Karaokê, lularia e vinho de cobra: entretenimento em Halong Bay
Após quarenta e cinco minutos caiacando ao redor das ilhotas rochosas de Halong Bay, devolvemos barquinho, remos, coletes e retornamos ao barco-tamanho-médio que nos levaria de volta ao barcão-hotel. O guia anunciou a programação seguinte: tempo livre, jantar, e para encerrar a noite poderíamos escolher entre duas opções de entretenimento. Aproveitei a hora livre para tomar um banho no chuveiro da cabine e olha, foi muito melhor que o meu aqui em Beijing, que nunca acerta a mão na temperatura e precisa da torneira da pia aberta pra poder funcionar decentemente. Eu trocaria o banheiro do barco por qualquer banheiro chinês.
O barquinho vai...
...a tardinha cai...
...e dá lugar ao breu do mar (e às luzes dos barcos turísticos).
Destaque do jantar: rosa esculpida em melancia.
Finda a refeição noturna, ligaram a TV do restaurante para a opção de entretenimento número um: karaokê, evidentemente. Parece que no Leste Asiático não tem um lugar que não esteja contaminado pela epidemia do karaokê. Já discorri sobre o assunto neste post aqui , mas há mais de um ano não esgoelava canções populares em microfones com eco no máximo. Nosso guia tentou porque tentou fazer com que algum dos gringos sob sua tutela exibissem os dotes vocais, mas ninguém esbanjava empolgação como ele. Eu e Hector, um espanhol, até tentamos e improvisamos um dueto numa música do Oasis pra ver se alguém mais se animava, mas a gringaiada amarelou e infelizmente sobrou para o guia e a tripulação. Várias e várias canções vietnamitas cantadas com entusiasmo admirável e desafinação ímpar. Outro barco atracou junto ao nosso e dava pra ouvir o karaokê vindo de lá também, como se matassem gatinhos usando tortura chinesa. Não tinha jeito, estávamos cercados.
Com a platéia rapidamente dispersa, o guia desistiu do karaokê, desapontado, e passou para a opção de entretenimento número dois: pescaria. Melhor dizendo, uma lularia, já que os cefalópodes eram só o que nadava ali por perto. Munidos de varinhas de bambu bem ordinárias, lançávamos a isca artificial e aplicávamos os ensinamentos de um vietnamita da tripulação, balangando o anzol pra cima e pra baixo. Eu logo desisti e fui pescar umas cervejas. Uma americana, bem mais tenaz, passou horas ali na beira do barco, sem êxito. O único que tirou a sorte grande foi um holandês que conseguiu içar duas lulas. A primeira ele mandou de volta pra água, mas a segunda foi prontamente interceptada pelo nosso guia, que a mandou para um baldinho. Coincidência ou não, no jantar que acabáramos de ter, serviram lula. Estratégia boa essa, fazer os turistas achar que estão se divertindo, quando estão é trabalhando.
O americano carecão bem que tentou...
...mas só o holandês lulou um molusco.
Companheirof e companheiraf...
O dia seguinte amanheceu ensolarado e com clima de preguiça. Felizmente não havia mais nenhuma pendência na lista de tarefas e pudemos escolher a nosso bel-prazer se queríamos ficar à toa no deque superior do barco ou fazer nada olhando pro mar. O guia ainda vinha de tempos em tempos exibir seus conhecimentos sobre a região ou narrar um causo sobre determinada ilhota. Ficou horas criando expectativa sobre "uma das ilhas mais famosas de Halong Bay": a Ilha dos Galos de Briga. Quando finalmente avistamos a danada, a reação geral foi de "nhé". Com muita imaginação (ou muita erva), as duas pedronas de calcário podiam lembrar dois galos lutando, mas pra tanta propaganda, esperávamos uma semelhança menos viajandona.
Ok: nessa foto tirada no ângulo certo e por um fotógrafo profissional, a ilhota da direita realmente lembra um galináceo. Já na da esquerda, com muito esforço, consegui ver um coelho de orelhas cortadas.
É hora de dizer tchau...
Meio-dia e pouco, o passeio terminou. Nós que pegáramos o pacote de dois dias fomos almoçar em Halong City, e o grupo que escolheu três dias seguiu caminho para outras bandas. (Mas todos deixamos o barco. Se você cogita escolher o pacote de três dias para passar mais tempo no barco, esqueça: vale a pena pelas atividades adicionais, tem caminhadas e tal, mas a segunda pernoite é num hotel em terra firme.) No restaurante onde enchemos a pança, dois vidrões no balcão me chamaram a atenção. E acho que vão chamar a sua também:
Minhas suspeitas foram confirmadas pela Wikipedia : " O vinho de cobra (rượu rắn em vietnamita) é uma bebida alcoólica produzida ao adicionar cobras inteiras em vinho de arroz ou álcool etílico. Pode ser encontrado na China, Vietnã e ao longo do Sudeste Asiático. As cobras, preferencialmente venenosas, geralmente não são preservadas por sua carne mas para ter sua 'essência' e veneno dissolvidos na bebida. No entanto, o veneno é desnaturado pelo etanol; suas proteínas são abertas e portanto desativadas". Agora me explica o lagarto e o pássaro preto no vidro redondo.
Já em casa, analisei a etiqueta colada em um dos vidros (" Hàng tr ưng bày không bán ") e resolvi pesquisar. Apurei a vista, colei letrinha por letrinha do alfabeto vietnamita no Google Translate e o resultado da tradução foi mais ou menos: " Esta mercadoria não está à venda ". Ufa! Acabou meu arrependimento por não ter pedido um gole.