26/12/2023

Novo microconto na área

Depois de ver três microcontos meus como parte da coletânea Micros, Uai!, foi a vez de outro microconto de minha autoria aparecer nas páginas de um livro: "Obituário", uma tragicomédia em 57 palavras, foi selecionado para a Coletânea de Microcontos 2023, da Editora Persona. 

O livro, que conta com uma penca de microcontos de autores de todo o Brasil, está disponível para compra no site da Editora Persona.

25/05/2023

Age of Asparagus


Percebi que tinha me adaptado às terras germânicas no dia em que me vi na fila do supermercado comprando um livrinho só com receitas de aspargos. 

Os alemães são absolutamente fissurados com aspargos. Quando chega a primavera, todos os restaurantes anunciam cardápios especiais só com receitas de aspargos, os supermercados os colocam em posição proeminente nas gôndolas e as buscas no Google por "Spargel" – como o vegetal é conhecido na língua de Goethe – atingem seu pico anual. No gráfico abaixo, compare com as pesquisas por "Kartoffel" (batata), outra notória paixão alemã. 


Parte do apelo é a sazonalidade: é um vegetal disponível por tempo limitado, coisa de dois meses apenas. Quando chega junho, acabou-se o que era aspargo, e depois só no ano que vem. E é tão popular que nem sempre a oferta dá conta da demanda. Outro dia mesmo deixei pra ir no supermercado às três da tarde e não tinha mais aspargos verdes. Certamente deve haver algum ditado alemão do tipo "Deus ajuda quem cedo madruga", mas usando aspargos como analogia.


Tanto os aspargos brancos quanto os verdes pertencem à mesma espécie, o Asparagus officinalis. Os brancos são os preferidos dos alemães, geralmente cozido e degustado com molho holandês (feito com manteiga e gema de ovo) e acompanhando um bom Schnitzel. Em 2021, o McDonald's alemão criou até um hambúrguer com aspargos brancos e molho holandês (que não deve ter feito sucesso, pois já saiu de linha). Acho que um pacotinho vermelho de fritas, com aspargos verdes no lugar das batatinhas, seria um méqui-petisco mais gostoso, mas enfim.


Os aspargos verdes são mais versáteis: dá pra refogar, cozinhar, assar, grelhar. E são mais fáceis de fazer do que os brancos, porque você não precisa descascá-los, só quebrar a ponta de baixo, mais dura e madeirosa. São os meus preferidos, não só pela conveniência, mas pelo sabor mesmo.

No Brasil dá até pra encontrar aspargos em alguns supermercados, mas é tipo um vegetal lado B, que muita gente nunca comeu. Uma vez, visitando Beagá, fui convidado para um churrasquinho e levei, todo contente, um punhado de aspargos verdes que achei no Verdemar. Teve gente que olhou e perguntou: "o que é isso?".

Daqui a poucas semanas os aspargos vão sumir das gôndolas, mas enquanto isso sigo aproveitando o Spargelzeit – "época dos aspargos" – em qualquer oportunidade. O livrinho de receitas que comprei há quatro anos, inclusive, já foi usado várias vezes, junto com receitas variadas da internet e improvisos caseiros. Olha aí alguns exemplos que não me deixam mentir:

Aspargos ao forno, enrolados em fatias de abobrinha e queijo fresco:


Aspargos com cuscuz e morangos:


Aspargos acompanhando um franguinho improvisado com tomates e cebolas:


Aspargos, ervilhas e outros legumes com tempero indiano acompanhando salmão:


Aspargos com salmão e purê de ervilhas:


Aspargos com almôndegas, sementes de romã e um creme que não lembro mais do que era feito:



22/05/2023

Uai, tô na antologia "Micros, Uai!"

A Editora Pangeia está lançando uma antologia de microcontos só de autores mineiros. 

Acabei sendo selecionado e estou entre os 86 microcontistas do livro, a ser lançado no dia 25/05. De cada autor entram 3 microcontos, cada um com até 333 caracteres – por acaso, o número exato de caracteres deste post.

Para comprar clique aqui, uai!


16/04/2023

Diário de um cozinheiro nível zero


Dia desses encontrei um registro que escrevi para mim mesmo no longínquo ano de 2011, quando morava na China, intitulado "Diário de um Cozinheiro Nível Zero". Devia ter sido alguma resolução de ano-novo ou a chegada iminente dos meus 26 anos (meu aniversário seria no dia seguinte), mas foi o dia em que decidi que não seria má ideia aprender a fazer ao menos uns ovos mexidos, e documentar a experiência para a posteridade. Pois a posteridade chegou, e resolvi compartilhar o texto aqui:

Domingo, 2 de janeiro de 2011

Depois de duas refeições consecutivas comendo miojo chinês, resolvi criar vergonha na cara e deixar de ser uma nulidade na cozinha. Vinte e seis anos nas costas e nunca fritei um ovo na vida. Minhas experiências culinárias se resumiam a preparar miojo, fritar hambúrguer e requentar a comida feita pela minha mãe. 

Fui ao Chaoshifa, supermercado que fica a um quarteirão da minha casa, e comprei ingredientes diversos: ovos, macarrão, massa de tomate, batatas, temperos. Sozinho e sem idéia de como pilotar um fogão, recorri ao Google. As gerações antigas tinham o manual da Dona Benta; eu tenho sites como How Cast e wikiHow. Fucei as páginas e resolvi que, nessa primeira aventura, me ateria aos ovos. 

A primeira tentativa foi um ovo frito. Na hora de quebrar, exagerei na força e espatifei a gema, impossibilitando um ovo frito bonitão, com clara e gema bem delimitadas. Esquentei a frigideira por mais tempo do que devia e, quando coloquei a manteiga, ela ficou marrom em questão de segundos. Desliguei o fogo, lavei a frigideira e comecei de novo. Fritei o ovo da gema espatifada e não ficou ruim, só não ficou bonitão. 

O estômago pedia mais e optei, dessa vez, por ovos mexidos. Quebrei dois ovos na tigela, dessa vez com mais sucesso. Adicionei sal, pimenta-do-reino e queijo derretido (peguei daqueles queijos em fatia que a gente põe no sanduíche e esquentei no microondas por alguns segundos. Pensando agora, é meio burrice derreter um queijo que vai encarar a frigideira logo em seguida, mas tudo bem). Bati a mistureba com garfo até ficar homogêneo, como mandavam as instruções na internet, e joguei na frigideira, mexendo com a espátula. Quando comecei a ver alguns pedaços empretecendo, desliguei. Não chegou a comprometer não: foram ovos mexidos até razoáveis, considerando minha fome e a completa falta de experiência.

Doze anos depois, tenho o prazer de reportar que já fritei múltiplos ovos, não como ovos queimados e tampouco derreto queijo no microondas para depois jogar na frigideira. 

05/04/2023

Fonobibliotecologia


Confesso que tinha um certo preconceitozinho contra os audiobooks. "Não é leitura de verdade", "É pra quem tem preguiça de ler" e coisas do tipo. Era, inclusive, uma baita duma hipocrisia, pois quando moleque eu gravava livros inteiros em fitas K7 – Manual do Super-Herói, Viagem ao Centro da Terra, Caçadas de Pedrinho – e até tinha minha própria locadora de "talk-books" (era assim que se chamavam nos anos 90), alugando fitas para os parentes mais generosos, como já contei faz tempo.

Em 2020, porém, ganhei uma assinatura do Audible de aniversário e resolvi experimentar. A ideia era aproveitar o "tempo morto" do dia a dia – indo e voltando do trabalho, lavando vasilhas, aspirando a casa – para aprender (ou simplesmente me entreter com) alguma coisa por via auricular. E acabei incorporando os audiobooks na lista de formatos em que consumo conteúdo, cuja última adição tinha sido o Kindle alguns anos antes.

Há períodos em que os deixo de lado em prol de outras trilhas sonoras para jornadas e atividades, como podcasts variados ou a boa e velha música, mas, como atualmente estou numa fase mais audiobúquica, andei matutando que o formato sonoro funciona até melhor para certos tipos de livros do que sua contraparte em caracteres romanos, ou pelo menos traz umas vantagens que a versão impressa não tem.

Por exemplo:


Livros onde a pronúncia das palavras é importante. Um bom exemplo é The Art of Language Invention, que mencionei no post anterior. Ser versado no alfabeto fonético internacional pode ajudar a saber que "Valar morghulis" não se diz "morgúlis", e sim "morrúlis", mas a melhor maneira de entender como palavras de grafia hermética (digamos, "M'athchomaroon" ou "Isalnœœlœ") são pronunciadas é mesmo ouvindo alguém falar.

 
Livros narrados pelo próprio autor. Isso, claro, se o autor for tão bom de papo quanto de texto. Mas escutar o próprio Dave Grohl narrando suas memórias em The Storyteller foi quase como passar umas horas tomando cerveja com ele e ouvindo seus causos de adolescência, de Nirvana, dos palcos da vida. Também é massa quando o autor empresta uma dramaticidade extra à leitura, como Stephen Fry ao narrar anedotas da mitologia grega em Mythos, que é difícil de replicar no texto impresso.

 
Livros em outro idioma para treinar a compreensão. Ouvir e entender uma língua pode ser mais complicado do que ler ou mesmo falar, e os audiobooks (assim como os podcasts) são uma boa pedida para treinar o seu inglês, espanhol, francês ou alto valiriano. Eu deveria seguir minha própria dica e escutar alguns livros em alemão, mas é aquela história, faça o que eu digo, não o que eu faço.

 
Livros com um grande elenco de vozes. Esses entram quase na categoria "audiodrama", mas são uma experiência interessante. O livro de Guerra Mundial Z (que não tem patavina a ver com o filme) é escrito como uma "história oral" de um conflito global contra uma legião de mortos-vivos, e cada capítulo é narrado por um personagem diferente. A versão em inglês para audiobook aproveitou para escalar um elenco de responsa, incluindo Simon Pegg, Mark Hamill, John Turturro, Alfred Molina, F. Murray Abraham e até Martin Scorsese (!), dando a impressão de se estar ouvindo um verdadeiro documentário de guerra.

 
Por outro lado, o meio visual continua imbatível para muitos outros tipos de conteúdo.

Há os exemplos óbvios – livros de referência, de fotografia, graphic novels etc –, mas mesmo livros de texto corrido que tenham ilustrações, diagramas ou tabelas são meio complicados como audiobook. Geralmente há um PDF acompanhando o arquivo de áudio e você pode consultá-lo quando quiser, mas é uma amolação ter que clicar no maldito PDF e achar o maldito diagrama mencionado pelo narrador, ainda mais quando você está lavando vasilhas e tem as mãos cheias de sabão. Não sei como são outros aplicativos, mas o Audible deixa a desejar quanto à usabilidade, e o PDF não é sequer otimizado para celular. 

(The Art of Language Invention, aliás, é um caso curioso: tem trechos que funcionam indiscutivelmente melhor como audiobook, como o capítulo sobre fonemas, e outros que só fazem sentido lendo, como a seção sobre sistemas de escrita.)
 
Se o livro é cheio de palavras complicadas, o melhor não é nem o livro impresso em celulose, mas um e-book como o Kindle, onde é só clicar no termo desconhecido para ver a definição. Em casos como Duna, que li ano passado, não consigo nem imaginar como seria ouvir o audiobook sem conhecer nada do universo criado por Frank Herbert: o livro tem zilhões de termos específicos, como Landsraad, Levenbrech e Kwisatz Haderach, que só consegui entender consultando o glossário de umas cinquenta páginas que vem no apêndice. Como nem tudo é perfeito, pra saber se a pronúncia certa é "Quisatz Raderatch" ou "Kvizáts Haderaque", só mesmo ouvindo o audiobook.

21/03/2023

Inventando línguas



Comecei a ouvir um audiobook bem interessante sobre o processo de criação de um idioma. O autor é o americano David J. Peterson, que tem no currículo uma porção de línguas que desenvolveu para Game of Thrones (incluindo Dothraki e Alto Valiriano), The Witcher, a nova versão de Duna e mais um monte de séries e filmes. Se nos tempos de J.R.R. Tolkien inventar idiomas era um hobby obscuro para poucos e raros nerds, hoje virou profissão (ok, para poucos e raros nerds) com o nome de conlanger – "con" de constructed, "lang" de language.

Meu primeiro experimento na invenção de uma língua foi o caninês, quando eu tinha uns oito ou nove anos e era fanático por cães. Tinha uma coleção de cachorros em miniatura, um livro sobre raças de cães, usava meu próprio cachorro (o saudoso Barão) como protagonista de minhas HQs caseiras e ouvia o CD da TV Colosso com mais frequência do que gostaria de admitir. Inspirado pelas aulas de inglês que fazia no Number One ("Aqui o seu futuro fala inglês", dizia o slogan na época) e como bom pequeno nerd, tive a ideia de desenvolver um idioma canino.

Fiz um livro-texto, digitado no WordPerfect para MS-DOS que era então meu processador de texto predileto, incluindo gramática básica, conjugação verbal, lista de substantivos e adjetivos. E cheguei até a dar aulas. A classe tinha uma só aluna: minha mãe, a única pessoa no mundo que toparia embarcar de bom grado numa ideia esdrúxula dessas. Já faz tempo que perdi minha fluência em caninês e agora, de cabeça, só lembro de uma frase – "Au grau au-aug" –, cujo significado também me foge à memória. Se tivesse focado no elefantês em vez do caninês, talvez ainda me lembrasse.

Ainda nessa vibe canina, lembro de criar o Linguosso dosso Osso, um pseudo-idioma em que todas as palavras terminavam em "osso". A tradução da frase mais famosa de Descartes, por exemplo, ficaria assim: "Pensosso, logosso existosso". Definitivamente, eu passava tempo demais assistindo à TV Colosso. Já pelos idos de 2002 ou 2003, em algum momento ocioso entre o terceiro ano e o início da faculdade, comecei a trabalhar num idioma novo e revolucionário em parceria com meu chapa Adriano Domeniconi. Não passamos do conceito básico, alguns fonemas e letras para o alfabeto próprio (uma era formada por três pontinhos em estrutura triangular; outra, uma representação gráfica de um nariz de porco). Vou me esquivar de dar mais detalhes porque agora, vinte anos depois, estou ressuscitando essa língua no romance de fantasia/comédia/road-trip que venho escrevendo desde 2019.


Foi por isso, aliás, que comecei a ouvir o audiobook de David J. Peterson. Ia falar mais a respeito e acabei me embrenhando por memórias de infância, mas fica aí o nome se você quiser ler ou ouvir também: The Art of Language Invention: From Horse-Lords to Dark Elves to Sand Worms, the Words Behind World-Building. Parece que ainda não tem tradução para o português. Tampouco em Dothraki, Klingon ou Na'vi. Se um dia a HBO comprar os direitos do meu livro para fazer uma série, tomara que contratem o David para dar um tapa no meu idioma inventado. Quem sabe, como o Alto Valiriano e o Klingon, ele não acabe até no Duolingo?

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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