21/02/2008

Red side of the moon



O eclipse lunar que obnubilará o céu esta noite me fez lembrar do fenômeno semelhante que ocorreu em 1996. Na ocasião, eu e meus primos Bruno e Paula nos alojamos no quarto desta última, que tinha uma vista melhor da janela, e realizamos um invejável estudo sobre o fugaz desaparecimento da Lua. Na verdade, o Bruno ficou olhando do binóculo, a Paula procurando pilha pra lanterna e eu registrando aquela coisa toda. Os pedaços manuscritos de papel não se perderam no tempo, e com isso vocês podem ler, na íntegra, o que a minha contraparte de 11 anos de idade escreveu sobre o eclipse lunar do dia (se meus cálculos estiverem corretos) 4 de abril de 1996:

O Diário do Eclipse

7:19
Não começou. O Bruno olhou um vermelhinho, mas parece efeito do binóculo. Será?

7:20
Parece que não é efeito do binóculo. Será? Continua a mesma coisa.

7:21
O Bruno viu uma bolinha pequenininha (ele olhou do lado errado).

7:22
Mesma coisa.

7:23
A borracha que a Paula botou na lâmpada queimou. O Bruno falou: “Apaga essa luz aí, ou! Que bosta!”

7:24
O Bruno viu um pedaço azul do lado da Lua. A Paula trouxe uma lanterna e o Bruno pensou que era outro binóculo.

7:25
O Bruno deu chilique porque viu um pedaço da Lua comido. E tá mesmo. Comido embaixo. A Lua tá virando interseção.

7:27
O Bruno falou: quantas horas?

7:29
A Tia Marilu foi ao “Observatório dos Dal”.

7:31
Em cima do pedaço comido da Lua tá vermelhinho. A lâmpada queimou de novo! Paula Dal! O Bruno falou: “Já volto!”

7:32
O Bruno tá arrumando o cronômetro. Tem mais um pedaço da Lua comido. A Paula foi renovar as pilhas.

7:33
A Lua tá mais vermelha e o comido tá quase-quase-quase-chegando na metade.

7:34
A Paula tá testando a pilha no testador errado.

7:35
A Pilha Everedy tá boa. Mema coisa.

7:36
A cordinha do binóculo tá atrapalhando a observação. Tem um tiquitinho da Lua comido. A Paula chega coçando.

7:37
O binóculo deu defeito. Desdefeitou. Mesma coisa. A Paula tá cantando “Xô Satanás”. O Bruno tá cantando “Pelados em Santos, Chopis Centis, Lá vem o alemão!”

7:38
Mais um pedaço da Lua comido. A Paula fala: “Quê que fudeu nesse trem”?

7:39
Um milímetro de Lua comido. O Bruno disse: “Que bucexinha”!

7:40
A Paula foi resolver o probrema da lanterna. Tem uma família jantando no prédio em frente.

7:41
Tem um disco voador!

7:48
A Lua tá comida mais um pedaço. Tá parecendo um pedaço de queijo ou meia bunda.

O diário terminava aí, com a adição apenas de um epílogo ("KBÔ! Paramos por aqui. Cansei de escrever. O Bruno peidou.") que não esclarecia se a lanterna foi consertada, que horas o eclipse atingiu seu apogeu ou a real natureza do disco voador avistado. Será que a verdade está lá fora?

18/02/2008

Habemos logom



A interminável Saga de Tião agora tem uma logomarca e um compromisso: aos sábados um capítulo par, às terças um capítulo ímpar, escritos respectivamente por Daniel de Pinho (atualmente cumprindo exílio na Pennsylvania) e eu. É assim mesmo: se não anunciar publicamente o trato, é grande a tentação de não cumpri-lo.

09/02/2008

Elementar



Continuam encontrando este blog através de estrambóticas buscas no Google. Esses dias chegaram aqui procurando por "tan taran tan tropa de elite", "resultados de todos os amistosos de ontem" e "o que o espaço geográfico tem a ver com a musica aquarela de toquinho". Mas o prêmio de melhor busca no Google de todos os tempos vai para o gênio que procurou:

"proximo shows no cred crawl raul"

Gastei uns bons neurônios pra entender que ele estava atrás disto.

04/02/2008

A Velha Debaixo da Cama - Capítulo 1



A revista piauí inaugurou um novo concurso literário, uma história seriada cujos 10 capítulos serão escritos pelos vencedores do ano passado. O pontapé inicial era uma frase prosaica: "Antonio levantou-se, abriu a janela, e viu Maria lá embaixo, à espera". Fiz meu texto baseado num argumento de André Paio, meu pai, que viu na frase uma possibilidade de narrar a chegada de Augusto Paio, meu bisavô, ao Brasil. Não foi dessa vez, mas ainda tenho nove chances ao longo dos próximos meses. O texto vencedor está aqui. Já a minha versão, que ficará para sempre inacabada, vem a seguir:

Antonio e Maria - Capítulo 1

Antonio levantou-se, abriu a janela, e viu Maria lá embaixo, à espera. Engolindo a surpresa, gritou que subisse. Tirou do guarda-roupa uma cara bem lavada, pôs no bolso um punhado de desculpas e andou até a sala tentando incorporar um papel apropriado. Quando ela apareceu, carregando uma trouxa de panos, ele acabara de descartar o de amante ressentido e vestir-se de amigo com saudades.

- Maria, Maria! Faz o quê, uns oito meses?
- Doze meses, disgraziato. Precisamente doze meses.
- É que pra mim parece que foi ontem...
- Parece, né? E uma coisa dessas brota assim, do dia pra noite.

A coisa dessas não era um saco de roupas como ele supunha, mas um ser vivo de olhos grandes e tranqüilos, embrulhado em cobertores.

- Este é o Augusto. Não é a minha cara?

Não era. O nariz pomposo, a sobrancelha modesta e o queixo furado, quase dividido, não se repetiam na face dócil de Maria, embora estranhamente abundassem na de Antonio. Tinha três meses de vida e o encarava com uma naturalidade quase incômoda.

Em seguida, ela mostrou a carta.

- Pra mim?
- Pra mim. Do meu irmão. Chegou semana passada.

Antonio correu os olhos, ignorando os garranchos mais safados. Depois perguntou, preocupado, se ela estava mesmo disposta a abandonar uma vida serena pra tentar a sorte num continente incerto e hostil, à mercê das intempéries. Ela ouviu com pena o palavrório e disse apenas: estou indo embora na sexta.

- É um convite? – ele sorriu amarelo.
- É um comunicado. Só vim aqui pro Augusto ver você uma vez na vida.

Quatro dias depois, Antonio zarpava com ela e o menino num navio para a América, respirando pela última vez o ar do Vêneto e ouvindo o século dezenove agonizar. Tinha aparecido no porto de supetão, sugerindo que ela pegasse uma embarcação alternativa, mais vazia e mais barata. Precisou levá-la pelo braço até o comandante para que ouvisse que sim, este navio está indo pra América, não, você não terá que remar, até que ela cedeu e subiu com Augusto a escadinha do navio. Só não entendeu quando Antonio deixou no ar um boa-sorte-em-sua-nova-vida e fez que ia voltar.

- Como assim, você não vai?
- Não, não. Vou ficar. Minha vida é aqui.
- E trouxe essas malas só pra elas conhecerem o mar?
Antonio até olhou nos bolsos, mas não encontrou desculpas sobrando.

A viagem transcorreu em paz. Fã declarado da terra firme, Antonio acabou se acostumando à dança louca do mar e só uma ou duas vezes batizou o convés com o almoço ruminado. Maria, que passava os dias tricotando cachecoizinhos sem dizer palavra, com o tempo se dispôs até a papear.

Ao final de várias semanas, estranhando o clima quente incompatível com o inverno que esperavam, Maria resolveu saber de um tripulante se tinham previsão de chegada. Voltou à cabine um pouco intrigada: Nova Iorque ele diz que não sabe, mas no Rio de Janeiro a gente aporta amanhã.

Antonio, sossegado, nem se perturbou em abrir os olhos.
- Esquenta não, deve ser perto, de lá a gente aluga uma carroça – e voltou a atenção à soneca.

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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