24/05/2021

Conto novo na Faísca: "Fora de circulação"


Uma coisa que eu não vejo ninguém comentando é como está difícil a vida de vampiro nestes tempos de pandemia. Por isso, escrevi uma ficção relâmpago (S.f. do inglês flash fiction: um conto com menos de mil palavras) sobre o assunto, que foi publicada hoje na Faísca, a newsletter da revista literária Mafagafo

Para ler meu conto "Fora de circulação", é só acessar o arquivo da Faísca de hoje (episódio 38 da terceira temporada) diretamente neste link

Aproveite para assinar a Faísca, que toda segunda-feira envia dois contos curtos, com foco em fantasia, ficção científica e às vezes uma pitada de humor, para a sua caixa de entrada. Você pode navegar pelas faíscas dos últimos meses aqui

Para quem curte escrever, fique de olho nos editais da Faísca, que aparecem uma ou duas vezes por ano à cata de textos para a temporada seguinte da newsletter. O próximo abre em setembro.

08/05/2021

Ferramentas para escrever: meu top 8


Antes do nosso primeiro computador chegar lá em casa – um 386 de 17 megahertz que rodava o novíssimo Windows 3.1 –, eu datilografava na máquina de escrever dos meus pais, uma Olivetti avermelhada que nem essa aí da foto. Não lembro que tipo de literatura saía dos meus dedos infantis que catavam milho nesse objeto antediluviano e fascinante, mas provavelmente havia ali uma historinha ou outra protagonizada pelo meu cachorro e quiçá alguma carta ao Xou da Xuxa pedindo que ela passasse mais Thundercats.

Três décadas depois, continuo escrevendo num teclado QWERTY, agora num computador portátil de tela colorida que deixaria o meu eu de 1992 bestificado com o futuro sci-fi que estava à sua espera. E resolvi listar as que, hoje, são as minhas ferramentas favoritas para escrever. Daqui a uns 10 anos, provavelmente vou reler este post e pensar "cacilda, era isso que eu usava?", porque as coisas mudam rápido. Afinal, há pouco mais de uma década eu ainda carregava um Nokia 5120 no bolso.

A lista inclui, principalmente, sites e aplicativos para desktop e celular. (Nenhum é fabricado pela Olivetti – que, a propósito, ainda existe.)

***

Para anotações, ideias e lista de tarefas: Workflowy

Ao longo dos anos, já usei de tudo para anotar ideias, pendências e todo tipo de lembretes e rascunhos, incluindo cadernos e agendas, post-its, Bloco de Notas do Windows, Google Keep, Samsung Notes e vários outros apps parecidos, e-mails para mim mesmo e por aí vai. 

O resultado era invariavelmente o mesmo: um monte de ideias jogadas e nunca mais revistas, sem falar nas tantas que foram perdidas depois que troquei de celular, o HD deu pau, o caderninho sumiu. 

Foi com muita empolgação que descobri o Workflowy (nome péssimo, mas releve) em 2019. Sua simplicidade é seu maior trunfo: ele é basicamente um app para listas estilo "bullet points", sem fontes diversas, cores malucas ou nenhuma distração estilística. 

Mas esses bullet points escondem um efeito Inception que é poderoso e versátil. Cada bullet pode conter "sub-bullets", que podem conter "sub-sub-bullets", e assim por diante, ao infinito e além. 

Cada item também pode se tornar essencialmente um documento próprio, bastando clicar nele. Por exemplo: na captura de tela abaixo está o meu brainstorm inicial para este post. Veja que no item "Workflowy", a bolinha tem um contorno cinza, indicando que há algo ali por baixo. 


Clicando na bolinha, você vê os sub-itens que pertencem àquele item, tornando muito mais fácil focar apenas no que você está escrevendo ou delineando no momento:


Já faz 2 anos que uso o Workflowy praticamente todo dia, não só para os projetos pessoais como este blog, mas para gerenciar listas de tarefas no trabalho, guardar links de artigos que quero ler, dicas de restaurantes, ideias para músicas e contos, filmes que vi e preciso logar no meu Letterboxd, e muito mais. Para escrever, ele é perfeito para esboçar o esqueleto de um texto ou um capítulo. 

Vantagens: simples e eficaz. Fica na nuvem e sincroniza com todos os dispositivos. Cheio de atalhos de teclado que o tornam rápido de usar. É muito fácil mudar um bullet point de lugar (por exemplo, para trocar a ordem dos itens ou transformar um sub-item num item principal). Design minimalista que ajuda a focar na tarefa, e não na formatação.

Poréns: a versão grátis só dá direito a 250 "bullet points" por mês (a versão paga custa 4 dólares por mês e tem bullets ilimitados; recomendo).

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Para escrever: Google Docs

Já passei por diversos processadores de texto, incluindo o jurássico WordPerfect (dos tempos de MS-DOS que não voltam nunca mais), o onipresente Microsoft Word e suas variações genéricas do OpenOffice. 


O Google Docs (ou "Documentos Google", em bom pt-BR) é atualmente o meu preferido. Em termos de recursos de texto, não é muito diferente do Word: tem contagem de palavras, verificador ortográfico, dá pra sublinhar e italicizar. Mas duas vantagens, pra mim, são essenciais:

1. O fato de o documento morar na nuvem, poder ser acessado de qualquer aparelho e salvar automaticamente a cada poucos segundos. Pra quem já perdeu tantos escritos por causa de queda de luz, HD queimado, vírus de Windows e cousas do tipo, só isso já foi motivo suficiente para eu finalmente aposentar Word e OpenOffice e passar a escrever tudo no Google Docs.

2. As ferramentas colaborativas. Usando o Word, mandar um arquivo para alguém resulta numa cópia quando a pessoa o envia de volta, e de repente você se vê com cinquenta arquivos entulhando o HD com o mesmo texto em estágios variados. O Google Docs acabou com isso: o documento é único, as pessoas podem deixar comentários em trechos específicos e o histórico de mudanças também continua disponível – dá pra voltar no tempo e ver quem editou o quê e quando.

Poréns, porque sempre tem algum: os arquivos longos, com mais de 100 páginas, ficam mais lentos para trabalhar. E escrever offline é possível, mas há que se ter cuidado para não fechar a aba antes que a internet volte e o texto sincronize com a nuvem.

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Para conferir a ortografia: Dicionário Priberam

Quando moleque eu usava o Aurélio, onde descobri o significado da palavra biselho. Adolescente, migrei para o ainda mais trambolhoso Houaiss, onde aprendi que a maior palavra da língua portuguesa não era inconstitucionalissimamente, mas pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico. 

Hoje não costumo mais folhear páginas de dicionários aleatoriamente, mas quando preciso conferir alguma ortografia ou definição específica, utilizo o Priberam


Vantagens: dá pra escolher entre a norma brasileira e a portuguesa, e também entre a grafia pré- e pós-reforma. Se você é como eu e 99% dos brasileiros e ainda não reaprendeu a hifenizar as palavras direito, é sempre bom dar uma olhada. Outra vantagem é que dá pra pesquisar nas definições (por exemplo: você busca por "ornitorrinco" e encontra verbetes como "monotrêmato" e "monotremado").

Desvantagens: a definição deles para "biselho" não é legal como a do Aurélio.

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Para encontrar sinônimos: Sinônimos.com.br

Durante a revisão do texto, quando você começa a notar vícios de linguagem e palavras que se repetem mais do que deveriam, é uma mão na roda usar um dicionário de sinônimos. Este aqui é basicão mas completo, e cumpre bem o propósito. 


Abaixo da caixa de busca do Sinônimos.com.br, também há links para outros sites úteis como seu irmão gêmeo malvado – o Antônimos.com.br – e seu primo Conjugação.com.br (porque ninguém é obrigado a saber de cor todas as 70 variações do verbo advir).

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Para focar (I): Marinara - Pomodoro Assistant

Ah, as distrações da contemporaneidade. A principal, geralmente, é a gente mesmo e a nossa vontade irresistível de checar o celular, as notícias, os e-mails, o Instagram, o Twitter. Ou de fazer uma "rápida pesquisa" na Wikipédia, e quando você vê já está aprendendo tudo sobre temas avulsos como os ursos-beiçudos (sabia que o Balu, de Mogli, era um urso-beiçudo? descobri agora), menos fazendo o que você se propôs a fazer, que é finalmente terminar aquele artigo/capítulo/textão que não termina nunca.

O que eu uso diariamente para focar, já faz 1 ano e meio, é a técnica dos "pomodoros": você coloca um timer de 25 minutos e se concentra na tarefa até o alarme soar; aí faz um descanso rápido e recomeça. Vinte e cinco minutos passam rápido e é mais fácil resistir à tentação de se distrair. Neste exato momento, por exemplo, vejo que faltam 8 minutos para terminar meu pomodoro atual, então dá tempo de escrever mais um ou dois parágrafos.

Há zilhares de "pomodoro timers" pela web afora, incluindo sites, vídeos no YouTube com 25 minutos de duração e outras variantes. Você também pode simplesmente usar o cronômetro do seu celular ou ativar um alarme no rádio-relógio de sua preferência. Não recomendo ampulhetas porque elas carecem de som e a duração não é muito confiável (esta ampulheta bonitona, por exemplo, promete 25 minutos – mas um comprador mediu e só encontrou 24'15").

Eu gosto de usar esse Marinara: Pomodoro Assistant porque é uma extensão pro Google Chrome: você instala, só precisa de um clique para acionar e sabe imediatamente quantos minutos ainda tem antes da próxima pausa. Há várias outros plug-ins parecidos para Chrome, Firefox, Safari etc, mas em timer que está ganhando eu não mexo.

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Para focar (II): Spotify

Além do pomodoro, minha outra ferramenta indispensável para manter o foco ao escrever é a trilha sonora certa, que ajuda a bloquear as distrações auditivas e a dar o tom adequado para a escrita.

Fui montando minha trilha ao longo dos anos: se antes eu escrevia com qualquer roquenrôu que me apetecesse, passei depois a preferir músicas instrumentais em tons menores, pendendo aos temas minimalistas, ligeiramente eletrônicos e algo repetitivos, que distraem menos. 

Trilhas de filmes mais recentes se encaixam perfeitamente nessa vibe. Entre meus favoritos estão Trent Reznor & Atticus Ross (e suas trilhas para A Rede Social, Garota Exemplar, o seriado Watchmen da HBO e os álbuns da série Ghosts do Nine Inch Nails), Hans Zimmer (Interestelar, X-Men, Cavaleiro das Trevas), Danny Elfman (A Garota do Trem), Clint Mansell (Lunar, Filth), Hildur Guðnadóttir (Joker) e mais um monte: minha playlist atual, com o nome nada inventivo de "Writing 2", tem mais de 37 horas e pra lá de 600 músicas, que geralmente ouço em modo shuffle.

Os serviços de streaming de música são todos meio parecidos, mas estou satisfeito com o Ispotifái, que assino desde 2014 (a versão grátis é cheia de propagandas, o que não é lá muito conducente para o foco absoluto). 

Se você não quiser criar a sua playlist customizada, há trocentas prontas dentro do gênero "Foco", que passeiam da música clássica até o electro minimal e os sons campestres de grilos cricrilando, se for a sua praia.

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Para escrever todo dia: HabitBull

Não adianta muito se a gente escolhe o processador de texto ideal, os dicionários mais completos, a música perfeita, e só senta pra escrever de quando em nunca e depois dali a seis meses.

Em 2019, resolvi tentar remediar a procrastinatite crônica usando uma técnica que o comediante Jerry Seinfeld popularizou. É simplíssima: você pega um calendário e marca um X em todos os dias nos quais escreveu o seu mínimo – seja esse mínimo uma página, um parágrafo ou, no caso de Seinfeld, uma piada. O objetivo é "não quebrar a corrente", ou seja, não deixar nenhum dia do calendário com um X faltando. 


Resolvi testar a técnica seinfeldiana em fevereiro de 2019, quando me prometi escrever por 10 minutos por dia, todo dia. Em novembro do mesmo ano, elevei o mínimo diário para 1 pomodoro, ou 25 minutos. Já são 827 dias consecutivos escrevendo um pouquinho – geralmente de manhã, antes do trabalho – e finalmente concluindo ou avançando em projetos antigos para os quais nunca conseguia "encontrar tempo". Recomendo essa técnica veementemente pra qualquer um com um projeto pessoal que adoraria realizar ou concluir, mas que as outras mil coisas da vida insistem em atravancar.

Em vez de calendariozão na parede e caneta hidrocor vermelha, baixei um app, o HabitBull, que me manda uma notificação todo dia perguntando "e aí, já escreveu hoje?". Essa maldita notificação, que insisto em não apagar até completar meu pomodoro diário, foi responsável por eu passar umas 150 horas escrevendo nos últimos dois anos.

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Para espairecer: papel e caneta

Nunca abandonei o papel e a caneta por completo. Tem alguma coisa de mágico, e talvez de nostálgico, com esses dispositivos de baixa tecnologia. Parece que as palavras adquirem um peso extra, uma importância maior, como se cada rabisco fosse um registro histórico, inapagável, por mais inlapidado seja o seu conteúdo. Mas, ultimamente, com Workflowy, Google Docs e o escambau supracitado, eu andava meio afastado da escrita analógica.


Nas minhas últimas férias, porém, resoluto em continuar meu "pomodoro diário" sem pular um dia, e também decidido a não levar o laptop para não ficar grudado na telinha como no cotidiano do trabalho, comprei um caderno espiral, levei uma clássica Bic e escrevi à mão – ideias, parágrafos soltos e o primeiro rascunho de um conto que permanece incompleto. Foi bom para dar um break na rotina, desanuviar o cérebro e exercitar a minha caligrafia, que já era garranchuda e não melhorou nem um pouco com a falta de prática. 

No dia a dia, ainda é mais conveniente continuar teclando computadorizadamente e não me vejo migrando de volta para o papel pautado, mas de vez em quando é muito bom usar tinta e celulose para espairecer. 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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