30/12/2005

Últimas retrospectivas culturais

A meta pra 2006 é a mesma de todo ano. Ver mais filmes, ler mais livros, assistir a mais shows bons. Mas sem promessas: ao contrário deste ano, em 2006 não vou prometer mais nada. Juro.



Top 10 filmes vistos no cinema em 2005:

10. A Queda - As Últimas Horas de Hitler
09. King Kong
08. O Guia do Mochileiro das Galáxias
07. O Jardineiro Fiel
06. Batman Begins
05. 2 Filhos de Francisco
04. Menina de Ouro
03. Manderlay
02. Sin City - A Cidade do Pecado
01. Closer - Perto Demais



Top 10 filmes que estiveram nos cinemas em 2005 (embora alguns eu tenha visto só no devedê):

10. Batman Begins
09. 2 Filhos de Francisco
08. Menina de Ouro
07. Manderlay
06. Sin City - A Cidade do Pecado
05. Edukators - Os Edukadores
04. A Fantástica Fábrica de Chocolates
03. Antes do Pôr-do-Sol
02. Closer - Perto Demais
01. Os Sonhadores

(Essa minha lista também foi publicada no Cinema em Cena)



Top 10 filmes assistidos em 2005 em vídeo ou devedê que eu, vergonhosamente, nunca tinha visto antes:

10. Taxi Driver (1976)
09. Os Suspeitos (1995)
08. Os Bons Companheiros (1990)
07. Edifício Master (2002)
06. Apocalypse Now Redux (1979/2002)
05. Laranja Mecânica (1971)
04. Arthur (1981)
03. Um Sonho de Liberdade (1994)
02. Amores Brutos (2000)
01. Antes do Amanhecer (1995)



Top 10 filmes mais esperados de 2006

10. Carros (junho)
09. Lady in the Water (agosto)
08. Piratas do Caribe 2 (julho)
07. X-Men 3 (maio)
06. Os Três Patetas (não se sabe quando)
05. O Código Da Vinci (maio)
04. Superman Returns (julho)
03. V de Vingança (março)
02. Sin City 2 (setembro)
01. Os 300 de Esparta (será que sai em 2006?)


Músicas que integrarão a minha trilha sonora do ano de 2005:

01. Angra - Wuthering Heights
02. Hilary Summers, Kemi Ominiyi & The R'SVP Voices - So Long & Thanks For All The Fishes
03. Damien Rice - The Blower´s Daughter
04. Christopher Cross - Best That You Can Do (Arthur´s Theme)
05. Dudley Moore - Medley: Santa Claus Is Coming To Town / Blue Moon / If You Knew Susan
06. Os Cariocas - Tarde em Itapoã
07. Bossa Nova Medley - Wave (João Gilberto) / Samba da Bênção (Bebel Gilberto) / Garota de Ipanema (Tom Jobim)
08. Dorival Caymmi Medley - Coqueiro de Itapoã / É Doce Morrer no Mar / 2 de Fevereiro
09. Peter Frampton - Show Me The Way (ao vivo)
10. Rolling Stones - Like a Rolling Stone
11. Foo Fighters - Best of You
12. U2 - One
13. Lucas Paio, Bruno Maluf & Paulo Victor - Isabella
14. Lucas Paio, Bernardo Silveira, Bernardo Silvino & Renato Villaça - Just Do It
15. O Móbile - O Culpado
16. Pearl Jam - Down (Rio de Janeiro, 04/12/2005)
17. Pearl Jam - Yellow Ledbetter (Rio de Janeiro, 04/12/2005)

Bônus Trash:
18. Black Eyed Peas - Don´t Phunk With My Heart



Top 5 shows assistidos em 2005:

05. Gilberto Gil (Chevrolet Hall, 7 de maio)
04. Focus e Cálix (Chevrolet Hall, 25 de maio)
03. Los Hermanos (Chevrolet Hall, 22 de outubro)
02. Tangos & Tragédias (Teatro Sesiminas, 9 de setembro)
01. Pearl Jam (Praça da Apoteose, Rio de Janeiro-RJ, 4 de dezembro)



Top 5 melhores livros lidos em 2005 (shame on me: só precisei tirar 3 livros da lista pra fazer um top 5):

05. O Evangelho Segundo Jesus Cristo (José Saramago)
04. Harry Potter and the Half-Blood Prince (J. K. Rowling)
03. O Guia do Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams)
02. O Restaurante no Fim do Universo (Douglas Adams)
01. Crônica de Uma Morte Anunciada (Gabriel García Márquez)

Top 3 leituras interrompidas na metade:

03. A Vida, o Universo e Tudo Mais (Douglas Adams)
02. Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (Jô Soares)
01. Por Um Fio (Dráuzio Varella)



Top 5 HQs lidas em 2005:

05. Sin City - A Dama Fatal
04. Asilo Arkham
03. 1602
02. Superman - Entre a Foice e o Martelo
01. Maus

Menção honrosa para as revistinhas da Turma da Mônica desse mês, que estão todas interligadas.



Top 1 pior HQ lida em 2005:

01. Asterix - O Dia Em Que O Céu Caiu (meus temores foram confirmados)

Menção desonrosa para Celton 16 - O Combate do Presidente Com o Mensalão. Vale pelas participações de Bonner, Fátima e a mulher do MGTV. Mas o que dizer de uma HQ, ainda que caseira, que contém trechos como este? "E assim, porque o presidente era o homem que o povo votou nele (sic), honesto, íntegro e corajoso, sem o rabo preso com ninguém, todos os corruptos foram presos e seus bens confiscados".

Se este ano nos trouxe uma certeza, foi a de que Lula não é o herói da história.

18/12/2005

Depois da última coelhada



Noite no supermercado quase vazio. Ela faz as compras para o fim-de-semana, empurra o carrinho com calma, olha a validade da manteiga. Está nisso quando ouve a voz no fim do corredor, dirigida a um funcionário:

- Qual é o pleço desse macalão?

O funcionário tenta segurar o riso. Não consegue, pede desculpas.

- Eh... três e oitenta e nove.
- Bligado - diz o homem, entristecido.

Ela mal acredita no que vê. Debaixo daquele chapéu e da barba por fazer, as semelhanças são tremendas. O timbre da voz é outro, claro, mas as peculiaríssimas nuanças no jeito de falar são idênticas. Ela só precisa tirar a prova. Aproxima-se devagar, com o carrinho. Ele continua envolvido com os preços das massas, não consegue se decidir entre o macarrão e o ravióli. Vendo mais de perto, ela fica em dúvida se é ele mesmo. Vai ser ridículo se não for, ainda mais se chamá-lo pelo apelido de infância.

- Ce... – começa ela, e pára no meio. O mesmo funcionário volta pelo corredor e ela aproveita pra disfarçar - Ce... senhor?
- Sim?
- Você sabe onde fica a seção de... cebolinhas?

O homem olha instintivamente. Pra ela é uma confirmação. Ignora o funcionário e suas indicações, e vai falar com ele, agora firme.

- Cebolinha?

Ele ri, assim sem jeito.

- Sou eu...
- Nossa. Cebolinha. Faz o quê, uns trinta anos?

O sorriso tímido dele permanece. Obviamente não a está reconhecendo. Força a memória. Principalmente porque, para uma mulher como aquela vir falar espontaneamente com um homem como ele, só sendo antiga conhecida mesmo.

- Eu... desculpa, eu não sei. Você...
- Cebolinha, Cebolinha. Vai dizer que esqueceu aquela que cê tanto enchia o saco quando a gente era criança?

Agora é ele quem mal acredita. Ela está agora tão alta quanto ele, tem os dentes perfeitos, e passa longe de qualquer sinal de obesidade. Mas é ela.

- Mônica? – balbucia.

Ela sorri.

- Faz tempo, não faz?
- Puxa vida. Muito tempo mesmo. Você tá... difelente...

Ela sorri mais ainda.

- Pode falar. Um corpinho invejável pra alguém com quase quarenta, né?

Ele não fala nada. Só pensa. Quando fala, é dos dentes.

- Pelo visto, não posso mais te chamar de dentuça...
- É. Oito anos de aparelho, meu caro. Oito longos anos.
- Ah, valeu o saclifício, né? Eu, pol outlo lado...

Ele tira o chapéu e mostra pra ela. Lisinha, lisinha.

- O último fio caiu faz dois anos – ele ri, decepcionado.
- Ah, não é possível. Você manteve um fio na cabeça? Um fio, Cebolinha?
- Quê isso, maiol olgulho aquele fio...
- Haha. Mas e aí, me conta, o quê que cê anda fazendo? Tá casado, tem filho?...
- Nada. Ainda no time dos solteilos na pelada de segunda à noite.
- Tá trabalhando onde?
- Alumo uns bicos aí, de vez em quando. Mas tô com um plano de montar um negócio com um amigo meu, em bleve...
- Sei. Você e seus planos...
- Não, mas esse é infalível!...

Ela acha graça, e vem-lhe a certeza: certas pessoas não mudam.

- Bons tempos, os nossos, né? Vocês me torravam a paciência, mas era divertido. Tem visto alguém da turma?
- O Cascão ainda jogava bola comigo, mas agola tá tão ocupado, dando palestla pelo país afola...
- Virou médico, né?
- Quem dilia. Outla que eu vi, mas já tem algum tempo, foi a Magali. Tava meio tliste, tinha sepalado do malido...
- Magali... nossa, eu me arrependo tanto da gente não ter ajudado ela, depois que ela descobriu que tinha era bulimia...
- Pior foi o Flanjinha.
- O que ele fez?
- Não lembla? Com doze anos começou a usar o labolatólio dele pla fazer loló. Chegou a intoxicar o cacholo dele fazendo testes, quase matou o coitado.
- Quê isso... e cê tem notícia dele agora?
- Depois que saiu do bailo, nunca mais vi. Um monte de gente, aliás. Mas e você? Encontla com alguém das antigas?
- Hmm, todo dia.
- Todo dia?
- Todo dia – ela sorri de novo, com seus dentes perfeitos.

Ele capta.

- Ah, não, Mônica. Não vai dizer que você casou com alguém da tulma.
- Pois é... – ela faz questão de ser misteriosa.
- Quem é?
- Ah...
- Anda, Mônica.
- Ah, chuta, vai.
- Titi?
- Não...
- Xaveco?
- Não, não...
- O Chico Bento. Não é possível. Você casou com o Chico Bento.
- Ele nem era da turma, Cebolinha.
- Ah, então sei lá, o Do Contla?

Pausa. Ele fica chocado, e é ela quem tem que falar:

- Também, ele era o único da turma que não me atazanava, né... hehe...
- Puta melda, Mônica. Com tanta gente no mundo, você foi casar logo com o Do Contla?
- Hmm, bobo. Pois fique sabendo que ele é um ótimo marido. E um ótimo pai, também.
- Imagino. Deve bater nas clianças no anivelsálio delas e te dar estlume no dia dos namolados.
- Vai me provocando, vai. Você lembra o que aconteceu da última vez.
- Ô se lemblo. Essa ciclatiz no queixo aqui, cê acha que é de quê?
- A culpa não é minha se você se desequilibra tão facilmente com uma coelhadinha de nada – ela diz, dando risada. Então aponta e fala – Olha só.

Ele olha dentro do carrinho dela. Se espanta quando vê as duas orelhinhas azuis.

- Puta que paliu. É ele??

Ela tira do carrinho e desdobra o pano: apenas uma toalha azul.

- Vou mandar bordar o nome da minha filha aqui. Dalila. Foi a minha homenagem pra ele, de certa forma...
- E ela tá com quantos anos?
- Vai fazer onze semana que vem. A outra já tem quinze, quase. Tá complicado, as duas naquela fase de querer sair, de arrumar namoradinho... Mas olha, como vale a pena. Cê não tem vontade de ter filho mesmo?
- Vontade tenho, né...
- Então! Toma jeito na vida, pô.

Ela diz isso rindo, mas percebe uma pontada de tristeza na súbita quietude dele.

- Eh... eu vou indo, tá? Tenho que acabar essas compras aqui...
- Vai lá. Qualquer dia a gente combina alguma coisa, alguma leunião da tulma...
- É, podia mesmo. Vou ver quem eu ainda tenho como achar, fazer umas ligações aí...
- Tá malcado então, hein.

Ele não quer se despedir, quer conversar mais. Quer que ela volte no assunto da paternidade, insista em perguntar sobre os filhos que ele não teve, ou o emprego fixo que ele não tem, para que possa, enfim, desabafar:

- Ah, Mônica, o que você espela que eu fale? Que todas as minhas namoladas me lalgalam antes de me aplesentalem plas famílias delas, com velgonha dessa melda de língua plesa? Que nenhuma emplesa quer contlatar um cala que fala desse jeito, pla não queimar o filme com os clientes? Que--

- Até mais, então.

Ela vira o corredor dos enlatados e desaparece com suas compras, alheia às lamúrias silenciosas do antigo amigo. “Até mais”, ele repete, mas ela já não está mais ali. Ele olha pro macarrão, olha pro ravióli, acaba pegando um pacote de miojo. Coloca entre as duas garrafas de vodca e segue com o carrinho, enquanto tenta criar coragem pra enfrentar a fila do caixa.

16/12/2005

War of the remakes


Podem me tacar pedras: não sei fazer bola de chiclete, não sei pular de ponta e não vi a versão original de A Fantástica Fábrica de Chocolates. Mas não me culpem por esse último. Embora vários digam que esse é o maior clássico sessão-tardino de todos os tempos (discordo: desse posto ninguém tira Curtindo a Vida Adoidado), a Globo não passa as aventuras de Charlie na fábrica de Willy Wonka há tanto tempo que nem lembro qual foi a última oportunidade perdida de ver esse filme. Se quiserem me tacar pedra por causa da Sessão da Tarde, taquem por eu ainda não ter visto Os Goonies.

Ontem à noite redimi uma parcela miúda de meus pecados, ao assistir ao remake 2005 da Fantástica Fábrica de Chocolates, dirigido por Tim Burton e estrelado pelo mutante Johnny Depp. Não foi o único remake que vi ontem: aluguei também a versão 2005 do Spielberg para Guerra dos Mundos, e com isso ganhei um cupom para concorrer a um DVD player no final do mês, nunca se sabe, né. Os dois filmes não têm absolutamente nada a ver - exceto pelo fato de que ambos são refilmagens, foram baseados em livros, têm diretores famosos no comando e rostos mais do que conhecidos como protagonistas. Itens mais que suficientes para colocarmos ambos num ringue de batalha e ver no que dá uma luta entre os dois, só pra espairecer. Vejamos:

Fidelidade ao original
Não li o livro cacaueiro de Roald Dahl (nem vi o filme de 1971), bem como não li o relato bélico-alienígena de H. G. Wells (nem vi o filme de 1953). Falo, portanto, com pouquíssimo conhecimento de causa, e não me gabarito para discorrer sobre este aspecto. Pra falar a verdade, nem sei pra quê eu pus essa categoria. Pula.

Premissa básica
Etês invadem a Terra. Crianças visitam uma fábrica de chocolates. Isoladamente falando, a primeira premissa é mais interessante do ponto de vista dramático. Mas já foi usada de tantas e tão variadas formas (só pelo Spielberg, em dois filmes, E.T. e Contatos Imediatos do Terceiro Grau) que o tema já está mais batido que meu carro três meses atrás. Por sua vez, não vejo assim tantos filmes com crianças visitando fábricas de chocolates, que aliás não deixa de ser um tema inusitado e original. Ponto para Willy Wonka.

Protagonista
Tom Cruise vs. Johnny Depp. Ridícula essa. Por mais que falem que não, Cruise faz o mesmo personagem há vinte anos. Enquanto Depp é a maior prova da versatilidade humana na história recente do cinema. Os personagens principais de ambos os filmes têm lá suas semelhanças (ambos são egoístas e têm claras dificuldades de lidar com crianças, por exemplo). Mas o chocolateiro Wonka, com suas frases sarcásticas e seus trejeitos malucos, ganha de mil do operador de guindaste (!!!) Ray Ferrier. Ponto para Wonka.

Principal criança em cena
Freddie Highmore vs. Dakota Fanning. Freddie é o Charlie do título original do filme dos doces (Charlie and the Chocolate Factory), enquanto a jovem Dakota vive a filha de Tom Cruise-Credo em Guerra dos Mundos. Freddie/Charlie mostra-se um bom ator infantil na primeira parte do filme, quando sonha em ganhar o bilhete dourado que vai levá-lo a uma visita à tal fantástica fábrica. Mas praticamente some quando começa a contracenar com Johnny Depp. Já Dakota (ô nominho... se era pra homenagear os Estados Unidos, por que não Carolina ou Virginia?) é claramente melhor que Cruise nas cenas que faz com ele. Ou seja, o filme todo. Ponto para Spielberg.

Coadjuvantes
De um lado, a corja de Tom Cruise: seu filho no filme (péssimo), Tim Robbins (competente, mas nada excepcional) e umas mulheres avulsas (que somem tão rápido quanto aparecem). Do outro lado, a família de Charlie e as criancinhas nojentas e metidas que também ganharam a visita à fábrica, todos caricaturais na medida certa, todos memoráveis. Sem dúvida alguma, ganha a turma de Charlie. Ponto para Willy Wonka.

Personagens esquisitos
Outro que não há dúvidas: os etês de Guerra dos Mundos são asquerosos e metem um certo medo, mas nada é mais bizarro que os Oompa-Loompas, interpretados todos por um só ator. E com o adendo do não menos bizarro idioma natal dos Loompas, que Willy Wonka usa para convidá-los a trabalhar na fábrica dele. Os etês não têm um idioma tão legal assim. Ponto para Wonka.

Trilha sonora
John Williams, antigo comparsa de Spielberg, versus Danny Elfman, antigo comparsa de Tim Burton. Williams já fez temas excelentes (Indiana Jones, Superman, Jurassic Park), mas em Guerra dos Mundos está contido, tímido, a gente quase não percebe que tem música tocando. Por sua vez, Elfman (responsável por Edward Mãos-de-Tesoura, Batman e Simpsons) compôs e cantou todas as musiquinhas cínicas que os Oompas-Loompas dançam (e dublam), o que por si só já garante mais um ponto para Wonka.

DVD
Fantástica Fábrica de Chocolates poderia ter um DVD muito mais completo do que este que está aí, só como extra só tem um trailer e o comercial da trilha sonora (!!). Material pra making-of não faltava, curiosidade para vê-los muito menos. Guerra dos Mundos conta com um disco só pros extras, com trocentos mini-documentários sobre o livro de H.G. Wells, o filme original, e todos os detalhes desta nova versão. Ponto para Spielberg.

Efeitos visuais
Guerra dos Mundos nos mostra uma destruição bem verossímil do nosso pequeno planetinha azul - mas digamos que isso é o mínimo que podemos esperar de um filme-catástrofe. Já a fantástica fábrica é recheada de absurdos detalhes visuais: uma cachoeira de chocolate, esquilos sacanas, um elevador que anda em todas as direções, sem falar na própria direção de arte e na fotografia do filme, magníficas (pra não dizer fantásticas). Mais um ponto para o filme de Tim Burton, o que nos leva ao resultado final:

Uma incrível (e previsível) lavada de seis a dois para Willy Wonka.

Willy Wonka, Willy Wonka
The amazing chocolatier
Willy Wonka, Willy Wonka
Everybody give a cheer!


E que venha o Rei.

14/12/2005

I wanna be away from here

A moda agora é deixar uma "wishlist" no orkut, na esperança de que algum amigo seu se compadeça e compre pra você aquela Ferrari Scaglietti que você tava querendo. Resolvi fazer minha wishlist também, quem sabe, né?

Neste Natal, eu quero:

- Sossego
- Evitar a fadiga
- Ver o oco
- Colo (vou fugir de casa)
- Te encontrar
- Te conhecer, vê se me dá uma chance...
- Sempre mais
- Ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci
- Que vá tudo pro inferno

13/12/2005

12/12/2005

Hope you´ll enjoy the show



Dezembro não seria dezembro sem as luzes de Natal que gastam toda a energia economizada com o horário de verão. Não seria dezembro sem a chuva fina que não dá trégua, e muito contribui para a onda de resfriados que acomete incautos como eu. Não seria dezembro sem as incontáveis retrospectivas e as inumeráveis listas de melhores do ano que tanto diverte quem as faz. Atrás de diversão, farei várias. Das comuns, melhores filmes, melhores músicas, às inusitadas, que só não vou revelar quais são porque ainda não as imaginei.

Começo com as melhores apresentações ao vivo que presenciei - e que presenciei fisicamente, porque senão não hesitaria em colocar na lista o Pink Floyd no Live 8, visto enquanto acontecia, numa MTV que insistiu em dar pau justo na hora do momento histórico.

Em 2005, fui num Camping & Rock pela primeira vez. O Woodstock da Serra do Cipó tinha começado numa quinta-feira, mas chegamos lá só no sábado, quando os banheiros já estavam infreqüentáveis. No final das contas, o Camping foi melhor que o Rock, e a comparação com o Woodstock fica mais por causa da lama do que pelas bandas presentes. A grande maioria delas eram covers - Pink Floyd, Pearl Jam, Iron Maiden, Metallica, AC/DC - não tão fiéis aos originais, principalmente depois de tanta coisa esquisita ingerida. As mulheres do Maria Pretinha, por exemplo, erraram um monte de letras dos Mutantes e Secos & Molhados, que não estão entre as poesias mais complicadas de se decorar do mundo.

Outro cover, mais bacana, que assisti foi o The Musical Box. Canadenses, se não me engano (preguiça de olhar no Google). Competentíssimos imitadores do Genesis, a ponto de usar as máscaras que Peter Gabriel usava nos shows, tocaram no Chevrolet Hall, na íntegra, o disco duplo The Lamb Lies Down on Broadway, com direito à música que dá nome à banda no bis. Ainda na linha dos sósias musicais, teve também a peça Chico Rosa, mezzo falada mezzo cantada, que mini-resenhei aqui, mas que figuraria na categoria "teatro" se esta lista fosse mais acurada.

Ultraje acústico. Esse fui outro dia, de ultíssima hora, comprando com os cambistas da porta mais barato que na bilheteria. Continuo firme nas minhas opiniões sobre o acústico do Ultraje: repetitivo, nada inovador. Mas a banda em si é muito divertida, e, no show que vi no Chevrolet, a única coisa de acústica era um moleque de uns dezesseis anos tocando violão. De resto, mais do mesmo, banda em pé, as guitarras distorcidas, e o guitarrista Serginho permormático como nunca. Passearam pelos numerosos sucessos e ainda fizeram covers insólitas, muitas vezes improvisadas ("Paranoid", "Blietzkrieg Bop" embromada pelo Roger, "Long Tall Sally" cantada pelo moleque, e o hino do São Paulo, unanimemente vaiado pela platéia). E é muito engraçado observar a fauna de um show do Ultraje: de quarentões cabeludos tatuados a menininhas de doze anos, de pré-adolescentes mochando até mãe e filha cantando juntas, e os muitos e apaixonados casais de 25 anos: todos gritando "CU!" a plenos pulmões no refrão de "Nada a Declarar". Muito bonito.

Destaco ainda os shows de amigos - Prime, Libélula e O Móbile entre os mais legais, vários de cada um, nos lugares mais carimbados de Beagá: A Obra, Matriz, Pau & Pedra, Neutral, Pop Rock Café, No Fundo do Baú. E agora, o inevitável tópe cinco.

5 - Gilberto Gil (Chevrolet Hall, 7 de maio)
Fui de última hora, de graça e ainda pude ver e ouvir ao vivo coisas como "Maracatu Atômico", "Soy Loco Por Ti America" e "Aquele Abraço".

4 - Focus e Cálix (Chevrolet Hall, 25 de maio)
O Cálix era só a banda de abertura, mas o show foi pau a pau com a atração principal. Melhor momento: "High Hopes", do Floyd, com o guitarrista surgindo no meio da galera, na arquibancada, ao melhor estilo Mestre dos Magos. O Focus, pra variar, fez um showzaço. Melhores momentos: "Sylvia" e o velhinho band-leader correndo, pulando e se ajoelhando como um guri no circo.

3 - Los Hermanos (Chevrolet Hall, 22 de outubro)
Mini-resenhado aqui.

2 - Tangos & Tragédias (Teatro Sesiminas, 9 de setembro)
No texto que fiz na época do show, escrevi: "Poderia me arriscar e dizer que esté é o show do ano, mas 1) o ano ainda não findou; 2) não vi tantos shows assim em 2005 pra fazer um ranking respeitável". De fato, seria este o show do ano, não fosse a presença do pessoal de Seattle e seu português embromado pra desbancar os sbornianos.

1 - Pearl Jam (Praça da Apoteose, Rio de Janeiro-RJ, 4 de dezembro)
Foi tudo esmiuçado aqui. E até hoje escuto o cd que gravei com as músicas do show.

Agora faça a sua lista você também.

07/12/2005

Hey ho, Rio!



Não consegui comprar a camisa verde-amarela, com o mascotinho da banda e a tradicionalíssima frase: "Eu Fui!". Na entrada, vendiam por 25 merréis, o que considerei exorbitante, e preferi deixar pra comprar depois do show, quando certamente cairíam a dez ou quinze. Vi-me vítima da minha certeza ao sair da Apoteose e descobrir que todas as camisetas já tinham sido vendidas para fãs felizes que agora as ontentavam por aí.

Não consegui sequer pegar um flyerzinho que distribuíam na saída, onde, além do nome da banda e da data daquele dia, estava escrito: "O show da minha vida!". A manada de quarenta mil pessoas indo embora pela Marquês de Sapucaí, e o empurra-empurra característico de saídas de shows, não me deixaram estender a mão pra pegar o papelzinho que a moça entregava pra todo mundo. Minha única lembrança material da fantástica apresentação que acabara de presenciar seria, portanto, apenas o ingresso, que felizmente não se desmanchou em meu bolso com o suor.

Por isso, foi com prazer prazer que descobri Orkut afora uma porção de links para as mp3 do show, com as duas horas e vinte minutos de canções em excelente qualidade de gravação. Dão dois cedês, com a capinha oficial inclusive, e a bizarra grafia do nome da cidade: "Rio de Janiero". É muito bom ouvir a galera cantando em uníssono e poder falar: "eu também estava lá, também cantei junto". E não uma bandinha simplesmente, mas aquela que há 15 anos era aguardada pra tocar em terras brasileñas, desde que surgiu em Seattle com um dos melhores discos dos anos 90.

Com isso, cumpro a primeira das minhas quatro resoluções de fim-de-ano que coloquei aqui em outubro. Escrevi na época: "Nem estava muito nos meus planos, mas vários amigos meus tão animando e agora estou considerando seríssimamente". Hoje sei que me arrependeria amargamente se não tivesse ido.

Saímos no sábado à noite numa excursão organizada pela Galo Metal, o que talvez tivesse a ver com o fato de que só voltaríamos... na segunda. Os dois ônibus partiriam dali em frente ao Diamond à meia-noite, mas só fomos pegar estrada depois de uma da manhã. Perguntamos o motivo do atraso pro organizador da excursão. "O ônibus veio sem televisão, tive que mandar voltar e buscar uma!", disse ele, como se doesse passar uma noite sem tevê, dormindo no ônibus. Desnecessário dizer que ela permaneceu desligada tanto na ida quanto na volta. No total, foram nove horas só de ida, contando com paradas que se alongavam por quase uma hora e um motorista dando voltas inúteis no quarteirão pra chegar em Copacabana. Sem falar nos tradicionais malas gritando a viagem inteira, e o torcicolo que adquiri após uma noite de sono nada ideal.

Ali, perto do Posto 1 de Copacabana (ou seria o Leme?), era cada um por si até as quatódatarde, horário marcado pra todo mundo se encontrar de novo. Estávamos em seis: eu, meu primo e quatro colegas dele. Fomos pro Leblon num micro-ônibus e passamos as horas seguintes simplesmente matando tempo: café da manhã na padaria, cervejinha e água de côco na beira da praia, mais comida, mais cerveja, mais ônibus de volta pro ponto de encontro.

Chegamos na avenida Presidente Vargas lá pelas cinco horas, debaixo de um céu azulzíssimo e sem nuvens. Atravessamos a Sapucaí toda a pé, sem sambar, e descobri que a avenida não era tão larga quanto eu achava, vendo pela Globo. Público imenso na Apoteose, arquibancada e pistada lotadas, difícil se locomover. Ainda assim conseguimos um lugar razoavelmente bom, no meio, embora um pouco longe do palco.

Sete e meia entra o Mudhoney. Gostei de algumas coisas, alguns riffs, mas no geral não curti muito o show de abertura. Razões principais: não conhecia absolutamente nada, assim como boa parte do pessoal ali presente; o som deixava a desejar, graves estourando e guitarras barulhentas; e, pôxa vida, não era aquela a banda que todo mundo mais queria ver.

Oito e cinqüenta, céu já escuro, apagam-se os holofotes e entram, finalmente, os caras da banda. Putaquepariu. O Pearl Jam está no palco.

Não foi à toa que jornais impressos e internéticos publicaram manchetes como: "Pearl Jam gera catarse coletiva no Rio". Já na segunda música, "Do The Evolution", a empolgação era geral, e pouco importava se não conseguíamos ver tudo direito, se o vendedor de águas enchia o saco toda hora pra passar com sua caixa enorme, se incomodava a quantidade de pés e cotovelos por metro quadrado. A tal "catarse coletiva" continuou até a última música, uma cover do The Who, quando, já com os holofotes ligados, Eddie Vedder se despediu: "Be good to yourselves. Peace. Peace. Love you. Good night. Goodbye". Será que demora mais quinze anos?

Melhores momentos:

>> Gritar "It´s evolution babeeeeeeeee!" sem a mínima preocupação em ficar rouco.

>> Os versos iniciais de "Corduroy", que pareciam se encaixar muito com a situação ali: "The waiting drove me mad / You´re finally here and I´m a mess". Embora "a mess" mesmo eu tenha ficado após o show, as pernas doendo e a garganta acabada.

>> "Daughter" e os gritos de guerra puxados por Eddie Vedder, e que depois todo mundo ficava repetindo entre as músicas.

>> Quarenta mil pessoas cantando "Better Man". E ainda emendando ao final um lado B dos Ramones, "I Wanna Be Your Boyfriend". Maravilhoso.

>> O alívio de ver "Alive" ao vivo (dá um poema, não?).

>> O segundo bis, com a melhor seqüência do show: A inesperada "Last Kiss", as ultra-esperadas "Black" (numa versão gigantesca, 12 minutos, boa parte deles com "tchururu tchu tchururu" da galera), "Jeremy" e "Yellow Ledbetter", e a saideira com "Baba O´Riley", do The Who.

Melhores frases faladas por Eddie Vedder e seu português quase incompreensível:

>> "Esta é nossa última noche no Brazil. Vamos tentar fazê-la a melor."

>> "Então as escolash de samba desfilam aqui. Hodi o rock de Seattle vai desfilar."

>> "Cuiden ben uns dos outros, por favor, yes?"

>> "Vamos dar as ben-vindas ao palco para o grande Mudhoney! O sinhor Steve Turner e sinhor Mark Arm! No que o tal Mark grita pra galera: "Right now, Rio di Janerio...!"

>> "Tocamos para cento e vinte mil brassilieros e vocês foram tremendos! A próxima vez que tocarmos aqui, o mundo será melor, porque George Bush não será más presidente!". Há relatos de que muita gente começou a gritar, nessa hora: "O Lula também não! O Lula também não!

Para baixar as mp3 do Rio, entre aqui, e siga as instruções. Para todas as músicas da turnê sul-americana, aqui é melhor.

03/12/2005

It´s my aeroplane



Essa vai ser ótima pro meu currículo: finalista nacional do Campeonato Mundial de Aviões de Papel na categoria melhor acrobacia.

2005 tem sido um ano de fatos avulsos, como conhecer pessoalmente um ornitorrinco. Mas essa do campeonato de aviõezinhos superou tudo. Principalmente pelo absurdo da situação, mas também por causa do prêmio: além de duas latinhas de Red Bull e uma caixinha-troféu, vou para São Paulo em abril do ano que vem, junto com cinco outros belorizontinos, disputar a final brasileira!

Tudo começou no dia 24 de novembro, quando, na saída da faculdade, uma estudante de Relações Públicas me entregou um pop card. Marcela é seu nome, e me lembro de ter encharcado a coitada de tinta no dia do trote dela. O pop card falava do campeonato patrocinado pela Red Bull e contava que a final seria lá nas Oropa, na cidade austríaca de Salzburg. A própria Marcela, que trabalha na Red Bull, me inscreveu ali na hora pro tal campeonato.

Nos dias seguintes, descobri na internet um modelo bacana, chamado Nick Plane. Aprendi a construí-lo e treinei um pouco em casa e no estágio, planejando disputar com ele a categoria de maior tempo de vôo. E só. Para as categorias restantes, maior distância e melhor acrobacia, pouco me lixei. Alguns dias depois, recebi um e-mail dizendo que a eliminatória de Belo Horizonte seria realizada no dia 3 de dezembro, um sábado à tarde, no ginásio do Barroca Tênis Clube. Achei ótimo, não tinha nada pra fazer no dia mesmo, e o Barroca ainda ficava do lado da casa dum primo meu.

Pretendia ir hoje mais cedo pro prédio dele fazer um treinamento na quadra ou no salão de festas, mas acabou que não ia ter ninguém em casa, e acabei indo em cima da hora direto pro Barroca. No caminho ainda cruzei com o Celton, célebre vendedor ambulante de revistinhas em quadrinhos de fabricação caseira. Estava no sinal com sua tradicional plaquinha, terno amarelo estilo Máskara e, dessa vez, uma faixa amarrada na testa. Passei por ele e gritei: "Celton!!". Ele fazia uma pose mezzo super-herói, mezzo lutador de kung-fu, e gritou: "Rá!!" pra mim. Não entendi o significado daquilo, mas ri bastante sozinho.

Cheguei num ginásio quase vazio lá no Barroca. Aos poucos, as pessoas foram chegando, mas não mais que quarenta, sendo que dessas apenas metade estava de fato participando, o resto era gaiato. Meu primo e co-piloto, Bruno, apareceu logo em seguida (também como gaiato) e ficou me ajudando na confecção de alguns aviões. Colocaram nas mesinhas vários maços de papel A4, e dá-lhe gente fazendo e tacando aviãozinho pra cima, uns muito bons, outros ridículos.

Para o maior tempo no ar, fiz alguns Nick Planes. Já no quesito maior distância, nosso trunfo era o "super a jato nato", modelo que desenvolvemos ainda na infância, capaz de singrar o ar com considerável velocidade e atravessar uma quadra, se jogado direito. Enquanto isso, bebíamos Red Bulls e nos esbaldávamos com pães de queijo, coxinhas e enrolados de presunto que nos foram distribuídos. A tarde já valeria a pena somente por aquele lanchinho free.

Lá pelas tantas, começou o campeonato. Fizeram uma pista de pouso na quadra, com luzinha e tudo, e era de lá que os participantes jogavam suas aeronaves de papel. Foi aí que descobri uma coisa muito legal: só havia por ali alunos da PUC e da Uni, e se classificariam final em Sampa três alunos de cada faculdade, ou seja, seis pessoas de Beagá. Vi minhas chances aumentarem bastante quando descobri isso, porque tinha mais gente da PUC que da Uni, e muita, mas muita gente simplesmente não foi: dos 72 universitários inscritos, só uns vinte deram as caras.

A primeira categoria foi maior distância. Logo de cara, um aluno da PUC fez um vôo de 22 metros, sorte que eu não concorria diretamente com ele. Seguiram-se muitos vôos na média (nove, dez metros), e alguns absurdamente horríveis (dois metros, por exemplo). Nesses casos, um sonoplasta engraçadinho punha aquela famosa vinhetinha de fracasso: "féum, féum, féum...". A tal Marcela que me inscreveu ia anunciando os competidores e narrando os arremessos.

Quando chegou a minha vez, lancei os dois super a jato natos que o Bruno tinha feito, mas os resultados não foram tão bons quanto a gente esperava. Tínhamos testado-os tanto que já estavam meio amassados, e sua performance ficou prejudicada. O primeiro voou 9,45 metros e o segundo percorreu 12 e uns quebrados. Era permitido duas tentativas, e a melhor era a que contava. O aluno da Uni que ganhou (um cara chamado Marco Aurélio, com quem eu tinha conversado mais cedo) fez 13 metros e um tiquim. Ou seja, perdi por um metro.

A segunda categoria foi a de maior tempo de vôo. Fui bem: a maioria voava 2 ou 3 segundos, mas o meu Nick Plane ficou 4 segundos e 40 centésimos no ar. Dessa vez perdi por menos ainda: o vencedor voou durante 4 segundos e 64 centésimos. Em minha segunda tentativa, taquei não um Nick Plane, mas um modelo semelhante que conhecia já há alguns anos, mas fui bem pior, chegando a ganhar um "féum féum féum" do sonoplasta.

Veio então a terceira categoria, a mais menosprezada da tarde. Tinham todos trabalhado com afinco pensando em voar muito ou voar longe, mas não nas piruetas da categoria de melhor acrobacia. Eu mesmo fiz um aviãozinho ali na hora: lembrei de um antigo modelo que vi num livro que meu pai me deu e tentei fazer parecido. Nem cheguei perto, e consegui um avião bizarro, mas que pelo menos era um avião. Os outros competidores tinham confeccionado modelos totalmente esdrúxulos, que só rodavam loucamente em torno de si mesmo, ou que nem chegavam propriamente a voar. Lancei meu avião improvisado pra cima, que não fez nada de muito especial: um looping aqui, uma guinada de 180 graus ali, uma plainada e pronto. Em vista dos concorrentes, no entanto, arranquei algumas palmas e fiquei, aí sim, na expectativa.

A angústia não durou muito, já que o anúncio dos vencedores foi logo em seguida. Puseram uns latões da Red Bull pra servir de pódio e falaram primeiro o nome dos três ganhadores da PUC. Algumas fotos e sorrisos depois, anunciaram os da Uni-BH. Marco Aurélio, o cara dos 13 metros, ganhou na maior distância. Para o maior tempo de vôo, venceu Fabrício, o dos 4 segundos e 64 centésimos. Finalmente, a Marcela diz no microfone: "Na categoria melhor acrobacia... Lucas Paio!"

Taí a foto aí em cima que não me deixa mentir. Vai ser um bom final de semana: campeão de aviãozinho num dia, show do Pearl Jam no outro.

E que venha a Áustria.

01/12/2005

Próxima edição

O apartamento ficou pequeno pro tanto de tralhas que veio da casa do meu pai. Minha coleção de revistas em quadrinhos, encaixotada já há algum tempo, entrou na dança e foi obrigada a ser desmembrada, coitada. A maior parte delas eu tinha juntado entre 1997 e 2000, e doei pra uma colega minha cuja família é toda comics-addict. Mantive apenas o filé da coleção: Batman: o Cavaleiro das Trevas, Watchmen, V de Vingança, obras que ultrapassam a bobajada maniqueísta que permeia boa parte dos quadrinhos americanos, e que tão cedo não penso em passar pra frente. O bom foi que, com a necessidade de reabrir as caixas empoeiradas com as revistas, me voltou a vontade de reler várias daquelas histórias. 2005 marcou, portanto, minha volta ao mundo dos quadrinhos. Mas não que eu tenha retornado completamente: afinal, das HQs realmente inéditas que li durante este ano, a grande maioria eu peguei emprestado.

Um top 5 sem posições:



Sin City - A Dama Fatal

Fosse um tempo atrás eu precisaria explicar que não, não se trata de uma versão quadrinística do clássico joguinho de computador. O status e a fama das histórias de Frank Miller aumentou bastante depois do lançamento do filme, Sin City - a Cidade do Pecado, a mais fiel adaptação de HQ de todos os tempos, e um dos melhores filmes do ano. Esse A Dama Fatal tem como personagem principal o detetive Dwight (que também protagoniza uma das histórias do filme), que se vê às voltas com uma ex-namorada. Será a história-base para o próximo Sin City a ser lançado nos cinemas. Aguardamos ansiosamente.



Superman - Entre a Foice e o Martelo

Uma premissa interessantíssima: o que aconteceria se a nave do Super-Homem não tivesse caído numa cidadezinha estadunidense, mas num vilarejo na União Soviética? Em três edições, passamos por um Clark Kent comunista, um Batman revolucionário, um Super-Homem que sucede Stálin e um Lex Luthor fodaço, mais inteligente que nunca. Além do final mais surpreendente que vi numa HQ em muito tempo.



1602

Outra que tem um cunho histórico: como seria se os heróis da Marvel vivessem na Europa pós-medieval? A trama se passa, como se poderia imaginar, no ano de 1602. Capitão América é um indiozão do Novo Mundo. Magneto é um inquisidor. Demolidor é um trovador cego, e por aí vai. É muito divertido ficar caçando quem é quem na história - e na História, já que alguns notórios reis e rainhas também dão as caras (e as coroas).



Asilo Arkham

Uma espécie de "Alice no País das Maravilhas" malucão. Os criminosos do Asilo Arkham tomam conta do manicômio e exigem a presença do Batman ("O Bátima!!!!") no local pra soltar a galera. Diálogos ora engraçadíssimos, ora perturbadores, totalmente insanos. Sem falar nos vilões do Batman, que sempre roubam a cena.



MAUS

Meu novo xodó da coleção. Fiquei esperando anos pra comprar, simplesmente porque a edição em português estava esgotada no mercado. Parece um livro, são quase 300 páginas de narrativa bem bolada, metalinguagens adequadas e um relato fiel da Polônia durante a Segunda Guerra e os campos de concentração, especialmente Auschwitz, onde esteve o pai do autor. Art Spiegelman, roteirista e desenhista, retrata os judeus como ratos, os alemães como gatos, os americanos como cães, tornando tudo ainda mais interessante. Não é à toa que essa foi a única história em quadrinhos a ganhar um Pulitzer.

Se você se interessou por alguma dessas revistas, faça como eu: peça pro Silveira!

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

Busca no blog

Leia

Leia
Cinema-Múndi: Uma viagem pelo planeta através da sétima arte

Leia também

Leia também
A Saga de Tião - Edição Completa

Ouça

Ouça
Sifonics & Lucas Paio - A Terra é Plana

Mais lidos

Leia também


Cinema por quem entende mais de mesa de bar

Crônicas de um mineiro na China


Uma história parcialmente non-sense escrita por Lucas Paio e Daniel de Pinho

Arquivo

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *