Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 30
Chegando aos 150 filmes...
JOGOS VORAZES (The Hunger Games, EUA, 2012, dir. Gary Ross)
Jogos Vorazes veste uma roupagem de distopia futurista disposta a discutir questões políticas, mas na verdade é uma aventura estilo "A Jornada do Herói" bem comum e cheia de problemas. Pra começar, a própria idéia dos jogos não faz muito sentido: nem as regras, nem o propósito, muito menos a reação da opinião pública ou a desculpa furadíssima que usam para realizá-los há 74 anos. Até o Mortal Kombat e os Jogos Mortais eram mais convincentes. A estética steampunk é bacana, mesclando designs tecnológicos com roupas ultracoloridas e quase vitorianas. Jennifer Lawrence entrega um trabalho competente, mas o mesmo não se pode dizer de Josh Hutcherson, seu insosso parzinho romântico. Os outros competidores são apresentados de maneira bem rasa e ficam basicamente divididos entre os malvados e os coitadinhos, nunca indo além do arquétipo. A morte de uma das personagens, previsível pela própria lógica do filme, tem um impacto emocional muito pequeno e não há chororô e musiquinha melosa que salvem. Pior é ver o distrito se revoltando só quando a menina morre, e não quando ela e outras tantas crianças foram forçadas a participar de um comblate de gladiadores. Completam o pacote um amontado de situações-clichê, como o vilão que fica enrolando pra matar a vítima só pra dar tempo de um terceiro personagem vir evitar, e a montagem feita para espectadores com déficit de atenção, cheia de cortes em excesso e muitos sem continuidade alguma. Nota 2/5
O SEGREDO DA CABANA (The Cabin in the Woods, EUA, 2011, dir. Drew Goddard)
Há vários filmes convivendo dentro de The Cabin in the Woods, cada um de um gênero diferente, cada um provocando em mim um sentimento conflitante em relação aos outros. O primeiro é um terror bacaninha mas absolutamente convencional (e propositalmente, é preciso deixar claro). O segundo, bem mais interessante, se passa em um ambiente corporativo e é uma grande piada metalinguística, brincando com os clichês dos filmes de horror de forma original e intrigante. O problema é que esse "segundo filme" levanta muitas questões que acabam resolvidas por um "terceiro", que começa parecendo ficção científica (lembrando Cubo e trazendo a ponta de uma célebre estrela do sci-fi) e se revela uma fantasia, um deux ex machina surpreendentemente literal. Talvez o problema seja meu, tentando encontrar explicações racionais demais, mas pra mim o desfecho se mostrou insatisfatório e frustrante, prejudicando o resto do filme em retrospecto. Nota 3/5
ANJOS DA LEI (21 Jump Street, EUA, 2012, dir. Phil Lord & Chris Miller)
Comédia de ação bem simpática baseada em uma antiga série de TV protagonizada pelo jovem Johnny Depp, Anjos da Lei coloca Jonah Hill (na pele, quem diria, de um policial) voltando à escola para participar de uma operação à paisana. É boa sua química com Channing Tatum, um personagem que tinha tudo pra ser antipático – a dupla tem carisma e até clichês envolvendo a infame "prom night" descem redondo. O humor é consistente e investe em piadas recorrentes sobre os efeitos de uma certa droga e o conflito entre expectativa/realidade de jovens policiais que cresceram vendo filmes do gênero (os carros batem e não explodem, por exemplo). Boa surpresa. Nota 4/5
O BEBÊ DE ROSEMARY (Rosemary's Baby, EUA, 1968, dir. Roman Polanski)
O filme já abre com uma cantiga de ninar com ares tétricos, prenunciando o clima tenso que acompanhará a protagonista em sua sinistra gravidez. Mia Farrow faz um ótimo trabalho em um de seus primeiros papéis, enquanto John Cassavettes inspira confiança, o que é fundamental para seu personagem. O Bebê de Rosemary não é um horror que choca, não há nada explícito, o máximo nesse sentido são algumas sequências de pesadelo. O próprio bebê-título só é descrito verbalmente, nunca mostrado. E por isso mesmo o filme funciona tanto: é um suspense construído com calma e cuidado, envolvendo o espectador na paranóia da coitada da Rosemary. Ela pode parecer maluca para os outros personagens, mas estamos sempre do seu lado, compartilhando de suas suspeitas. Nota 5/5
BONNIE E CLYDE - UMA RAJADA DE BALAS (Bonnie and Clyde, EUA, 1967, dir. Arthur Penn)
A violência de Bonnie e Clyde pode ter chocado na época, mas o público de hoje é capaz de estranhar mais os jump cuts pós-Nouvelle Vague. Tirando isso, o filme não envelheceu nada e continua supreendendo por muitas escolhas ousadas, como a “paixão sem tesão” entre o casal de protagonistas. Bonnie e Clyde são gângsters “gente boa” e encaram a vida de fora-da-lei como uma grande diversão, papeando com as vítimas, mandando poemas para os jornais. É só quando o cerco aperta que a realidade desmorona sobre eles, culminando nas cenas mais violentas do filme e em um final seco, sem espaço para esperanças ou recomeços. Nota 5/5
JOGOS VORAZES (The Hunger Games, EUA, 2012, dir. Gary Ross)
Jogos Vorazes veste uma roupagem de distopia futurista disposta a discutir questões políticas, mas na verdade é uma aventura estilo "A Jornada do Herói" bem comum e cheia de problemas. Pra começar, a própria idéia dos jogos não faz muito sentido: nem as regras, nem o propósito, muito menos a reação da opinião pública ou a desculpa furadíssima que usam para realizá-los há 74 anos. Até o Mortal Kombat e os Jogos Mortais eram mais convincentes. A estética steampunk é bacana, mesclando designs tecnológicos com roupas ultracoloridas e quase vitorianas. Jennifer Lawrence entrega um trabalho competente, mas o mesmo não se pode dizer de Josh Hutcherson, seu insosso parzinho romântico. Os outros competidores são apresentados de maneira bem rasa e ficam basicamente divididos entre os malvados e os coitadinhos, nunca indo além do arquétipo. A morte de uma das personagens, previsível pela própria lógica do filme, tem um impacto emocional muito pequeno e não há chororô e musiquinha melosa que salvem. Pior é ver o distrito se revoltando só quando a menina morre, e não quando ela e outras tantas crianças foram forçadas a participar de um comblate de gladiadores. Completam o pacote um amontado de situações-clichê, como o vilão que fica enrolando pra matar a vítima só pra dar tempo de um terceiro personagem vir evitar, e a montagem feita para espectadores com déficit de atenção, cheia de cortes em excesso e muitos sem continuidade alguma. Nota 2/5
O SEGREDO DA CABANA (The Cabin in the Woods, EUA, 2011, dir. Drew Goddard)
Há vários filmes convivendo dentro de The Cabin in the Woods, cada um de um gênero diferente, cada um provocando em mim um sentimento conflitante em relação aos outros. O primeiro é um terror bacaninha mas absolutamente convencional (e propositalmente, é preciso deixar claro). O segundo, bem mais interessante, se passa em um ambiente corporativo e é uma grande piada metalinguística, brincando com os clichês dos filmes de horror de forma original e intrigante. O problema é que esse "segundo filme" levanta muitas questões que acabam resolvidas por um "terceiro", que começa parecendo ficção científica (lembrando Cubo e trazendo a ponta de uma célebre estrela do sci-fi) e se revela uma fantasia, um deux ex machina surpreendentemente literal. Talvez o problema seja meu, tentando encontrar explicações racionais demais, mas pra mim o desfecho se mostrou insatisfatório e frustrante, prejudicando o resto do filme em retrospecto. Nota 3/5
ANJOS DA LEI (21 Jump Street, EUA, 2012, dir. Phil Lord & Chris Miller)
Comédia de ação bem simpática baseada em uma antiga série de TV protagonizada pelo jovem Johnny Depp, Anjos da Lei coloca Jonah Hill (na pele, quem diria, de um policial) voltando à escola para participar de uma operação à paisana. É boa sua química com Channing Tatum, um personagem que tinha tudo pra ser antipático – a dupla tem carisma e até clichês envolvendo a infame "prom night" descem redondo. O humor é consistente e investe em piadas recorrentes sobre os efeitos de uma certa droga e o conflito entre expectativa/realidade de jovens policiais que cresceram vendo filmes do gênero (os carros batem e não explodem, por exemplo). Boa surpresa. Nota 4/5
O BEBÊ DE ROSEMARY (Rosemary's Baby, EUA, 1968, dir. Roman Polanski)
O filme já abre com uma cantiga de ninar com ares tétricos, prenunciando o clima tenso que acompanhará a protagonista em sua sinistra gravidez. Mia Farrow faz um ótimo trabalho em um de seus primeiros papéis, enquanto John Cassavettes inspira confiança, o que é fundamental para seu personagem. O Bebê de Rosemary não é um horror que choca, não há nada explícito, o máximo nesse sentido são algumas sequências de pesadelo. O próprio bebê-título só é descrito verbalmente, nunca mostrado. E por isso mesmo o filme funciona tanto: é um suspense construído com calma e cuidado, envolvendo o espectador na paranóia da coitada da Rosemary. Ela pode parecer maluca para os outros personagens, mas estamos sempre do seu lado, compartilhando de suas suspeitas. Nota 5/5
BONNIE E CLYDE - UMA RAJADA DE BALAS (Bonnie and Clyde, EUA, 1967, dir. Arthur Penn)
A violência de Bonnie e Clyde pode ter chocado na época, mas o público de hoje é capaz de estranhar mais os jump cuts pós-Nouvelle Vague. Tirando isso, o filme não envelheceu nada e continua supreendendo por muitas escolhas ousadas, como a “paixão sem tesão” entre o casal de protagonistas. Bonnie e Clyde são gângsters “gente boa” e encaram a vida de fora-da-lei como uma grande diversão, papeando com as vítimas, mandando poemas para os jornais. É só quando o cerco aperta que a realidade desmorona sobre eles, culminando nas cenas mais violentas do filme e em um final seco, sem espaço para esperanças ou recomeços. Nota 5/5