26/07/2005

The Hitchhiker's Guide To The Platypus



Vocês que duvidavam, vocês que diziam crer mas no fundo ainda alimentavam desconfianças, vocês que tinham certeza de que todas aquelas fotos eram montagens de Photoshop, agora que eu vim, vi e comprovei, posso confirmar a vocês: sim, o ornitorrinco existe mesmo.

Observar o bicho é uma tarefa que exige paciência e disposição. Sim, porque, ao contrário dos saltitantes cangurus, dos incovenientes emus e dos tediosos coalas, os ornitorrincos só são encontrados, ao menos por essas bandas, em seu habitat natural. Ou seja, nas águas molhadas do rio. Não, não tivemos que pegar uma canoa e remar contra a correnteza até encontrar um. O parque nacional de Eungella (repeat please: Iúnguela) oferece a seus visitantes alguns pontos de observação na beira do Broken River, onde os curiosos se reúnem para ver os bichinhos. Mas, para obter sucesso em sua missão (coisa que nem todo mundo obtém), é preciso obedecer a algumas regrinhas que todo bom observador de ornitorrinco conhece.

1) Os ornitorrincos são animais tímidos. Pode ser que eles tenham noção do quanto são diferentes e se achem assim, meio pop stars. O fato é que só aparecem em público durante o amanhecer ou durante o pôr-do-sol. Não adianta ir meio-dia que vão estar todos escondidos (almoçando, talvez?). Sugestão: vá no pôr-do-sol. Acordar às cinco da manhã pra ver ornitorrinco é programa de aborígene.

2) Seja paciente. Nós, ao chegarmos, fomos na lojinha de souvernirs de Eungella (repleta de chaveirinhos de ornitorrinco, ornitorrincos de pelúcia, toalhas de mesa com ornitorrincos desenhados). O cara da loja nos indicou um lugar na margem do rio onde poderíamos encontrar alguns espécimes; seguimos a indicação dele, esperamos e nada. Mudamos de lugar, esperamos, nada. Daí, logo que chegamos no terceiro ponto de observação, onde havia um aglomerado maior de pessoas, pudemos observar rapidamente um ornitorrinco, mas foi rapidamente mesmo, vimos só o rabo do bicho e ele se foi, num mergulho esperto. Custou mais de uma hora até que víssemos outro, e nesse meio tempo tudo que podíamos fazer era observar os outros animais do rio, como os patos engraçados e as tartarugas de casco sujo de lama e lodo.

3) Faça silêncio. Observar ornitorrincos é uma arte que requer silêncio. É como pescar: acomode-se, cale-se e aguarde atentamente.

4) Preste atenção na água. Se vir umas borbolhas, umas movimentações diferentes, apure a vista, pode ser um ornitorrinco, mas não fique com raiva se for apenas uma tartaruga suja de lodo, acontece.

Se você seguir essas preciosas orientações e tiver um bocado de sorte, será recompensado com a rara visão ao vivo de um dos bichos mais estranhos que já pisaram (nadaram, sei lá) em nosso planeta. Eles são sacanas: aparecem, todo mundo grita: "alá o ornitorrinco!", e é só o tempo de tirar uma foto (como essa aí de cima) e bluf, mergulham. Mais dez minutos até dar as caras novamente. E são menores do que eu pensava. Do tamanho do teclado de um computador, por aí. Se não fossem venenosos, eu até levaria um na mochila. Vou ter que me contentar com o chaveirinho.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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