07/10/2009

Feriadão em Tianjin

Ainda estamos no meio do feriadão dos 60 anos do comunismo na China, que começou em 1º de outubro e só termina nesta sexta. O solão e o céu azul, bem apropriados para a parada militar que lotou a Praça da Paz Celestial no dia primeiro, não foram mera coincidência: o governo chinês realmente lançou alguns mísseis com produtos químicos que mandaram as nuvens pra fora da capital (mais detalhes, fuce o Google. Dá pra ver que química não é o meu forte).

Para nós estudantes estrangeiros, que não somos membros do Partido Comunista – até onde eu sei – o tempo se mostrou igualmente apropriado para passeios e viagens. Teve gente que foi pra Xi'an ver os guerreiros de terracota, outros zarparam para Qingdao e estão lá até agora porque todas as passagens de volta estão esgotadas, e eu aceitei o convite de um casal de chineses amigos do meu pai e fui passar o último domingo em Tianjin, a 120 quilômetros daqui.

Demorei uma hora e meia pra cruzar Beijing até a Estação Ferroviária Sul, e apenas meia hora pra percorrer o trajeto de Beijing a Tianjin. Por dois motivos. Primeiro, porque fui de metrô para a Estação Sul, e a única linha que chega até lá é a recém-inaugurada linha 4 (recém mesmo, abriu semana passada). O metrô custou a sair da estação Xizhimen, depois a luz acabou por alguns segundos, o trem começou a andar em velocidade reduzida, e eu lá, apertado no meio da multidão sem entender lhufas. Em compensação, o trem para Tianjin é o trem intermunicipal mais rápido do mundo e fez os 120 quilômetros a 350 por hora. Uma belezura.

 

Achei que Tianjin fosse ser uma cidade pequena, mas 11 milhões de habitantes é um bocado até para os padrões chineses. Enorme, bem estruturada e com muita curiosa pra se ver nas ruas. Logo quando saímos da estação, damos de cara com o volumoso rio Hai e as suntuosas construções à sua margem que, pelo tamanho e pela vista, não devem custar pouco. 

 

Transporte tem de todos os tipos, de ônibus e táxis até esses divertidos veículos de três rodas, muito comuns na China. O cara dirige aquilo que nem louco, desviando de bicicletas e pedestres como se fosse videogame. E é melhor botar as pernas pra dentro, porque o troço não tem porta e o tempo todo o motorista quase tira lasca dos carros que estão estacionados, e do que mais aparecer na frente. 

 

Essa foto eu só tirei porque nunca vi um cachorro de pedra tão feio como esse. 

 

Tianjin é cheia de avisos engraçados para os motoristas. Esse aí eu achei que significava "Não coma com palitinhos enquanto estiver dirigindo", mas parece que não são palitos, mas um X recomendando ao motorista não jogar lixo fora do carro. Prefiro a minha versão. 

 

Comida bizarra exposta dentro de uma padaria, com a placa: "O maior mahua do mundo". Um metro e meio de comprimento, 25 quilos. Diz a placa que foi feito em 1999. Se o mahua em tamanho comestível, uma estranha pretzel meio seca e salgada, não é lá essas coisas, imagina esse aí que já tem dez anos nas costas. 

 

Playmates chinesas dançando na porta de uma loja, em uma rua famosa pelos vários shoppings. Não tem nada a ver com a Playboy, elas só estavam fazendo propaganda para essa loja, que tem algo a ver com casamentos. Embora sejam bem mais apropriadas para despedidas de solteiro. 

 

A China também tem preguiça: uma prosaica passarela para atravessar a rua precisa de escada rolante! 

 

Entrada da famosa Rua da Cultura Antiga, onde tem lojas chinesas de tudo o que você puder imaginar: instrumentos musicais, pinturas, esculturas, bengalas, leques, kits de chá, chaveirinhos com insetos dentro. 

 

Os dois primeiros caracteres, "Bāxī", significam "Brasil". Fiquei pensando no que seria aquilo: churrasco brasileiro? depilação brasileira? Não: as palavras seguintes, "mǎnǎo", significam "ágata", um tipo de mineral que eu nem sei se é comum na nossa terra. Mas gringos adoram uma pedrinha brasileira, sejam elas vendidas em Ouro Preto ou numa rua antiga da China. 

 

Azulejos pintados dentro de um templo ao melhor estilo onde-está-Wally. 

 

Você já entrou num porta-aviões? Nos arredores de Tianjin dá pra visitar o Kiev, porta-aviões soviético construído nos anos 70 e transformado em museu na costa de Tianjin há cinco anos. Há algumas semanas, meus amigos aqui do campus foram em uma rave nesse mesmo navio, que custou os olhos, o nariz e a boca da cara, e ainda levaram cinco horas de ônibus pra ir e mais cinco pra voltar. Foi bom matar a vontade de visitar o barco, dispondo de menos tempo, menos dinheiro e menos música eletrônica. 

 

Sol rachando, bandeiras tremulando (não consegui encontrar a brasileira) e o marzão visto de cima do Kiev. 

 

Esse helicóptero poderia muito bem fazer uma ponta num filme da Pixar. 

 

Terminamos o dia jantando num ótimo restaurante de frutos do mar. Como em muitos restaurantes chineses, tem um aquário cheio de bichos vivos nadando graciosamente, sem consciência do cruel destino que os espera em questão de minutos. Dá pra escolher peixes, camarões, lagostas e até tartarugas, dizer algumas palavras de adeus e degustá-los no prato pouco tempo depois. 

 

Alguns frutos do mar são como pipoquinhas Aritana: os mais feios são os mais saborosos. Mas tem coisas que não animo de provar, como essa gosma disforme aí em cima, entre conchas e camarões. 

 

Ou então esses estômagos de peixe. Você se atreveria?


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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