20/06/2011

Qingdao, a capital chinesa da cerveja

Qingdao é a capital chinesa da cerveja. Não por acaso, foi a única cidade da China a ser uma espécie de colônia alemã – o nome oficial era "concessão", mas a gente sabe que cidades não são dadas de presente assim por aí. Os alemães ocuparam Qingdao do finalzinho do século 19 até o início da Primeira Guerra, quando os japoneses pediram licença e se apoderaram de lá. Depois de algumas idas e vindas, a posse do lugar voltou a ser completamente da China, mas o que interessa para este texto são mesmo aqueles anos germânicos, que explicam porque, mais de um século depois, o nome da cidade virou sinônimo de suco de cevada.


Ali na beira do Mar Amarelo, no nordeste chinês, encarando a Coréia do Sul, fica Qingdao. 

É claro que a alemãzada não poderia ficar muito tempo sem sua cota de bier : em 1903, meros seis anos após desembarcarem em Qingdao, eles abriam a cervejaria Germania, que acabaria virando Tsingtau e finalmente Tsingtao. Esses nomes todos (Qingdao, Tsingtao, Tsingtau) se pronunciam da mesma forma, " tchim dau " – a diferença se deve a diferentes romanizações dos nomes chineses, que também transformaram Beijing em Pequim , Nanjing em Nanquim, e tantas outras. 

Tsingtao é hoje em dia a mais famosa cerveja chinesa. É vendida em mais de 60 países, aparece em filmes como Blade Runner Gran Torino , e durante o período em que a China esteve mais isolada do mundo, em meados do século 20, era responsável por 98% (!!) das exportações chinesas. Comparada com as cervejas brasileiras, a Tsingtao tem menos álcool (gira em torno dos 3,5%) e é bem mais barata: nos mercadinhos mais locais, dá pra achar por 2 yuans, ou R$ 0,50. Nos bares da vida, obviamente, eles enfiam a faca e cobram dez vezes mais. Cães. 

 
"A cidade ideal do cachorro tem um barril de chope por metro quadrado..." 


"O elefante pergunta pra vaquinha: tomou?" 

Qingdao, a cidade, se destaca por várias qualidades. Tem praias, frutos do mar, um clima mais tranqüilão que a correria de Beijing. A cerveja entra aí como um adendo turisticamente importante, já que até a fábrica original da Tsingtao é aberta para visitação. O passeio é interessante. Começa com os obrigatórios letreiros narrando a gloriosa história da cervejaria, conta com maquetes e bonecos de cera representando os trabalhadores de outrora, apresenta um vislumbre da parte da fábrica ainda em funcionamento hoje em dia – garrafas e latinhas passando pelas esteiras, recebendo rótulos e sendo encaixotadas como pinos de boliche – e é coroado com a obrigatória degustação da gelada recém-fabricada, incluindo um exemplar da chamada raw beer , uma espécie de cerveja "crua", sem conservantes, que é uma belezura e difícil de achar fora de Qingdao. 


Garrafas de 5 mil litros também são exclusivas da fábrica. 

Uma maneira no mínimo curiosa de descrever o fim da Segunda Guerra: "Em 15 de agosto de 1945, quando as tropas chinesas venceram a guerra anti-japonesa..." 
 

Vai aí uma cerveja nazista? 
 

Uma prateleira exibe orgulhosamente as variedades de Tsingtao disponíveis no mercado...
 

...enquanto outra reúne latas e garrafas de marcas do mundo inteiro.
 

Entre a cingapuriana Tiger Beer e a mexicana Corona Extra, lá estão nossas Skol e Bohemia. Também vi latinhas de Caracu, Antarctica e até da famigerada Nova Schin.
 

Uma estátua de cera confere os procedimentos de fabricação.
 

Aí, Bruno Paio: uma idéia do que fazer com suas trocentas tampinhas.
 

Quer virar rótulo? Por um punhado de yuans, diga xis e ganhe uma foto-cerveja. 
 

Linha de produção das latinhas. Opa, tá rolando uma tentativa de fuga. 
 

Cerveja atrás de cerveja, nosso amigo ali tem que ficar de olho. Se vier barata dentro da garrafa, a culpa é dele. 
 

Rotula, verifica, agrupa, encaixota... 
 

Quase no final do passeio, uma tal de "Casa de Bêbado" aguarda o intrépido visitante. Ela tem uma inclinação considerável e a sensação de pisar lá dentro é realmente como a de encher a cara a noite inteira e ter que fazer esforço pra se segurar em pé.


A cabeça dói e, se você não segurar, é tombo na certa.


Tá quase...


Para terminar, chega enfim a hora da degustação (a porção é pouco generosa, mas tá valendo).


"Prove, veja, gire, cheire".


É claro que o comércio local não ia desperdiçar uma oportunidade dessas. Batizaram a rua em frente à fábrica de "Rua da Cerveja" e encheram de bares servindo chope em suas mais diversas formas.


Tem até cerveja verde (não sei o que vem dentro, mas deve ser saudável, não?)


Mas a experiência cervejeira qingdaoana por natureza é beber chope na sacolinha de plástico. Você vê isso por toda parte, e se não é das coisas mais práticas, pelo menos diverte.


É preciso perícia para entornar o líquido, ainda mais depois de um certo estado.


Pra facilitar, as sacolas vêm com um "biquinho" estilo bule. Há também que beba de canudinho. E se quiser dar uma pausa, tem que ficar segurando? Não: é só achar uma porta e pendurar na maçaneta. Sério, funciona.
 



Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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