)

Mais uma prova (como se precisássemos) de que sci-fi não precisa ter alto orçamento, zilhões de efeitos digitais ou elenco estelar para ser bom.


6- Cheatin'
(dir. Bill Plympton)

Lascivo e surrealista, é uma das animações mais originais – e, infelizmente, negligenciadas – de 2015. Mantenha longe das crianças.


5- Mad Max: Estrada da Fúria
(Mad Max: Fury Road, dir. George Miller)

Uma grata surpresa que ostentou o título de blockbuster do ano por uns bons meses — até uma certa ópera espacial entrar em cartaz.


4- Victoria
(dir. Sebastian Schipper)

Filmado em Berlim, impressiona não só por ser um longo plano-sequência de mais de 2h de duração (sem truques de montagem como no filme do Homem-Pássaro), mas por se manter tenso pra caramba até o derradeiro final.


3- Whiplash - Em Busca da Perfeição
(Whiplash, dir. Damien Chazelle)

Com uma performance mesmerizante de J. K. Simmons, poderia se chamar Full Metal Jazz.


2- Star Wars: O Despertar da Força
(Star Wars: The Force Awakens, dir. J. J. Abrams)

Eu, que nunca fui grande fã da saga, saí do cinema com a empolgação que não tive nem mesmo aos 12 anos, assistindo ao relançamento de Uma Nova Esperança no Palladium.


1- Divertida Mente
(Inside Out, dir. Pete Docter)

A Pixar volta à boa e velha forma com uma obra que mescla criatividade e emoção (correção: Emoções) e implora por uma série de continuações à la "Trilogia do Antes".


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23/11/2015

Memórias de um rebelde do Distrito 8


Pisei em casa às cinco e meia da manhã, exausto após virar a noite trabalhando e pegar três metrôs para voltar. O ombro ainda doía de apoiar espingarda, cantil e sacola por três dias seguidos. Havia sujeira até debaixo das minhas unhas, e o cabelo, particularmente, estava uma inhaca: precisei de duas mãos de xampu para deitar a cabeça sem manchar o travesseiro. E dali a algumas horas começaria tudo de novo: botar roupa de rebelde, interceptar trem em movimento, contracenar com a Jennifer Lawrence. Ninguém disse que trabalhar numa produção de Hollywood seria moleza.

Minha breve carreira de figurante começou em abril de 2014, quando topei com um anúncio no Facebook: “Procuram-se 1000 figurantes asiáticos, africanos, latino-americanos, árabes, turcos”. Embora não mencionassem o nome do projeto, não era difícil juntar as peças: a agência de figuração trabalha para os Estúdios Babelsberg, que estão por trás de praticamente toda grande produção internacional filmada na Alemanha; a última parte da franquia Jogos Vorazes estava com filmagens marcadas em Berlim; na trama, os diversos distritos apresentam uma grande diversidade étnica; e não se contrata mil pessoas pra fazer um filme B de fundo de quintal. Como um latino-americano com cara de árabe e morando em Berlim, pensei: “Por que não?”, e lá fui eu na agência preencher formulário, tirar foto e aguardar um possível convite.


O e-mail veio semanas depois, me convocando para uma prova de figurino em Potsdam, cidade vizinha de Berlim. Lá, descobri que haviam me escalado para o papel de rebelde do Distrito 8 (ou “combatente pela liberdade”) – nenhuma surpresa, já que com barba malfeita e cabelo desgrenhado, dificilmente me colocariam do lado dos soldados. E os rebeldes, logo descobri, se vestem basicamente com pedaços de trapos velhos. Minha roupa consistia em:

- Uma blusa cinza de mangas compridas com uns furos para colocar o polegar, como se fosse uma luva improvisada;
- Calças compridas amarelas e largas;
- Sapato bege;
- Duas tiras de pano enroladas no tornozelo;
- Uma fita vermelha amarrada no braço esquerdo (aparentemente é o símbolo dos rebeldes);
- Um pesado poncho marrom por cima de tudo;
- Um cachecol no pescoço;
- E uma bandana na cabeça, jogando meu cabelo pra trás e me fazendo parecer uma beterraba.

(Essa visão ímpar teria certamente virado meu perfil do Facebook caso selfies e fotografias em geral não fossem rigorosamente proibidas no estúdio ou no set, sob pena de ir no ato para o olho da rua.)


Marcaram o primeiro dia de filmagens para uma segunda-feira, 26 de maio de 2014. Ponto de encontro: o antigo aeroporto de Tempelhof, desativado em 2008. O horário camarada: cinco da manhã.

A produção aproveitou o terminal abandonado do Tempelhof – que, ao contrário da parte externa transformada em parque, não é aberto ao público – para montar o seu quartel-general: em meio aos balcões de check-in, placas de companhias aéreas e esteiras de bagagem, que continuam intocados após esses anos todos, puseram enormes tendas brancas para cada departamento: figurino, cabelo, maquiagem, equipamentos, armas. A via-crúcis que percorríamos ao chegar se repetiria por todos os dias seguintes: preencher formulário manualmente com todos os dados pessoais (por que diabos não deixavam esse negócio num computador?). Vestir os trapos na tenda de figurino. Pegar os props (objetos usados em cena): espingarda, cantil e uma sacola de pano com enchimento falso. Passar pelas mãos impiedosas do setor de maquiagem, o que incluía encardir rosto, pescoço e dedos com uma tinta fedorenta. Cada departamento tinha uma fila imensa de figurantes esperando a vez e o processo todo levava umas duas horas.

Aí, finalmente, já imundo e carregando tralhas, pude encher o pandu com um sanduíche de salame e queijo e um suco de laranja. Mas quando ainda bebia meu café – ainda mais imprescindível quando se acorda às 3h30 da manhã –, chamaram a gente de novo para que os chefes do setor de figurino pudessem dar o seu aval, e levaram o café embora. Pior foi a queniana do meu lado, que estava em sua primeira mordida no pão com queijo: arrancaram o pão da mão dela, não devolveram mais e ela só pôde comer alguma coisa no almoço. Pelo visto eles levam essa coisa de “Hunger Games” a sério.


Fazendo História

Já eram quase 9h da manhã quando entramos no set – um lugar aberto no subsolo do aeroporto, todo cinzento e cercado de prédios, onde colocaram caminhões e contâiners e montaram um palanque para a cena que iríamos filmar. Éramos uns trezentos figurantes – mas, como logo descobriríamos, valíamos por uns dez mil.

A cena era um discurso. A atriz Patina Miller, lá de cima do palanque, dirigia-se aos rebeldes:

– “Eu sou a Comandante Paylor do Distrito 8. Uma soldada, assim como vocês. E não sou muito boa com discursos. Mas de uma coisa eu sei: olhe para a esquerda; olhe para a direita. Pela primeira vez em muito tempo, todos os 13 distritos estão unidos. Da forma como eu vejo, nós já fizemos História!” (Nessa hora, seguindo as instruções da produção, gritávamos cheios de entusiasmo.)

Ela continuava: “Blablabla o Presidente Snow é um filho da puta, blablabla vamos atacar o Capitol, blablabla o bicho vai pegar em Panem!” (vivas), “vamos fazer História!” (mais vivas; gostávamos mesmo de fazer História) e “nosso futuro começa amanhã, quando marcharemos em direção ao Capitol!” (muitos vivas)

O Tempelhof durante as filmagens...


…e o resultado final:

E assim foi o dia inteiro. A mesma cena, o mesmo discurso, os mesmos vivas, take após take. Primeiro nos posicionaram em um quadradão em frente ao palco; depois no quadradão do lado esquerdo; depois um quadradão pra trás; depois outro pra direita; depois lá pra cima, em frente à grade; lá embaixo de novo; e por aí vai. A ideia, como já deu pra ver nas fotos acima, era copiar e colar figurantes pra todo canto, fazendo trezentos virarem trocentos. O calor e o peso dos props (principalmente a espingarda, que era de verdade e não de plástico como a dos engomadinhos do Distrito 13) começaram a incomodar: sentávamos e tentávamos descansar entre os takes, ganhávamos água de vez em quando, mas intervalo e almoço que era bom, só às 14h (no menu: macarrão insosso com molho de tomate e legumes). E depois, mais discurso, mais vivas, mais repetição: a cena só terminou lá pelas 17h, e ainda precisamos enfrentar mais umas cinco filas para devolver espingarda, devolver cantil, devolver o figurino. A Comandante Paylor, “guerreira como a gente”, não foi avistada em nenhuma das filas.


Rebelde sem pausa

Dois dias depois, quarta-feira, cheguei no Tempelhof às 17h para uma noite que prometia ação: tivemos que assinar um papel avisando dos riscos das próximas cenas, que envolveriam um trem em movimento, gruas enormes e barulhos de tiro (ganhamos até massinha pra enfiar no ouvido). A previsão do tempo era chuva na certa, e eu estava mesmo achando estranho planejarem cena externa debaixo de toró, mas não: preferiram pagar trezentos figurantes e rezar para São Pedro do que mudar o cronograma logo de cara. E lá ficamos, prontos pra guerra, esperando horas a fio no terminal abandonado. No fim das contas, São Pedro não atendeu às preces em alemão e a produção nos liberou do set pouco após a meia-noite – o que, contando as filas para devolver os apetrechos todos e os horários parcos do metrô de madrugada, me fez chegar em casa às 2h30.

A quinta-feira, em compensação, foi assaz movimentada. Começou com um curso-relâmpago de como empunhar uma espingarda com propriedade. Abrimos um círculo enorme e um especialista veio instruindo cada um: “Coloca a arma assim no ombro”, “Segura dessa forma aqui”, “Empurra o ombro mais pra frente, pois num cenário real você cairia no chão quando desse o primeiro tiro”. Além disso, embora as armas estivessem obviamente descarregadas, havia várias regras de segurança reiteradas a todo momento: não deixar a espingarda no chão, descansar a arma apoiando-a no seu próprio pé, não trocar a sua arma com a de ninguém, não apontar a arma para ninguém.

A produção começou a chamar a rebeldaiada, cada assistente responsável por um grupo de dezenas de figurantes: “Quem é do grupo Fulano vem comigo!”, “Quem é do grupo Sicrano vem comigo!”. “E quem não sabe de que grupo é?”, perguntei. “Fica lá atrás esperando e vem com o último grupo”, me respondeu o cara. Vi a galera indo com os grupos Fulano, Sicrano e resolvi segui-los assim mesmo, me infiltrando no meio de outros esfarrapados com cara de Distrito 8; dois amigos do primeiro dia de filmagem fizeram o mesmo, e assim, como quem não quer nada, conseguimos chegar ao set. E ainda bem que fizemos isso, porque o pessoal que ficou lá atrás passou a noite inteira da mesma forma que na noite anterior, esperando horas no frio sem filmar um take sequer. Não dá pra ser rebelde sem fazer uma rebeldia.


O set, também aberto, começava com um túnel à esquerda, de onde saía uma pequena ferrovia. Fiquei posicionado ali perto junto com um punhado de colegas, mas havia rebeldes pra tudo quanto é lado: à direita, em cima de vários caminhões; em frente, do outro lado da ferrovia; nos parapeitos lá em cima; todos apontando suas espingardas para a saída do túnel.

Action!” Devíamos estar a uns 100 metros de distância, mas dava pra ver a Jennifer Lawrence surgindo da outra ponta e parando pra trocar uma ideia com um sujeito loiro de cabelo comprido (só fui perceber depois de uns dez takes, quando alguém me apontou, que aquele era o Woody Harrelson). No momento em que ela se dirigia à multidão de rebeldes (“Eu sou Katniss Everdeen e esta noite vamos arrebentar a boca do balão”, ou algo assim – estou citando de cabeça), era interrompida pelo barulho de um trem saindo do túnel.

Nossa tarefa, enquanto rebeldes, era interceptar o trem e render quem vinha dentro: um pessoal de roupas brancas, sujos de poeira e conhecidos coletivamente como “Nuts”. Mandávamos todo mundo se deitar no chão, chutávamos longe os revólveres e espingardas que eles tinham nas mãos e ficávamos lá vigiando, enquanto Jennifer e companhia prosseguiam com os diálogos. De vez em quando pipocavam uns sons de tiros — usamos protetores auriculares (vulgo massinha gosmenta) o tempo todo, mas de onde estávamos, nem precisava. Katniss fazia seu discurso, mas ninguém vibrava: “Essas pessoas não são seus inimigos! O verdadeiro inimigo é Snow! Voltem suas armas para o Capitol!”. Se ela tivesse dito que faríamos História, talvez a recebêssemos com mais empolgação.

As gravações continuaram até as 3h45 da manhã. Contei pelo menos 16 takes completos, cada um durando uns cinco minutos, sem falar nos que foram interrompidos ou naqueles que começaram já no meio na cena. Entre os takes o pessoal da produção trazia cobertores, água, chá, biscoitos e outros agrados, e depois de um tempo comecei a aproveitar esses intervalos para zanzar pelo set e espiar a Jennifer Lawrence de perto. Inclusive, ela mandou um beijo para os leitores do Biselho.


A noite de sexta-feira foi, pra variar, longa e cansativa. Na maquiagem, tiveram um cuidado especial em me deixar mais encardido do que nunca, passando aquele chorume por entre os dedos e até nos olhos (tive que pedir pra tirar o excesso para conseguir enxergar). Acho curiosa essa atenção com os mínimos detalhes – os caras da inspeção de figurino e maquiagem eram meticulosos, “Borrifa um pouco mais de tinta no calcanhar daquela bota ali” – para centenas de pessoas que, quando muito, virarão um borrão desfocado no fundo da cena. Deve ter sido bem mais fácil fazer figuração nos filmes do Ed Wood, que não estava nem aí pra essas coisas.

A cena da vez? A mesma da noite anterior, só que filmada de novos ângulos. Posicionaram-nos do outro lado do set, e logo ficou evidente que se a câmera filmasse um mínimo que fosse do nosso grupo, seria só por uma fração de segundo e no comecinho da cena. Mesmo assim, tínhamos que ficar com os braços levantados mirando a espingarda pelos cinco minutos que duravam a coisa toda, em takes que duraram, como de praxe, a madrugada inteira. Ouvimos falar que gravaríamos uma cena extra com a Jennifer Lawrence alimentando uvas aos rebeldes feridos, mas era só delírio da nossa imaginação.

Nos meses que se sucederam às filmagens no Tempelhof, recebi inúmeros convites da agência de figuração para papéis que iam de músico de rua espanhol e espectador das Olimpíadas de 1936 até refugiado, assaltante, presidiário e seguidor de uma seita indiana. Mas já com emprego fixo e sem disposição para voltar pra casa imundo às 6h da manhã e ir para o escritório às 9h, optei por pendurar os trapos e farrapos até segunda ordem.

E no último domingo, após um ano e meio de expectativa, pude finalmente conferir nos cinemas não só resultado de toda aquela trabalheira em maio de 2014, como a resposta para a pergunta que não queria calar: será que eu apareço em Jogos Vorazes: A Esperança — O Final?

Bem… Na cena do discurso, que levou um dia inteiro pra filmar, a multidão de rebeldes só dá as caras em uns dois planos rápidos (que já tinham aparecido nos trailers) — o restante são closes da Comandante Paylor e planos fechados da Jennifer Lawrence cercada por meia dúzia de figurantes, em takes filmados quando eu não estava. Nos planos abertos eu estou lá no meio da multidão, provavelmente em vários lugares ao mesmo tempo, fazendo História anonimamente. Já na cena do trem, que levou três madrugadas, meu grupo aparece por mais tempo no canto esquerdo da tela, rendendo a galera e mandando todo mundo pro chão, enquanto Jennifer tenta apaziguar as coisas no primeiro plano. Em certos momentos, nem estamos tão desfocados assim — mas serão necessários Blu-ray em alta definição, zoom na tela e olhos de lince para identificar este que vos fala.

E você que reclamava do Rodrigo Santoro no Lost.

28/10/2015

Sufjan Stevens ao vivo em Berlim


Descobri Sufjan Stevens em 2010, lendo sobre o lançamento de The Age of Adz, seu sexto álbum de estúdio. Aproveitei para conhecer também o disco anterior do cara, Illinois (ou, como diz a capa, Sufjan Stevens Invites You To: Come On Feel the Illinoise), que o artigo descrevia como "genial".

Muitas coisas hoje em dia são descritas como geniais, mas no caso do Illinois, o adjetivo não soa tão descomedido assim. São 75 minutos de melodias que fogem do óbvio (mas nem por isso são difíceis ou deixam de grudar na cabeça), intricadas harmonias vocais, arranjos elaborados com timbres de uma mini-orquestra, faixas de durações no mínimo díspares (a maior tem 7 minutos; a menor, 6 segundos) e alguns títulos tresloucadamente longos, como "They Are Night Zombies!! They Are Neighbors!! They Have Come Back from the Dead!! Ahhhh!" (88 caracteres), "To the Workers of the Rock River Valley Region, I have an Idea Concerning Your Predicament, and It Involves an Inner Tube, Bath Mats, and 21 Able-Bodied Men" (156 caracteres) e "The Black Hawk War, or, How to Demolish an Entire Civilization and Still Feel Good About Yourself in the Morning, or, We Apologize for the Inconvenience but You're Going to Have to Leave Now, or, 'I Have Fought the Big Knives and Will Continue to Fight Them Until They Are Off Our Lands!'" (288 caracteres). Minha banda ABUNN sempre se gabava de ter a música com — segundo pensávamos — o maior título do mundo, "Quando as Borboletas Azuis de Antenas Amarelas Batem Suas Asas Fazendo Um Barulho Ensurdecedor Que Não Dá Pra Aguentar" — mas, com seus míseros 118 caracteres, ela perde feio para várias faixas do Illinois.

(Uma rápida googlada também me informa que Sufjan Stevens está longe de ser o recordista na categoria. A cantora americana Christine Lavin lançou, em 1984, uma canção chamada "Regretting What I Said to You When You Called Me 11:00 On a Friday Morning to Tell Me that at 1:00 Friday Afternoon You're Gonna Leave Your Office, Go Downstairs, Hail a Cab to Go Out to the Airport to Catch a Plane to Go Skiing in the Alps for Two Weeks, Not that I Wanted to Go With You, I Wasn't Able to Leave Town, I'm Not a Very Good Skier, I Couldn't Expect You to Pay My Way, But After Going Out With You for Three Years I DON'T Like Surprises!! Subtitled: A Musical Apology". Seriam precisos quatro tuítes para dar conta de seus 481 caracteres.)


O álbum de 2010, The Age of Adz, segue direções musicalmente bem distintas de seu predecessor: as ótimas melodias e harmonias vocais continuam lá, mas agora embaladas por arranjos eletrônicos, repletos de sintetizadores, efeitos sonoros, barulhinhos. É um disco muito mais pra baixo, sem os refrões otimistas do Illinois, sem fazer graça com títulos longos, sem faixas de curtíssima duração. Muito pelo contrário: os 25 minutos da última música, "Impossible Soul", são de fazer inveja ao Yes. The Age of Adz não foi tão unanimemente aclamado quanto o Illinois, mas eu gosto pacas. "Impossible Soul" deve ser a música de 25 minutos que mais ouvi na vida.

Depois de cinco anos em que seu único lançamento solo foi um disco quíntuplo (!) de músicas de Natal que, sinceramente, nunca tive paciência para ouvir inteiro, Stevens voltou em 2015 com um álbum de inéditas de verdade, Carrie & Lowell — que fatalmente aparecerá em várias listas de melhores no final do ano, anota aí. Mais uma vez o estilo dá outra guinada: saem as experimentações eletrônicas e entram baladas acústicas com banjo e ukulele, com letras bastante pessoais sobre sua mãe, seu padastro e suas memórias de infância. E com o disco novo, veio junto uma nova turnê mundial, que passou por Berlim em setembro no Admiralspalast.


Comprei o ingresso pela internet com meses de antecedência. Tinha lugar marcado e tal, mas já fazia tempo e eu não me lembrava onde é que havia escolhido ficar. Quando cheguei ao teatro para o show, fiquei positivamente surpreso: "Não lembrava que tinha conseguido um assento na sexta fileira por esse preço!", pensei, me acomodando na cadeira.


Eu não tinha conseguido, claro. Logo reivindicaram meu lugar e percebi que meu ingresso me colocava era lá em cima, no terceiro andar, num assento onde eu precisava ficar de pé para conseguir visualizar o palco todo. Fazer o quê.


Sozinha no palco, uma cantora-compositora canadense chamada Basia Bulat segurou bem seu show de abertura com músicas bonitas como "Tall Tall Shadow", instrumentos insólitos como a auto-harpa da foto abaixo e uma voz poderosa, chegando até mesmo a dispensar o microfone na última música — o que funcionou bem, mesmo lá do terceiro andar.


Sufjan Stevens entrou na sequência, acompanhado por quatro músicos que tocaram de tudo e deram uma força mais do que bem-vinda nos vocais. Primeiro ele mandou o Carrie & Lowell inteiro, quase na mesma sequência do álbum. E não falou bulhufas com a plateia: o primeiro "Thank you" veio após uma hora e quarenta e cinco minutos de show. Normalmente me desagrada esse tipo de postura no palco (no show do Placebo que vi há uns dois anos, o vocalista não se dirigiu à plateia uma só vez — e eles ainda tocaram com um vidro separando a banda do público), mas neste caso dá pra relevar, não só pela teatralidade da coisa, mas porque as canções desse disco são tão pessoais que era como ele estivesse cantando para si mesmo. São letras doídas do tipo "I forgive you, mother, I can hear you / And I long to be near you / But every road leads to an end" ("Death With Dignity") ou "Tell me what did you learn / From the Tillamook burn / Or the Fourth of July? / We're all gonna die" ("Fourth of July"), que falavam da morte da mãe, a Carrie do nome do álbum.

A maioria das músicas veio com arranjos novos: o que no disco era quase tudo acústico e folk, ao vivo ganhou adornos eletrônicos em versões que caberiam fácil no The Age of Adz (tanto que as duas desse disco anterior que ele tocou no meio do set principal, "Vesuvius" e "I Want to Be Well", não soaram em nada deslocadas). Geralmente tendo muito mais para o acústico/elétrico do que para o eletrônico, mas curti bastante as novas versões. Devo dizer, porém, que poderia ter passado sem o encerramento à última música do set principal, "Blue Bucket of Gold": foram nada menos do que vinte minutos de barulhinhos digitais que pareciam não acabar nunca. Tenho certeza de que muita gente na plateia adorou estar imerso na experiência, mas por mim, ele poderia ter tocado umas oito músicas do Illinois nesse meio-tempo — ou mandado os 25 minutos de "Impossible Soul".

Se ficou calado por quase duas horas, no bis Sufjan Stevens desandou a falar, contando casos de infância e se desculpando por não esticar tanto o bis. De fato, foram apenas três músicas, contra seis na noite anterior, no mesmo teatro. A canção derradeira foi "Chicago", provavelmente o mais próximo que ele tem de um hit, que aqui se despiu do arranjo multi-instrumental no Illinois e veio acústica, dedilhada no violão. Todo mundo ali aceitaria de bom grado mais umas dez canções — but every road leads to an end.

Setlist:

1. Redford (For Yia-Yia & Pappou)
2. Death With Dignity
3. Should Have Known Better
4. Drawn to the Blood
5. Eugene
6. John My Beloved
7. The Only Thing
8. Fourth of July
9. No Shade in the Shadow of the Cross
10. Carrie & Lowell
11. The Owl and the Tanager
12. All of Me Wants All of You
13. Vesuvius
14. I Want to Be Well
15. Blue Bucket of Gold
16. Concerning the UFO Sighting Near Highland, Illinois
17. To Be Alone With You
18. Chicago

25/10/2015

Leave the gun. Take the DeLorean.


Que baita semana, cinematograficamente falando. Quarta-feira tivemos o tão aguardado 21 de outubro de 2015, uma data que me criou expectativa por mais de duas décadas, desde que eu tinha oito ou nove anos e assistia a De Volta Para o Futuro II em looping, num VHS gravado da Sessão da Tarde. Até hoje ainda revejo a trilogia a cada ano ou dois, e recentemente concluí, após longos anos de procrastinação, minha série sobre a franquia no Cinema de Buteco (com críticas do primeiro, segundo e terceiro filmes, além de um especial sobre o "universo expandido" de De Volta Para o Futuro em desenho animado, videogame, atração de parque temático e o escambau). 

Nos textos, mencionei que já tinha visto o primeiro filme na "Tela Quente, Sessão da Tarde, VHS, DVD, dublado, legendado… Só faltou ter visto no cinema, o que não foi possível por uma questão temporal – tanto eu quanto o primeiro filme nascemos no glorioso ano de 1985." A informação já estava desatualizada desde o ano passado, porque em 2014 consegui assistir a De Volta Para o Futuro no cinema pela primeira vez, num Freiluftkino (cinema a céu aberto) em Berlim. Com um detalhe: dublado em alemão. Mesmo com Doc Brown esgoelando "Großer Gott!" em vez de "Great Scott!", foi ótimo poder ver o filme numa tela grande, com plateia curtindo junto.

Aí chegou 2015. Se o primeiro de janeiro amanheceu repleto de piadas do tipo "agora precisamos usar os bolsos pra fora das calças" e "não temos hoverboards, mas temos pau-de-selfie", logo nos acostumamos a viver num futuro sem carros voadores ou minipizzas que triplicam de tamanho em dois segundos. Mas era o fatídico 21 de outubro que importava, e à medida que a data chegava perto, coisas devoltaparaofuturianas começaram a pipocar pra todo lado: o lançamento de um novo box da trilogia, a chegada do desenho animado em DVD (mais de sete anos após meu pedido no último parágrafo deste post), o novo documentário Back in Time e muitas sessões de cinema pelo mundo afora, incluindo Brasil e Alemanha, com os três filmes em sequência. Em Berlim, vários cinemas anunciavam "Zurück in die Zukunft" pela cidade — mas tudo, novamente, dublado. Quando vi que o cinema do Sony Center, um dos poucos aqui que passam tudo com o áudio original, também faria sua maratona, não titubeei e garanti meu ingresso com dois meses de antecedência. Se os filmes ensinaram uma lição, é que é melhor não deixar pra fazer tudo em cima da hora.

Veio o 21 de outubro e foi uma agradável surpresa ver que não apenas a internet inteira girava em torno de De Volta Para o Futuro, mas que pululavam referências também no "mundo real": estações de trem em Londres proibindo hoverboards, a Pepsi lançando a Pepsi Perfect, Michael J. Fox e Christopher Lloyd surgindo caracterizados no programa do Jimmy Kimmel e até os jornais alemães estampando Marty e Doc na primeira página, com manchetes como "Jetzt ist die Zukunft" ("O futuro é agora"). 

Munido de Red Bull, biscoitos e suprimentos, cheguei ao Sony Center depois do trabalho com tudo pronto para começar a maratona, vestindo inclusive minha camiseta "Back to the Berlin Future", que traz um amálgama do DeLorean com o Trabi, o carro típico da antiga Alemanha Oriental. As empresas que fazem tours de Trabi pelas ruas berlinenses perderem a chance de desenvolver um "Tralorean" como o da camisa — fariam uma grana fácil com passeios sem precisar de plutônio ou de 1.21 gigawatts. Os fãs, por outro lado, não hesitaram em tirar seus jalecos e coletes vermelhos do armário, e topei com pelo menos um Doc Brown e dois Marties McFlies na entrada do cinema.


O primeiro filme estava marcado para as 18h30, mas só começou meia hora depois. Antes vieram as inevitáveis propagandas, trailers e anúncios de sorvete, onipresentes nos cinemas alemães. Às 19h, surgiu a imagem de um Christopher Lloyd quase octogenário saindo do DeLorean e se dirigindo à plateia: "Se meus cálculos estiverem corretos, vocês estão vendo isso em 21 de outubro de 2015. O futuro não é como imagináramos, mas somos nós quem fazemos nosso próprio futuro. Por isso, façam um bom futuro". Eu já tinha visto essa gravação alguns dias antes, conferindo os extras do novo box de blu-rays, mas no dia certo fez muito mais sentido. O filme em si, então, funcionou perfeitamente: todas as piadas foram recebidas com as risadas genuínas que merecem, e rolaram até aplausos efusivos quando George McFly nocauteia Biff no estacionamento. De todas as vinte ou trinta vezes, ver este filme no cinema, no exato "Back to the Future Day", foi provavelmente a mais especial.

Um cartaz na porta da sala avisava: "Sete minutos de intervalo entre os filmes". Mas quando as luzes se apagaram para a Parte II e uma propaganda apareceu na tela, tremi: será que iam passar mais meia hora de anúncios? Para meu alívio, era apenas um comercial falso do hoverboard. O segundo filme começou na sequência, com o cinema inteiro festejando quando o Doc apontou para a data nos circuitos do tempo: "OCT 21 2015". No intervalo seguinte, aproveitei os sete minutos para tomar um espresso: ainda faltavam duas horas e eu não queria tirar um cochilo involuntário como muitos ali acabaram fazendo.

O terceiro filme terminou à 1h da manhã e eu cheguei em casa ainda cantarolando o tema: e daí que passei a quinta-feira morrendo de sono no trabalho? Só fica o pedido encarecido aos roteiristas de ficções científicas: da próxima vez que fizerem um filme futurístico com potencial para virar cult décadas depois, escolham uma data que caia no sábado.


Dois dias depois, na sexta à noite, foi a vez de The Godfather Live, no mesmo Tempodrom onde vi Cat Stevens ano passado e Roger Hodgson há algumas semanas. Assistir a O Poderoso Chefão com uma orquestra tocando a trilha ao vivo? Indubitavelmente, é uma oferta que não dá pra recusar.

(Fato avulso: antes do início do filme, colocaram uma playlist de músicas tradicionais italianas. Nisso entra a melodia de "Quem te conhece não esquece jamais… óóó Minas Gerais". Sempre presumi que a música fosse mineira, mas pelo visto estava errado. Escuto um casal atrás de mim conversando em português, o cara lendo a Wikipédia no smartphone para a esposa: "Tida por alguns como o hino oficial do estado, 'Oh Minas Gerais' é originária da valsa italiana 'Viene Sul Mare' com letra adaptada por José Duduca de Moraes". Viro pra trás pra puxar assunto e comentar que eu tampouco sabia dessa, e ainda descubro que o cara também é de Belo Horizonte.)

A orquestra subiu ao palco pontualmente às 20h, sem — grazie a Dio! — nenhum trailer ou propaganda de sorvete antes do filme. De inconveniente, apenas o cálculo errado do posicionamento do telão: a cabeça do maestro obstruía um pequeno pedaço da parte inferior da tela (mas o grandalhão que calhou de sentar na nossa frente atrapalhou muito mais). O trompetista solou o tema de Nino Rota, Bonasera surgiu na tela dizendo acreditar na América, e seguiram-se três horas do melhor que a primeira e a sétima artes podem proporcionar. E parabéns para o maestro e para os músicos por manterem tudo no ritmo certo o tempo todo, o que fica especialmente nítido quando há algum personagem tocando no próprio filme, como na sequência inicial do casamento de Connie Corleone: até quando Johnny Fontane cantava, sua voz vinha do áudio original, mas o acompanhamento era feito na nossa frente. Muitas vezes, imersos no filme, não era raro esquecer que havia música ao vivo, até que você se dava conta e espiava o senhorzinho palhetando com precisão o bandolim ali no canto.

Esse tipo de experiência tem que ser feita desse jeito, com um clássico que todo mundo já viu quinhentas vezes: não dá pra assistir a um filme pela primeira vez e querer prestar atenção na performance dos músicos ao mesmo tempo. Para O Poderoso Chefão, com sua trilha fantástica e suas cenas que estamos todos carecas de conhecer, caiu como uma luva. (Uma pena que vários músicos cujos instrumentos têm destaque na trilha, como piano, bateria e a seção de sopros, tenham ficado escondidos lá atrás.)

No final, depois dos créditos, a orquestra repetiu os dois temas principais enquanto imagens dos bastidores do filme passavam no telão. Fiquei esperando O Poderoso Chefão - Parte II na íntegra pra encerrar o bis, mas infelizmente não rolou.

19/10/2015

Soneto do outono alemão


Adeus, dias tórridos de perder o sono 
Auf wiedersehen, chopes da Oktoberfest 
Se aí no Brasil o calor é inconteste, 
Berlim já mergulha, implacável, no outono 

Calçadas viraram tapetes folhosos 
Termômetros marcam um dígito só 
Quando, no Skype, contar à minha avó, 
Prevejo suspiros e risos nervosos 

Pior não são os fins de semana de chuva 
Ou ter que comprar gorro, casaco, luva 
Pois isso se arruma em qualquer loja online 

Ruim mesmo é o breu: chega manso, sem alarde 
De repente é noite. Às quatro da tarde. 
Ao menos, um alívio: logo é tempo de Glühwein


11/10/2015

Scream - Primeira Temporada



O primeiro Pânico foi um dos filmes que mais vi na vida. Lá pela sétima, oitava série, sempre chegava da escola e dava o play no VHS — acho que até hoje sei recontar a trama inteira de cabeça. Pânico 2 vi no cinema com meu primo, que saiu falando que era o melhor filme que já tinha visto. A estreia de Pânico 3 foi um evento épico que levou minha escola inteira ao Diamond Mall em uma tarde de sexta-feira: teve empurra-empurra na entrada e gritaria generalizada nas cenas de terror, e eu até levei minha máscara do Ghostface pra fazer graça.

Revendo os três filmes anos depois, apenas o primeiro continua se sustentando bem. O segundo é até divertido, mas só moleques de 14 anos poderiam considerá-lo a obra máxima de suas breves existências. O terceiro é bem fraco e às vezes parece mais Simão, o Fantasma Trapalhão do que um slasher movie. Pânico 4, lançado tardiamente onze anos após a parte 3, não é lá dos mais memoráveis: eu só lembro mesmo da criativa cena de abertura, cheia de filmes-dentro-do-filme, quase um screamception.

Meu interesse em Scream — mais um exemplar na enxurrada de séries recentes baseadas em filmes, como Bates Motel, Fargo e From Dusk Till Dawn — era nulo, mas a máscara boquiaberta do novo Ghostface apareceu na tela do Netflix e, provavelmente movido pela nostalgia, resolvi conferir o que é que a MTV tinha feito com sua reinvenção televisiva de Pânico.

A série ignora os eventos dos filmes e não menciona Sydney Prescott ou os trocentos assassinatos cometidos na quadrilogia. A história se passa em Lakewood, cidadezinha cujo nome não deixa de lembrar Woodsboro, cenário dos filmes. Há vinte anos, um serial killer mascarado deixou um rastro de vítimas e alguns poucos sobreviventes traumatizados. Duas décadas depois, um novo assassino volta a colocar a adolescentaiada em pânico. Não é coincidência que quase 20 anos separem 2015 do primeiro filme, lançado em 1996.


Muitos dos personagens principais parecem esculpidos com base nos filmes. Emma (Willa Fitzgerald) é a nova Sydney, toda hora recebendo telefonemas do assassino, escolhendo os namorados errados e descobrindo segredos do passado obscuro da mãe. Noah (John Karna) é o novo Randy: conhece os clichês do gênero e despeja referências à cultura pop a cada duas frases — além de ser um hacker de fazer inveja à garotinha de Jurassic Park, rastreando e invadindo qualquer dispositivo com dois cliques. Piper (Amelia Rose Blair) é a podcaster que equivale à repórter Gale Weathers, misturando-se à meninada para arrancar detalhes sobre as vítimas. De resto, temos a trupe usual de personagens frívolos e desinteressantes que só servem para protagonizar mortes horríveis, embora apenas uma, em que a vítima é serrada ao meio da cabeça aos pés, se distancie do monótono padrão "facada na barriga / facada nas costas" que acomete as demais.

Sobre o assassino, talvez o fato mais digno de nota seja a nova máscara. Acho bem-vindo atualizarem o visual do Ghostface, inserindo uma significância dentro da história pregressa da trama (é a mesma usada pelo serial killer de vinte anos atrás). Mas ainda prefiro mil vezes a icônica máscara original, com sua boca cartunesca, olhos franzidos e cara de dó. A voz distorcida ao telefone também está presente, mas "Hello, Emma" definitivamente não tem o mesmo apelo sonoro de "Hello, Sydney". Talvez seja o sibilar que inicia o nome "Sssssydney". Talvez seja a nostalgia falando.


A verdade é que, apesar do assassino mascarado e dos personagens derivados, a série não tem muito a ver com os filmes. O que diferenciava Pânico de todos os clássicos do horror que o inspiraram — e das dezenas de filhotes que pariu nos anos seguintes — era que seus personagens conheciam os clichês dos filmes de terror e sabiam que estavam em um. Em Scream, as referências a outras séries de TV se resumem a piadinhas com Game of Thrones, Breaking Bad e Dexter, mas apenas nos diálogos, nunca na estrutura. Vez ou outra, o personagem nerd faz menção aos clichês de terror destrinchados nos filmes ("Não vou dizer 'volto já', porque senão não vou voltar"), mas a coisa não passa disso.

No terceiro episódio já tinha ficado claro que Scream não era das melhores séries. Mas para descobrir a identidade do assassino (que só veio a dez minutos do final do último episódio), foi preciso aguentar mais sete episódios com personagens se comportando de maneira ilógica, pontas soltas sendo ignoradas (ou convenientemente deixadas para a segunda temporada) e episódios inteiros que mais parecem Malhação — cheios de historinhas de romance adolescente e subtramas envolvendo cyberbullying e chantagem — do que uma "slasher series". Em uns três episódios consecutivos, inclusive, a única aparição do assassino é numa sequência de sonho, um dos recursos de roteiro mais preguiçosos da paróquia.

O season finale tem a inevitável festa seguida de matança e a aguardada revelação de quem se esconde por trás da boca aberta (claro: um dos únicos dois ou três personagens que não tinham virado suspeitos durante a temporada inteira), mas fica a sensação de que teria sido melhor gastar esses 400 minutos revendo o primeiro Pânico mais algumas vezes. Taí uma série que poderia dizer "volto já" e não voltar, que não faria falta.

06/10/2015

Música com vassoura e pá


Viena exala música. Também, o que esperar de uma cidade que já abrigou, empregou e inspirou caras como Mozart, Beethoven, Schubert, Haydn, Brahms e trocentos membros da família Strauss — sem esquecer de Falco, mente e voz por trás de "Amadeus, Amadeus, Amadeus… ô ô ô Amadeus"? 

A música clássica está presente em todos os cantos, principalmente os turísticos. Lojinhas de souvenir comercializam chaveiros, ímãs de geladeira e garrafas de licor no formato de instrumentos musicais, e até os patos de borracha usam peruca branca cacheada e tocam violino. O turista pode visitar as antigas residências de Wolfgang Amadeus Mozart e Joseph Haydn, e concertos de preços variados oferecem os greatest hits dos compositores mais famosos quase que diariamente.

Mas há de se admirar a engenhosidade daqueles que carecem de fama e grana, mas não de talento. E um grande barato de Viena é topar com músicos de rua sem poder aquisitivo para empunhar uma Gibson — que dirá um Stradivarius —, mas cheios de ideias mirabolantes que acabam fascinando mais do que se tivessem seguido caminhos convencionais. Como um quinteto que usava apenas as cordas vocais para mandar clássicos como "Ah ba ba ba, ba Barbara Ann…" a cappella.

Ou a dupla que transformou dois inconspícuos utensílios — uma vassoura e uma pá — em guitarra e baixo. A vassoura (guissoura?) tinha apenas uma corda, mais do que suficiente para que o músico dedilhasse seu improviso à vontade, enquanto o baixo (paixo?) trazia três cordas disputando espaço no cabo. A gambiarra rendeu um som bastante decente para o blues apresentado na calçada aos atônitos transeuntes, e pareceu também dar certo em termos monetários: a toda hora chegava outra moeda no chapéu posicionado em frente aos dois.


Tentando (sem sucesso) descobrir o nome da dupla, esbarrei em outro vídeo com os caras, publicado no YouTube em 8 de novembro de 2014 — exatamente uma semana antes da visita a Viena em que registrei o vídeo acima. E não é que eles estão tocando a mesmíssima coisa?

Fica a sugestão de expandirem o repertório: a música brasileira, por exemplo, oferece ótimas opções para se tocar com uma corda só ("Um Bilhete Pra Didi", dos Novos Baianos, ou mesmo o manjado "Brasileirinho"). Pra não falar em canções tematicamente apropriadas, como o frevo centenário "Vassourinhas".

Mas inesquecível, de verdade, seria ver a dupla vienense caprichando numa versão instrumental do Molejão: "Diga aonde você vai, que eu vou varrendo…"

30/09/2015

The long way home: Roger Hodgson em Berlim


A primeira vez que subi num palco pra cantar foi em 1992, quando meu tio Leca tocava saxofone numa banda cover de Supertramp.

Eu tinha sete anos e era supertrampmaníaco havia meses, desde que assistira a um show da Companhia Supertramp no aniversário de um amigo do meu pai. Em pouco tempo já havia decorado uma porção de letras dos discos que tínhamos em casa, lendo os encartes e tentando associar a grafia estranha daquele idioma aos sons que saíam dos LPs. Lembro de achar que o "AM" do rádio era a mesma palavra contida em "The Logical Song", no verso "Please tell me who I am". Toda vez que Roger Hodgson cantava "Who I aaaam? Who I aaaam?", eu apertava o "AM" do rádio, numa cândida tentativa de interagir com a canção.

Meses depois, a Companhia Supertramp estava no palco de algum bar em BH e eu lá com meus pais, curtindo o show e tendo provavelmente minha primeira experiência num boteco. A essa altura, os caras da banda sabiam que o saxofonista tinha um sobrinho pirralho que memorizara boa parte do repertório. Lá pelas tantas, acharam divertido me chamar ao palco e eu fui, muito mais desinibido do que nos primeiros shows da minha banda ABUNN dez anos depois. Marcos Temponi, vocalista e baixista, cochichou-me as coordenadas:

- Você espera a introdução, eu conto até quatro e você começa. Vamos lá, um, dois…

Eu ignorei as instruções rítmicas e comecei a cantar na hora que quis — provavelmente no tempo certo, já que conhecia aquelas músicas como se fossem "Atirei o Pau no Gato". Mas fico imaginando o sotaque com o qual não devo ter cantado "The Logical Song":

- Uen auas iangue, itsims dê láifuassou uânderfou…

Vinte e três anos se passaram desde então, mas nunca deixei de curtir Supertramp. Crime of the Century, Breakfast in America e Even in the Quietest Moments permanecem entre alguns dos meus discos favoritos dos anos 70, vira e mexe toco "Give a Little Bit" no violão por aí e dia desses até comprei o DVD do Supertramp Paris, icônico show gravado em 1979 ao qual ouvi por muitos anos numa fitinha dupla presenteada por meu tio Kiko no meu aniversário de oito anos — ele até mesmo redesenhou a capa do álbum com lápis de cor na caixinha do cassete.


Foi um barato assistir ao DVD, não só porque as músicas são foda, mas por raramente ter visto material visual do Supertramp nesses anos todos em que sou fã da banda. Dar caras às vozes, sabe cumé? Ver Roger Hodgson caprichando nos agudos, Rick Davies se esmerando no piano e nas caretas, John Helliwell saxofonando, palhaçando e comandando o falatório entre-canções. Deu uma baita vontade de ver esses caras ao vivo, juntos, com a química que tinham nessa gloriosa fase áurea dos anos setenta.

O que não vai acontecer. Roger Hodgson, voz e mente por trás de alguns dos maiores hits supertrâmpicos ("The Logical Song", "Dreamer", "Breakfast in America", "Give a Little Bit"), se mandou do grupo em 1983. Rick Davies — igualmente talentoso e criador de "Rudy", "Crime of the Century", "Bloody Well Right", "Asylum" e outras pérolas — continuou liderando o resto da patota e está aí até hoje, gravando e fazendo turnês de vez em quando, ainda carregando a marca Supertramp. Mas assim como Mutantes sem Rita, Barão Vermelho sem Cazuza, Raimundos sem Rodolfo e Bucheca sem Claudinho, o Supertramp não é a mesma coisa sem Roger Hodgson.

Hodgson também permanece por aí, rodando o mundo com as canções que o consagraram há tantos anos, e embora vê-lo num show solo também não equivala (palavra estranha) à improvável experiência de ver um dia o Supertramp original ao vivo, não titubeei quando soube que ele vinha a Berlim e comprei o ingresso no ato — assim como, anos atrás, tampouco hesitei em ver os Mutantes duas vezes, mesmo sem Rita, e certamente assistiria a Rick Davies com o Supertramp atual (eles também viriam à Europa agora no segundo semestre, mas infelizmente tiveram que cancelar a turnê enquanto Davies se recupera de um câncer).

O cenário: Tempodrom, uma casa de shows no centro de Berlim que, ano passado, recebeu o grande Steven Demetre Georgiou — conhecido hoje em dia como Yusuf Islam, e bem mais famoso sob "Cat Stevens" — em seu retorno triunfal às turnês mundiais. E assim como na apresentação de Cat Stevens, eu, que já não tenho mais sete anos de idade, era provavelmente o mais novo na plateia inteira.

Roger começou o show no piano, mandando a emocionante "Take the Long Way Home", que abria o lado B do Breakfast in America e por algum motivo me lembra um ponto de ônibus de uma rua do bairro Jardim América em BH. Logo em seguida emendou com "School", uma de suas poucas composições conjuntas com o parceiro de banda Rick Davies. A banda que o acompanhava, como é de praxe nesse tipo de show, reproduzia impecavelmente todos os backing vocals, solos de guitarra e modulações gaitísticas das canções originais. Destaque para Aaron MacDonald, o multi-instrumentista que toca saxofone e teclado e faz as vezes de John Helliwell, com dancinhas e tudo.

Desde o início, fica claro que a voz de Hodgson continua ótima. Ainda mais se tratando das melodias que ele compôs, todas cheias de notas altas. Experimente cantar "Dreeeeeeamer" pra ver se é fácil — e olha que o cara tem 65 anos de idade. Pense no Robert Plant, que aos 67 praticamente "regula" (como diria minha avó) com Roger Hodgson e precisa cantar as músicas do Led uma oitava abaixo.

As composições de Hodgson sempre tiveram uma pegada mais folk, mais pop, enquanto Rick Davies tendia mais para o progressivo e o jazz, com solos trabalhados e estruturas pouco convencionais. Muitos dos hits escritos por Hodgson que eu adorava quando criança — "It's Raining Again", "Breakfast in America" — me soam hoje meio bobinhas, e eu não estou sozinho nessa: o próprio Roger contou no show que escreveu essa última em 1 hora quando era adolescente, e não tem lá muita certeza do que queria dizer com a letra. A plateia do Tempodrom, no entanto, cantou e vibrou com todas essas. As boas canções solo de Hodgson, como "Death and the Zoo", também tiveram boa recepção, mas — nenhuma surpresa — sem a intensidade dos sucessos do Supertramp.


Entre as minhas preferidas estiveram "Don't Leave Me Now" (que tem um título irônico, considerando que é a última canção do último álbum com Roger no Supertramp) e "Fool's Overture", uma longa e elaborada música com várias partes, 10 minutos de duração e um show de luzes ao qual a foto acima, tirada no escuro com o celular, definitivamente não faz jus. Hodgson pode ter escrito coisas simples como "It's Raining Again", mas quando queria, sabia ousar na estrutura e experimentar novas possibilidades. "Fool's Overture" foi a última música antes do bis e terminou o set principal num final teatral e apoteótico.

Todo show desse tipo acaba num inevitável "Foi ótimo, mas faltou…". O show de Roger Hodgson foi ótimo, mas faltaram "Even in the Quietest Moments" e "Hide in Your Shell". Não dá pra se ter tudo.

Mas teve no bis: 


Now's the time that we need to share
So find yourself, we're on our way back home

Oh, going home
Don't you need, don't you need to feel at home?


Ver "Give a Little Bit" ao vivo, na própria voz que já ouvi tantas vezes desde que tinha sete anos de idade, é como estar em casa.

Setlist: 

1. Take the Long Way Home
2. School
3. In Jeopardy
4. Lovers in the Wind
5. Breakfast in America
6. Along Came Mary
7. The Logical Song
8. Lord Is It Mine
9. Had a Dream
10. The Meaning
11. Death and a Zoo
12. Only Because of You
13. Child of Vision
14. The Awakening
15. Don't Leave Me Now
16. Dreamer
17. Fool's Overture
18. Give a Little Bit
19. It's Raining Again

28/09/2015

O retorno do Biselho


Por essa você não esperava: o Biselho ressurgiu das cinzas. 

Lá se vão mil e dois dias desde que postei algo aqui pela última vez  um recorde até mesmo para os padrões desleixados da história deste blog. 

Alguns meses depois, em julho de 2013, escrevi o post derradeiro do Boca de Gafanhoto, um blog sobre a China que mantive durante os quatro anos em que morei em Beijing. De malas prontas para minha segunda mudança de país, encerrei o texto com uma semipromessa: "Não fiquei na China pra sempre, mas ainda não é hora de retornar ao Brasil: minhas aventuras se voltam agora para o Velho Mundo. Ganharão textos, fotos, vídeos? Não planejei nada, mas se eu fosse você, daria uma olhada no Biselho de vez em quando."

Se você seguiu o conselho e se decepcionou com a constante falta de novidades, esperando anos a fio por um novo post bom, provavelmente é o único. As estatísticas do Blogger deixam claras que a imensa maioria dos acessos atualmente vem de usuários pesquisando no Google por termos avulsos como "nomes arcaicos" e "menino luxento". Há um número grande de visitas da Rússia e da Ucrânia, e praticamente todas apontam para o clipe de "Opesdol", uma música da minha banda ABUNN cujo título é um vocábulo russo de baixo calão.

Caso você não faça parte do seleto grupo de oito pessoas que acompanhava o Biselho nos seus tempos áureos, cabe aqui uma breve retrospectiva. Criei este blog aos dezenove anos, no saudoso ano de 2004. Foram cinco anos de atividade constante, com períodos de explosão produtiva em que eu chegava a publicar um post todo dia, a épocas de vacas magras em que o blog criava bolor durante meses.

Em 2009, fui pra China e criei um novo blog dedicado especialmente à minha temporada asiática. A intenção era ficar seis meses, mas acabei morando lá por quatro anos  e enquanto o Boca de Gafanhoto ganhou um porrilhão de textos, fotos, vídeos e podcasts, o Biselho mal recebeu atualizações. A exceção foi uma série de 47 posts com comentários sobre cada um dos 235 filmes a que assisti em 2012. Depois disso, necas.


A verdade é que já faz um tempo que meus esforços não remunerados estão voltados à área audiovisual, de ficções sobre stalkers e gente presa no banheiro a documentários com nonagenárias simpáticas, passando por animações em stop-motion com rolhas de vinho. Até para o Cinema de Buteco, do qual participo desde sua fundação em 2008, passei os últimos anos muito mais focado no podcast do que nos textos.

Mas sinto falta de escrever. E não queria criar um novo blog "temático" como foi o Boca de Gafanhoto, falando apenas sobre minha vida na Alemanha. Estes dias fiquei olhando o Biselho, navegando pelos posts antigos e relendo coisas que escrevi há dez, onze anos  e me peguei pensando em retomar o blog depois de tanto tempo parado.

Aproveitei pra dar uma repaginada no visual. A versão anterior era tão antiga que ainda tinha link para o meu perfil do Orkut. Passei umas boas horas mexendo no código, fuçando os CSSs da vida e transformando este template no que você vê agora, com o azul-e-preto que já uso desde os idos de 2005. O blog também ganhou um menu de categorias no topo e de quebra tem um design responsivo que se adapta aos espertofones  perfeito pra compartilhar com a rapaziada no Zap Zap.

Ainda não descobri um jeito de voltar com os comentários antigos que o Biselho colecionou durante esses anos todos. Eles não eram hospedados diretamente no Blogger, mas numa plataforma de terceiros chamada Haloscan  que, como o Orkut, o Geocities, o Cadê, o HpG e tantas outras esferas virtuais, deixou de existir faz tempo. Estão backupeados em um arquivo XML que teoricamente deveria ser fácil de importar, mas minhas primeiras tentativas fracassaram por razões de teimosia do Blogger e/ou inabilidade técnica.

Tirando isso e um tanto de imagens quebradas  principalmente nos posts mais antigos, quando o Blogger tampouco oferecia a hospedagem de imagens e eu usava links para sites variados, muitos dos quais também já foram pras cucuias –, o arquivo completo do Biselho desde 2004 continua aí online, para escrutínio dos internautas.

Revisitei até mesmo a extinta Rádio Biselho, que trazia um punhado de canções selecionadas que eram trocadas de tempos em tempos e apareciam numa playlist incorporada à barra lateral do blog. Fazê-la era uma trabalheira: eu precisava converter as MP3 para um formato diferente, subir tudo num site externo e editar o código manualmente com o nome dos arquivos. Hoje em dia você monta uma playlist em dois cliques e cola onde estiver a fim. Reuni a maioria das canções que fizeram parte da Rádio Biselho, mas ficaram de fora algumas versões ao vivo e raridades, além de músicas de amigos e do ABUNN, minha banda (se nós e os Beatles temos algo em comum, é o fato de ambos não estarmos no Spotify).


E qual será a frequência dos posts do Biselho nesta inesperada nova fase?

Eu é que sei lá. Foi-se o tempo em que a gente chegava da faculdade ao meio-dia e tinha a tarde toda para ver Seinfeld, escrever um post ou dois pro blog, sair pra ensaiar com a banda e ainda assistir a um filme alugado por 1 real na locadora da esquina (foi-se o tempo, inclusive, em que existiam locadoras da esquina). Melhor não prometer nada, a não ser que não se passarão outros mil e tantos dias até o próximo post brotar. Vêm por aí textos sobre um campeonato de descascamento de camarões, blues tocado com vassoura e pá, minhas aventuras como figurante em Hollywood e outros temas de igual magnitude – quem sabe até os lipogramas sem as letras O e U, pra completar a pentalogia iniciada há mais de uma década.

Leitores véios de guerra, biselhantes de primeira viagem ou desavisados caindo aqui após uma busca incauta no Google, não importa – sejam bem-vindos, cambada.

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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