Seu garçom, faça o favor
Nada contra Cidade de Deus ou Tropa de Elite. Nada mesmo: Cidade de Deus ainda é meu filme brasileiro preferido e Tropa de Elite conseguiu a proeza de tornar bordões e personagens mais conhecidos do povão que uma novela das oito. Mas é sempre bom quando o cinema tupiniquim consegue sair um pouco do eixo favela-sertão e explorar outros temas, como em O Homem Que Copiava, O Cheiro do Ralo ou esta bizarra experiência gastronômica chamada Estômago.
Estômago é uma espécie de Ratatouille brasileiro. No lugar do rato, entra Raimundo Nonato (atuação inspirada de João Miguel), imigrante nordestino que chega à cidade sem lenço nem documento e arranja um emprego num boteco de quinta. Suas coxinhas e carnes de panela chamam a atenção de um dono de restaurante e é na cozinha repleta de italianos que Nonato vai aprender as artimanhas da culinária, os truques obscuros da gastronomia e, claro, alguns impropérios em língua estrangeira.
Dirigido pelo estreante Marcos Jorge, o filme alterna as cenas do aprendizado de Nonato com sua vida na cadeia - não se explica muito bem porque ele está ali, nem quando está ali. Encarcerado numa cela com hierarquia bem definida, Nonato precisa provar o seu valor e para isso faz de tudo, até serve formiga frita como tira-gosto. Como o Remy da animação da Pixar, ele não tem preconceitos culinários - sabe que uma gororoba bem preparada muda de cara e melhora o gosto. Curiosamente ele também compartilha outras características com o rato, como a predileção pelo alecrim e a capacidade de comandar com êxito uma equipe de ignorantes culinários. A eloqüente fala de Anton Ego no final da animação ganha ainda mais força quando vemos reconhecidos os esforços de Nonato: "Nem todo mundo pode se tornar um grande artista, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar". Mas fica o conselho: grotesco e sem muito pudor, Estômago não é pros pirralhos nem pros frescalhões - é só pra quem tem... ah, você entendeu.
>> Também publicado no Cinema de Buteco
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