03/06/2006

Taça na raça


Finalmente consegui minha camisa do tetra.

Não que fosse um sonho de consumo: o objetivo que tinha ao sair de casa hoje era trocar minhas cinco tampinhas de Guaraná (junto com uma quantia irrisória de apenas nove e noventa!) não pela celebração da mira sofrível de Baggio, mas pela saudosa camisa da copa de 70, com suas três estrelinhas flutuando sobre o escudo da CBD. Só não imaginava que a promoção fosse bombar tanto assim.

Pros alheios aos trocentos panfletos e propagandas de tevê, funciona assim: você compra um punhado de guaranás, empurra o troça goela abaixo da família toda, mesmo que queiram coca, e depois troca as tampinhas e a nota de dez por uma das cinco camisas disponíveis nos postos de troca, cada qual homenageando uma das Copas do Mundo em que a seleção canarinho sagrou-se campeã.

Assim, temos a camisa branca com gola pólo azul de 58, a camisa verde com gola amarela de 62, a supracitada amarelinha do tri, a supramostrada azulzinha do tetra, e a de 2002, a mais sem graça, já que é a atual e se acha em qualquer shopping oi. Geralmente, é a que vem em maior quantidade, e sempre sobra no final.

Ontem passei no Super Nosso munido das tampinhas, mas já era noite e tava tudo esgotado. Tudo bem, planejei, amanhã chego cedo e garanto a minha. Eis que chego hoje com minha mãe e me deparo com uma fila aterradora de quase trinta pessoas, algumas marcando presença na fila desde as oito da manhã, e isso que já eram 11h.

Tinha de tudo: senhores que lembravam vividamente de 58, pais de família atendendo aos pedidos dos filhos, ex-alunos da minha mãe (qualquer lugar que vai ela encontra um ex-aluno) e até um sargento de polícia, que disse uma coisa bem provável: além da incompetência da Antarctica, que não faz camisetas suficientes para suprir a demanda, muito desse esgotamento rápido se deve às pessoas que pegam um monte de camisas pra vender depois que a promoção acabar. A quantidade de gente pegando cinco, seis, dez camisas era enorme e fez o estoque acabar em uma hora, e quem se beneficia é só o mercado negro-verde-amarelo.

Vá lá, a promoção ainda dura mais uns dias, quem sabe consigo lembrancinhas de 70, quiçá de 58 e 62. (2002 está fora de cogitação, eita treco besta.)

A copa de 94 foi a que mais curti. Tinha nove anos de idade e da anterior, além de ser um fiasco para os brasileiros, só me restou um flash na memória. Já de USA 94 lembro dos jogos, de onde assisti cada jogo, dos placares, do soco de Leonardo em Tab Ramos que lhe valeu um cartão vermelho, da promoção do Faustão durante o show do intervalo, das inúmeras tabelas que eu mantinha e atualizava a cada partida, do dopping do Maradona, do cabelo do Valderrama. Não só faço parte da comunidade "Eu tinha o álbum da copa de 94" como ainda tenho o dito cujo cá em casa, completo (admito, pedi as que faltavam pelo correio), rabiscado e gordo, já que o álbum foi um dos últimos remanescentes da era pré-auto-colantes, e precisávamos gastar nossas Pritts e Cascolares lambuzando figurinha por figurinha.


Da época em que Dahlin e Klinsmann eram os craques do momento e a comemoração que bombava era o nana-nenê do Bebeto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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