Red side of the moon
O eclipse lunar que obnubilará o céu esta noite me fez lembrar do fenômeno semelhante que ocorreu em 1996. Na ocasião, eu e meus primos Bruno e Paula nos alojamos no quarto desta última, que tinha uma vista melhor da janela, e realizamos um invejável estudo sobre o fugaz desaparecimento da Lua. Na verdade, o Bruno ficou olhando do binóculo, a Paula procurando pilha pra lanterna e eu registrando aquela coisa toda. Os pedaços manuscritos de papel não se perderam no tempo, e com isso vocês podem ler, na íntegra, o que a minha contraparte de 11 anos de idade escreveu sobre o eclipse lunar do dia (se meus cálculos estiverem corretos) 4 de abril de 1996:
O Diário do Eclipse
7:19
Não começou. O Bruno olhou um vermelhinho, mas parece efeito do binóculo. Será?
7:20
Parece que não é efeito do binóculo. Será? Continua a mesma coisa.
7:21
O Bruno viu uma bolinha pequenininha (ele olhou do lado errado).
7:22
Mesma coisa.
7:23
A borracha que a Paula botou na lâmpada queimou. O Bruno falou: “Apaga essa luz aí, ou! Que bosta!”
7:24
O Bruno viu um pedaço azul do lado da Lua. A Paula trouxe uma lanterna e o Bruno pensou que era outro binóculo.
7:25
O Bruno deu chilique porque viu um pedaço da Lua comido. E tá mesmo. Comido embaixo. A Lua tá virando interseção.
7:27
O Bruno falou: quantas horas?
7:29
A Tia Marilu foi ao “Observatório dos Dal”.
7:31
Em cima do pedaço comido da Lua tá vermelhinho. A lâmpada queimou de novo! Paula Dal! O Bruno falou: “Já volto!”
7:32
O Bruno tá arrumando o cronômetro. Tem mais um pedaço da Lua comido. A Paula foi renovar as pilhas.
7:33
A Lua tá mais vermelha e o comido tá quase-quase-quase-chegando na metade.
7:34
A Paula tá testando a pilha no testador errado.
7:35
A Pilha Everedy tá boa. Mema coisa.
7:36
A cordinha do binóculo tá atrapalhando a observação. Tem um tiquitinho da Lua comido. A Paula chega coçando.
7:37
O binóculo deu defeito. Desdefeitou. Mesma coisa. A Paula tá cantando “Xô Satanás”. O Bruno tá cantando “Pelados em Santos, Chopis Centis, Lá vem o alemão!”
7:38
Mais um pedaço da Lua comido. A Paula fala: “Quê que fudeu nesse trem”?
7:39
Um milímetro de Lua comido. O Bruno disse: “Que bucexinha”!
7:40
A Paula foi resolver o probrema da lanterna. Tem uma família jantando no prédio em frente.
7:41
Tem um disco voador!
7:48
A Lua tá comida mais um pedaço. Tá parecendo um pedaço de queijo ou meia bunda.
O diário terminava aí, com a adição apenas de um epílogo ("KBÔ! Paramos por aqui. Cansei de escrever. O Bruno peidou.") que não esclarecia se a lanterna foi consertada, que horas o eclipse atingiu seu apogeu ou a real natureza do disco voador avistado. Será que a verdade está lá fora?
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