26/06/2011

O Central Perk pequinês ganhou um puxadinho

 

Meses atrás, publiquei um vídeo mostrando uma réplica do Central Perk, o café de Friends , em plena capital da China. A obra é de um chinês que é fã hardcore do seriado e reproduziu o visual do café onde os seis amigos se reúnem todo santo episódio, de maneira tão fiel quanto suas limitações de espaço e grana permitiram. 

Quando visitei o lugar em novembro, perguntei pro dono o que era aquela quebradeira atrás da porta e ele me disse que estava construindo uma réplica do apartamento de Joey e Chandler na sala adjacente. Hoje, sete meses depois, voltei ao Central Perk pequinês e topei com o puxadinho já pronto. Exceto pelo tamanho, ficou bem parecido. Não faltou a mesa de totó nem as poltronas superconfortáveis: 



Um pouco apertado, mas tá valendo. 
 

Embora o café estivesse lotado na hora, o apê adjacente estava meio às moscas, talvez pela falta de uma conexão mais óbvia entre os dois ambientes (a porta entre eles estava fechada e pra chegar ali você tinha primeiro que sair do café). Ficou mais como uma curiosidade turística para quem via o seriado. 
 

A poltrona estava confortável como deve ser. O acesso aos quartos é que ficou meio complicado. 
 

O box de Baywatch foi uma escolha acertada. Mas por que é que não estava passando na TV? 
 

No café propriamente dito, as chinesinhas se esparramam pelo sofá. A TV em frente a elas passa Friends o tempo inteiro, ininterruptamente. 
 

Do lado de fora, um painel exibe as citações da série favoritas dos chineses (imagino que os nomes entre parênteses sejam de quem fez a contribuição). 
 

E na entrada, uma parede recém-pintada substitui os rostos dos personagens por balõezinhos com seus bordões mais recorrentes. Pra quem viu meia dúzida de episódios já fica fácil saber quem é quem: 
 

 

20/06/2011

Qingdao, a capital chinesa da cerveja

Qingdao é a capital chinesa da cerveja. Não por acaso, foi a única cidade da China a ser uma espécie de colônia alemã – o nome oficial era "concessão", mas a gente sabe que cidades não são dadas de presente assim por aí. Os alemães ocuparam Qingdao do finalzinho do século 19 até o início da Primeira Guerra, quando os japoneses pediram licença e se apoderaram de lá. Depois de algumas idas e vindas, a posse do lugar voltou a ser completamente da China, mas o que interessa para este texto são mesmo aqueles anos germânicos, que explicam porque, mais de um século depois, o nome da cidade virou sinônimo de suco de cevada.


Ali na beira do Mar Amarelo, no nordeste chinês, encarando a Coréia do Sul, fica Qingdao. 

É claro que a alemãzada não poderia ficar muito tempo sem sua cota de bier : em 1903, meros seis anos após desembarcarem em Qingdao, eles abriam a cervejaria Germania, que acabaria virando Tsingtau e finalmente Tsingtao. Esses nomes todos (Qingdao, Tsingtao, Tsingtau) se pronunciam da mesma forma, " tchim dau " – a diferença se deve a diferentes romanizações dos nomes chineses, que também transformaram Beijing em Pequim , Nanjing em Nanquim, e tantas outras. 

Tsingtao é hoje em dia a mais famosa cerveja chinesa. É vendida em mais de 60 países, aparece em filmes como Blade Runner Gran Torino , e durante o período em que a China esteve mais isolada do mundo, em meados do século 20, era responsável por 98% (!!) das exportações chinesas. Comparada com as cervejas brasileiras, a Tsingtao tem menos álcool (gira em torno dos 3,5%) e é bem mais barata: nos mercadinhos mais locais, dá pra achar por 2 yuans, ou R$ 0,50. Nos bares da vida, obviamente, eles enfiam a faca e cobram dez vezes mais. Cães. 

 
"A cidade ideal do cachorro tem um barril de chope por metro quadrado..." 


"O elefante pergunta pra vaquinha: tomou?" 

Qingdao, a cidade, se destaca por várias qualidades. Tem praias, frutos do mar, um clima mais tranqüilão que a correria de Beijing. A cerveja entra aí como um adendo turisticamente importante, já que até a fábrica original da Tsingtao é aberta para visitação. O passeio é interessante. Começa com os obrigatórios letreiros narrando a gloriosa história da cervejaria, conta com maquetes e bonecos de cera representando os trabalhadores de outrora, apresenta um vislumbre da parte da fábrica ainda em funcionamento hoje em dia – garrafas e latinhas passando pelas esteiras, recebendo rótulos e sendo encaixotadas como pinos de boliche – e é coroado com a obrigatória degustação da gelada recém-fabricada, incluindo um exemplar da chamada raw beer , uma espécie de cerveja "crua", sem conservantes, que é uma belezura e difícil de achar fora de Qingdao. 


Garrafas de 5 mil litros também são exclusivas da fábrica. 

Uma maneira no mínimo curiosa de descrever o fim da Segunda Guerra: "Em 15 de agosto de 1945, quando as tropas chinesas venceram a guerra anti-japonesa..." 
 

Vai aí uma cerveja nazista? 
 

Uma prateleira exibe orgulhosamente as variedades de Tsingtao disponíveis no mercado...
 

...enquanto outra reúne latas e garrafas de marcas do mundo inteiro.
 

Entre a cingapuriana Tiger Beer e a mexicana Corona Extra, lá estão nossas Skol e Bohemia. Também vi latinhas de Caracu, Antarctica e até da famigerada Nova Schin.
 

Uma estátua de cera confere os procedimentos de fabricação.
 

Aí, Bruno Paio: uma idéia do que fazer com suas trocentas tampinhas.
 

Quer virar rótulo? Por um punhado de yuans, diga xis e ganhe uma foto-cerveja. 
 

Linha de produção das latinhas. Opa, tá rolando uma tentativa de fuga. 
 

Cerveja atrás de cerveja, nosso amigo ali tem que ficar de olho. Se vier barata dentro da garrafa, a culpa é dele. 
 

Rotula, verifica, agrupa, encaixota... 
 

Quase no final do passeio, uma tal de "Casa de Bêbado" aguarda o intrépido visitante. Ela tem uma inclinação considerável e a sensação de pisar lá dentro é realmente como a de encher a cara a noite inteira e ter que fazer esforço pra se segurar em pé.


A cabeça dói e, se você não segurar, é tombo na certa.


Tá quase...


Para terminar, chega enfim a hora da degustação (a porção é pouco generosa, mas tá valendo).


"Prove, veja, gire, cheire".


É claro que o comércio local não ia desperdiçar uma oportunidade dessas. Batizaram a rua em frente à fábrica de "Rua da Cerveja" e encheram de bares servindo chope em suas mais diversas formas.


Tem até cerveja verde (não sei o que vem dentro, mas deve ser saudável, não?)


Mas a experiência cervejeira qingdaoana por natureza é beber chope na sacolinha de plástico. Você vê isso por toda parte, e se não é das coisas mais práticas, pelo menos diverte.


É preciso perícia para entornar o líquido, ainda mais depois de um certo estado.


Pra facilitar, as sacolas vêm com um "biquinho" estilo bule. Há também que beba de canudinho. E se quiser dar uma pausa, tem que ficar segurando? Não: é só achar uma porta e pendurar na maçaneta. Sério, funciona.
 



Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

Quem

Lucas Paio já publicou contos em revistas e antologias, já dirigiu curtas-metragens e compôs canções, já ganhou um campeonato de aviões de papel, tocou teclado numa banda cover de Bon Jovi, morou na China e hoje vive em Berlim. É autor do romance de fantasia cômica MACADÂMIA, lançado em 2025.

Busca no blog

Leia

Leia
Cinema-Múndi: Uma viagem pelo planeta através da sétima arte

Leia também

Leia também
A Saga de Tião - Edição Completa

Ouça

Ouça
Sifonics & Lucas Paio - A Terra é Plana

Mais lidos

Leia também


Cinema por quem entende mais de mesa de bar

Crônicas de um mineiro na China


Uma história parcialmente non-sense escrita por Lucas Paio e Daniel de Pinho

Arquivo

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *