03/05/2011

As 1.969 ilhotas de Halong Bay

 

Pra visitar Halong Bay – uma das atrações naturais mais famosas do Vietnã, Patrimônio Mundial da Unesco e tudo mais – você não tem muita escapatória: ou abraça o esquemão turístico, ou se vira pra levar seu próprio barco para o nordeste vietnamita. Halong Bay fica relativamente perto de Hanói, o suficiente para atiçar a vontade de fazer um bate-e-volta de um dia só. Melhor evitar. Essa aparente proximidade é um "ali de mineiro" e você gasta mais tempo na van (4 horas pra ir, 4 pra voltar) do que navegando pelo arquipélago. O pacote de dois dias faz mais sentido: você sai de Hanói pela manhã, chega em Halong Bay a tempo pro almoço, passa a tarde e a noite no barquinho e volta só no dia seguinte, sem estresse. 

 
Tem uma conta aí que não tá fechando... 

Chamei Halong Bay de arquipélago, mas a palavra passa uma imagem errônea. Tem ilha pra burro, é verdade – mais precisamente 1.969, afirma a sabedoria popular, o que muito convenientemente também é o ano em que Ho Chi Minh morreu –, mas elas fogem do estilo Robinson Crusoé, com coqueiros e praias paradisíacas. A imensa maioria é de rochas enormes, feitas de pedra calcária, que dão a impressão de uma cadeia de montanhas emergindo do mar. 

 

Depois de passar a manhã no mini-ônibus presenciando paisagens-clichê como essa aí em cima (não faltou nem o chapeuzinho pontudo na cachola da camponesa), chegamos ao porto de onde saem as embarcações. São dezenas de barquinhos levando e trazendo visitantes, com aparência bem semelhante (aquele clima meio Jack Sparrow) e a inevitável bandeirona do Vietnã tremulando no topo. 

 

Primeiro pega-se um barco menor...


...que te leva até o barco-hotel onde você vai passar a noite. O nosso foi esse da direita.


O piloto e o guia:
 

Éramos cerca de quinze passageiros no barco, mais o guia vietnamita e a pequena tripulação. Entre os turistas, muita gente da Holanda, França, Estados Unidos, Argentina. Um casal de estadunidenses estava no quarto mês de sua viagem de seis meses (!!) pelo Sudeste Asiático, ê vida boa. O guia, falando um inglês por vezes indecifrável, empenhava-se para manter a programação na linha. Todo mundo claramente interessado em ficar de pernas pro ar, curtindo o sol e as dependências do barco, e toda hora vinha uma nova instrução: agora, almoço! agora, gruta! agora, caiaque! Parece que se não encher o dia com atividades, a viagem não conta. Mas eu podia bem ficar fazendo nada a tarde inteira no barquinho... 

O restaurante, quando estávamos saindo do porto:


Minutos depois, a vista já estava livre dos outros barcos.


O corredor para um dos quartos. Andar aqui bêbado é arriscado...


Eu moraria fácil nesse quarto.


Tem até varanda com banquinhos e cheiro de maresia.


Acordar de manhã e dar de cara com essa vista na janela, eita!


Não é todo dia que você guarda um colete salva-vidas no criado-mudo.


O deque superior do nosso barco. A proa...


...e a popa (ou seria o contrário?)


A cabine do capitão já vem com cama e tudo.
 

E olha só a malemolência do sujeito na hora de mover o leme:

Como se sabe, os preços das coisas em viagens de barco são disparatadamente mais altos. As refeições estavam inclusas no pacote, mas para qualquer extra - cervejinha, salgadinho - era preciso pôr a mão no bolso e gastar mais um punhado de dólares. A proliferação de barcos turísticos em Halong Bay gerou uma nova oportunidade de mercado: vendedores itinerantes, que se aproximam na surdina com suas canoas e oferecem comidas e bebidas a preços, digamos, menos abusivos. 

 

 
  
 

"Agora, gruta!", veio a instrução do guia. Dessas centenas de ilhotas de pedra, muitas abrigam cavernas em seu interior. Naturalmente, o potencial turístico transforma várias delas em parte integrante da famigerada programação, e dá-lhe iluminação colorida nas estalactites, lendas suspeitas sobre as formações rochosas, escadarias incrustadas na pedra. Acho muito mais legal quando a gruta requer lanternas, cordas e bravura indômita para visitar, mas o mercado de turismo não concorda comigo. 

 

 

 
Algumas áreas são tão amplas que não sei como ainda não construíram um hotelzinho cavernoso (mas deixa eu falar baixo...) 

 

 

 

 

 

E na entrada da caverna, uma deslocada lixeira em formato de... pingüim?! Mais uma pra minha coleção de lixeiras avulsas .
 

Gostei foi desses cães de pernas curtas na beira do cais.


Admirando a paisagem...
 

Cerca de mil e quinhentas pessoas vivem em casinhas flutuantes em Halong Bay. Vivem principalmente da pesca, mas com a renda adicional da venda de guloseimas para os visitantes. Sim, aqueles camelôs navegantes moram aqui, de onde remam rumo aos barcões turísticos. 

 
Será que a bandeirinha do Vietnã é obrigatória? 


 
Notem o sujeito sentado na rede: palmas para a cobertura de telefonia! 

A última atividade antes do pôr-do-sol foi uma voltinha de caiaque. Nadar chegou a ser cogitado, mas a temperatura das águas vietnamitas no início de fevereiro não estavam muito convidativas. Gostei mais do caiaque do que de visitar a gruta, talvez pela ligeira sensação de autonomia: são apenas 45 minutos, mas você pode fazer o que quiser, desde circundar algumas ilhotas até dar um pulo nas casinhas flutuantes e praticar seu vietnamita com a galera. 

 

 
Rema rema rema remador... 

 

"Agora, pôr-do-sol!". Fiquei surpreso de não incluírem isso na programação... 

No próximo post: pescando lulas em Halong Bay, vinho de cobras, e chega de karaokê! 

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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