Another brick
Uns italianos me pararam no meio da rua querendo saber onde ficava “il Muro de Berlino”. Com um pouco mais de maldade, eu responderia: “Pega o próximo DeLorean e pede pra parar antes de 1989”. Mas fui bonzinho e instruí os caras a seguirem a linha vermelha no chão, porque realmente existem pedaços inteiros do muro que não deixam esquecer uma História tão infame quanto recente. Já os pedaços menores viraram souvenir nas lojinhas do gênero. Tem desde pedrinhas pequenas acopladas a cartões-postais até paredes imensas pra você enfeitar a sala de visitas, por apenas 3 mil euros. Pechincha!
Restos multicoloridos do Muro di Berlino.
Museu a céu aberto: uma exposição sobre a história do muro entremeada pelas ruínas do próprio.
Berliner Mauer 1961-1989. A linha vermelha-desbotada atravessa a cidade, indicando onde a tijolada esteve por vinte e oito anos.
Um pé em cada Berlim.
O maior pedaço original que vi pessoalmente, uns 200 metros de parede cinza. Acho que o maior mesmo tem uns dois quilômetros, mas tô no banzo de averiguar a informação.
Comovente recado no lado oriental do murão. “To Astrid: maybe someday we will be together”
Eu no Checkpoint Charlie, mais famoso ponto de passagem entre as duas Berlins. O lugar conta com um museu bacana, cheio de histórias das tentativas de fuga dos berlinenses, das bem-sucedidas às malfadadas. O checkpoint é Charlie não por causa de um Charles Qualquer Coisa, mas por ser o terceiro de uma lista batizada pelo código alfabético internacional: Alfa, Bravo, Charlie, Delta...
Este simpático homenzinho que habita os semáforos é o Ampelmann. O personagem, cujo nome quer dizer "homem do farol" em alemão, é um trabalhador comunista utilizado nos sinais de pedestres do lado russo de Berlim. Com a queda do muro, o governo começou a retirar todos os semáforos com o boneco, mas a população se revoltou, alegando que aquele era um símbolo da cidade, não podia ser abolido assim. Hoje em dia tá cheio de lojas do Ampelmann espalhadas por Berlim. Tem camiseta do Ampelmann, chaveirinho do Ampelmann, almofada do Ampelmann, boneco de pelúcia do Ampelmann, forma de gelo, plaquinha de banheiro, marcador de livro, luminária, holograma, o escambau. Olha a ironia: o ícone comunista agora é capitalista de carteirinha.
Foto torta do Portão de Brandemburgo, símbolo maior de Berlim.
Homem-estátua encarnando o soldado desconhecido perto do Portão.
Galera reunida em frente ao Brandemburg Tor, antes de começar o free tour. Funciona assim: o povo se junta em algum lugar e, por umas três ou quatro horas, sai a pé pela cidade seguindo um cara que explica detalhes e mais detalhes de tudo que você tá vendo. No final, cada um colabora com uma gorjetinha e todo mundo sai feliz. Esse free tour é especialmente interessante numa cidade como Berlim, cheia de coisa que pode passar batido, desde cenários históricos (“aqui na Bebelplatz os nazistas queimaram livros em 1933”) até trivialidades contemporâneas (“naquela janela ali o Michael Jackson pendurou o filho”). Um dos maiores exemplos taí na próxima foto.
Este pacato estacionamento residencial esconde em seu subsolo nada menos do que o bunker do Hitler. Foi aí embaixo que Adolfim casou, mudou, não nos convidou e se suicidou, como devidamente retratado no filme “A Queda!”. O pessoal ficou com medo do lugar se tornar um centro de peregrinação de neonazistas e destruiu todas as instalações lá embaixo. Hoje, só restou esse gramado onde os transeuntes levam seus cãezinhos pra fazer cocô.
Generator, o pequeno albergue onde fiquei em Berlim.
Vista do topo da cúpula de vidro do Reichstag, o prédio do parlamento alemão. Os engravatados lá embaixo são os parlamentares trabalhando. Tem todo um simbolismo da população vigiando os políticos.
Uma torre de espelhos no teto do Reichstag.
Primeira tentativa de me fotografar na torre de espelhos...
... e a segunda. Já me preparava pra tentar uma terceira vez quando veio uma mulher e me interrompeu.
- Gostaria de pedir que você deixasse o prédio, por favor.
- Mas por quê? – perguntei, já imaginando um preconceito contra minha cara de árabe.
- Porque é uma emergência.
Olhei em volta e vi que todos os visitantes do Reichstag guardavam as câmeras, fechavam os livretos explicativos e rumavam ao elevador. Fui atrás. Nisso chegou um cara e avisou que era pra descer pela escada de emergência. E eu lá especulando: “Bom, depois de Nova York, Madrid, Londres... Berlim seria um alvo provável, não?”
Chegamos ao saguão principal. Fiquei procurando alguma fumacinha, um tic-tac de bomba, um cheiro de enxofre. E as portas trancadas. Um bando de pessoas paradas no saguão do Reichstag sem poder sair, enquanto os políticos lá dentro continuavam discursando e deliberando. Um funcionário do lugar me explicou a situação: “Acharam algum tipo de gás no prédio, e não podemos deixar vocês saírem enquanto não descobrimos o que é”. Que beleza, hein?
Meia hora depois, abriram as portas. O céu azulzim de horas atrás agora dava lugar a uma chuva estranha, que não molhava direito. Os berlinenses fechavam barraquinhas e abriam guarda-chuvas. Perguntei pra um:
- Com licença... isso é neve?
- É, ué – respondeu, entediado.
- Que doido!
E lá foi o bocó de Minas Gerais pelas ruas, tirando fotos da neve caindo, achando tudo um barato.
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