No ringue: Star Ferry vs. Peak Tram
VS.
Os dois meios de transporte mais icônicos de Hong Kong são o Star Ferry e o Peak Tram . São tão icônicos que aparecem nos guias não apenas como transporte, mas como atrações da cidade. Os leitores da revista Time Out elegeram ambos como duas das sete maravilhas hongkongueanas - o Peak Tram ficou em sexto e o Star Ferry papou a primeira posição. É tanta fama e tanto elogio que resolvi colocar os dois no ringue: numa disputa entre a balsa que conecta a Ilha de Hong Kong à parte continental da cidade e o bonde que leva os visitantes ao topo do Victoria Peak, quem ganharia?
Relevância histórica
Em comparação com outras atrações de Hong Kong, a balsa e o bonde são dois bisavós. Ambos não só remontam ao final do século 18, como datam incrivelmente do mesmo ano – 1888. A Star Ferry Company começou a transportar passageiros pelas águas da ex-colônia britânica quase ao mesmo tempo em que a Hong Kong High Level Tramways Company inaugurou o seu bondinho para levar a galera pelo Victoria Peak. A bem da verdade, não é um bondinho – o nome mais preciso é “ funicular”, que designa um carro que circula sobre trilhos e é puxado por cabos.
A lógica me manda declarar empate técnico nesta categoria, mas como o funicular foi o primeiro do tipo na Ásia – e o Star Ferry, bem, é só um barco – vou dar o ponto para o bondinho.
Visual
É uma questão de gosto pessoal, né? O visual do Peak Tram é sóbrio: ele é quadradão e tem uma cor meio bonina (nú, tinha uns quinze anos que eu não usava essa palavra). O modelo atual, na verdade, existe apenas desde 1989 e é a quinta geração de bondes – antigamente eles eram verdes. Já o ferry boat é bicolor: verde no andar de baixo, branco no de cima.
Meu voto vai pela singularidade. Bondes boninas existem às pencas por aí, mas barquinhos com as cores da bandeira da Nigéria chamam mais a atenção. Ponto para a balsa.
Nomes
De um lado, The Peak Tram. Do outro, uma frota de doze barcos diferentes, todos com nomes terminados em “Star”. Eu andei em dois – Northern Star e Morning Star. Entre outros nomes, temos Celestial Star, World Star, Twinkling Star, Shining Star, Glowing Star. Particularmente, preferiria se eles não soassem como nomes de canções da Disney e passeassem por outras influências – tipo Ringo Star, Jesus Christ Super Star, por aí. Mesmo assim, é pra diversidade de nomes que vai o meu ponto.
Preço
O ferry custa apenas 3,50 dólares de Hong Kong (R$ 0,75), e isso para o deck superior, que é mais oneroso. O bondinho nos arranca sete vezes isso – são 25 HKD (R$ 5,35) só de ida. Vitória indiscutível do Star Ferry.
Utilidade
O Peak Tram serve como ligação entre a Ilha de Hong Kong e o topo de sua montanha mais alta, o Victoria Peak. Há outras formas de subir: embora as liteiras tenham sido aposentadas há um tempão, dá pra subir de carro, de busão ou mesmo a pé. Os trajetos que o Star Ferry faz também podem ser percorridos de outras formas, incluindo táxi e metrô. Mas só de oferecer múltiplos itinerários (são quatro), já vale o ponto para o barquinho.
Fila pra entrar
Tanto o bonde quanto os barcos vêm com uma freqüência boa, a cada dez minutos ou coisa assim. Mas a frota de embarcações é bem maior, reduzindo o tempo de espera e o empurra-empurra. As fotos abaixo não me deixam mentir: mais um ponto para o ferry.
Quatro aqui...
...trocentos cá.
Entretenimento antes de entrar
As estações do Star Ferry são como qualquer estação de transporte: uma lanchonete, uma máquina de refrigerante, etc. Conveniente, mas nada de especial. Já na fila para o Peak Tram, montaram um pequeno museu, exibindo objetos e cartazes antigos relacionados à história do bondinho. Finalmente o bonde marca uma!
Toy Story, literalmente.
O Central Pier: bonitão, mas sem mini-museu.
Conforto
Nenhum dos dois é assim um sofazão da casa da vovó. Há quem tenha problemas em barcos e passe mal com o primeiro sacolejo. Eu achei tranqüilo, e se as cadeiras são duras e com encosto baixo, pelo menos não há muitas pessoas e a viagem transcorre na boa. O bonde tem bancos melhores, mas é um pouco claustrofóbico: a subida é inclinada, tem muita gente lá dentro e a geringonça pára de tempos em tempos. Sem querer pegar no pé do bonde, mas é pro barco que vai meu ponto.
Pelo menos dá pra respirar.
Vista
Aqui era de se esperar que o Peak Tram ganhasse. Afinal, ele sobe mais de 500 metros em pouco mais de dez minutos, e permite ao passageiro uma vista magnífica do mar e das ilhas que compõem Hong Kong. Mas isso se você consegue sentar do lado direito do bonde. Eu peguei o esquerdo e só encarei paredes mal cuidadas de prédios, quase colados na minha janela. Enquanto isso, as cabeçorras e os braços erguidos com máquinas fotográficas obstruíam minha visão do lado esquerdo – todo mundo exclamava óóóó, que bonito, e eu não via bulhufas.
Tá vendo a paisagem? Nem eu.
O ferry não tem vista aérea, mas só de ser aberto dos dois lados e permitir que todo mundo possa admirar a paisagem, ganha meu voto.
Destino final
O Star Ferry é um transporte como qualquer outro: ao desembarcar, você escolhe pra onde caminhar e pronto. O Peak Tram, já indica o nome, leva você ao topo do Victoria Peak, onde – aí sim – você tem uma vista excelente da cidade , pode visitar museu de cera , comprar bugigangas temáticas e jantar em restaurantes temáticos. Aqui o bonde faz mais um golzinho de honra.
O RESULTADO
Que lavada. Star Ferry 7 x 3 Peak Tram.
Meu conselho: se for pra Hong Kong, passe reto pelo bonde e suba o Victoria Peak de ônibus, que é mais barato e leva ao mesmo lugar. Mas não deixe de singrar as águas hongkongueanas no Star Ferry. A não ser que passe mal com o primeiro sacolejo.
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