15/08/2005

You better watch out



Assistam Arthur. Não, não me refiro ao filme do carinha que virou rei só por conseguir tirar uma espada dum pedaço de pedra. Falo da comédia de 1981 que ganhou o Oscar de melhor canção e o de melhor ator coadjuvante, e que no Brasil recebeu o dispensável subtítulo (estou sendo redundante: todos os subtítulos brasileiros são dispensáveis) de Um Milionário Sedutor.

Viciei no filme. Devo ter visto umas cinco ou seis vezes neste mês de julho, a ponto de utilizar boa parte de seus diálogos no dia-a-dia, exclamando "Peanuts!" ao ver uma tirinha do Snoopy, ou gritando "I hate that when it happens!" com voz de bêbado se algo não ocorreu de acordo com o esperado.

Arthur reúne algumas das características imprescindíveis para que um filme se torne marcante: bons atores, diálogos memoráveis, trilha sonora que gruda na cabeça. Não que seja uma trilha extensa: além da canção premiada (Best That You Can Do, ou, como é muito apropriadamente conhecida, Arthur´s Theme), só ouvimos mais uns três temas instrumentais de Burt Bacharach e o protagonista no piano executando clássicos como a papainoélica Santa Claus Is Coming To Town e a lunática Blue Moon. Mas assista cinco vezes igual eu e com certeza se pegará cantarolando até os improvisos de Arthur: "If you knew Susan, like I know Susan... I... I... I need a drink".

No elenco, temos Dudley Moore como Arthur Bach, o tal milionário sedutor (e bêbado, vale frisar); Liza Minnelli como Linda, nome que, se não contraditório, ao menos um pouco exagerado; John Gielgud como o mordomo de Arthur, no papel que lhe rendeu o Oscar (existe frase mais clichê em textos sobre cinema do que "o papel que lhe rendeu o Oscar?); e mais um bando de menos-famosos cujas carreiras resolvi investigar no movie database mais potente do mundo, o IMDB.

Pra quê. A cada nome que eu olhava, mais espanto. Tirando a Liza Minnelli e a noiva do Arthur no filme, todos os integrantes principais do elenco morreram. Pior: grande parte deles nos últimos anos. Pior ainda: muitos em 2005. Estaria eu diante de uma conspiração para eliminar os realizadores do filme? Senão vejamos:

John Gielgud, o mordomo, morreu em 2000. Dudley Moore, o protagonista bêbado, foi-se em 2002. Ted Ross, seu motorista, partiu desse mundo alguns meses depois, ainda em 2002. O diretor e roteirista, Steve Gordon, bateu as botas em 1982, apenas um ano após o lançamento de seu único filme. Sim, primeiro e único. E a lista dos finados de 2005? Barney Martin, que faz o pai da Linda. Stephen Elliott, o pai da Susan. Geraldine Fitzgerald, avó de Arthur, que morreu em 17 de julho de 2005. Dezessete de julho: exatamente o dia em que assisti Arthur pela primeira vez. Liza Minnelli, minha filha, toma cuidado.

Ainda na Austrália vi pra vender o DVD de Arthur 2: On The Rocks, de 1988. Recusei-me a sequer dar uma olhada, ainda mais depois de saber que o diretor-roteirista não participava, por impossibilidades óbvias. E nem com o cara morto deixaram o filme dele em paz. I hate that when it happens.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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