Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 47 (e final!)
Aqui vão os cinco últimos filmes que vi em dois mil e dôuze:
2010: O ANO EM QUE FAREMOS CONTATO (2010, EUA, 1984, dir. Peter Hyams)
A galera que reclama dessa onde de remakes e seqüências não precisa se preocupar: eles sempre existiram, são lembrados quando bons e sumariamente esquecidos quando não prestam. Enquanto 2001: Uma Odisséia no Espaço é top 10 da Sight & Sound, quem é que se lembra hoje em dia de 2010: O Ano em que Faremos Contato? Pra ser justo, 2010 é uma ficção científica que tem bons momentos (o engenheiro obrigado a virar astronauta, a tensão de uma manobra espacial jamais tentada) e é muito mais fácil de entender do que 2001. Mas essa última característica é justamente a sua ruína: é um filme que não sabe quando calar a boca. Tudo é explicado tintim por tintim através de diálogos, narrações em off, mensagens escritas em telas de computador. Cenas que se beneficiariam da "mudez" do original, como o interessante (embora absurdo) final, são estragados pelo falatório, e os mistérios de 2001 são mastigados e explicados como um guia de estudo: descobrimos até porque HAL 9000 ficou doidão. (Sugestão para um terceiro filme: um improvável romance entre HAL e SAL 9000, a "computadora" que aparece aqui.) E enquanto 2001 era um filme à frente de seu tempo e continua à frente até do nosso, 2010 tem uma cara datada de anos 80, com toda aquela história de Guerra Fria e Roy Scheider como protagonista. Nota 2/5
STANLEY KUBRICK – A LIFE IN PICTURES (EUA, 2001, dir. Jan Harlan)
Documentário narrado por Tom Cruise e lançado dois anos após a morte de Kubrick, A Life in Pictures exalta todas as genialidades do diretor no que diz respeito à sua obra, mas não o glorifica como pessoa: está lá a Shelley Duvall dizendo o quanto sofreu durante O Iluminado, Malcom McDowell contando que ele nunca mais o telefonou e até a própria filha de Kubrick falando que o pai era uma pessoa difícil. É uma pena que haja tão pouco material em vídeo com o próprio Stanley Kubrick – e seria complicado para os documentaristas arranjarem isso com ele morto –, mas A Life in Pictures faz um ótimo trabalho em retratar o diretor a partir de todos os fragmentos pessoais e cinematográficos que ele deixou. Nota 4/5
REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL (Rebecca, EUA, 1940, dir. Alfred Hitchcock)
Um dos raros filmes de Hitchcock que (durante sua maior parte) não envolve uma trama policial, Rebecca tem mesmo assim uma morta assombrando os vivos, embora não no sentido literal: é a memória da personagem-título, tão forte entre os que se lembram dela, que oprime a nova Mrs. de Winter (Joan Fontaine, com um adequado ar ingênuo). Algumas opções estilísticas não envelheceram muito bem, com a trilha melodramática sempre presente e algumas atuações meio teatrais, mas é um ótimo Hitchcock onde o suspense demora um pouco pra aparecer e segredos surgem nas figuras de quem você menos espera. Nota 4/5
DONNIE DARKO (EUA, 2001, dir. Richard Kelly)
Não é difícil entender por que Donnie Darko virou cult: misterioso, onírico, cheio de conceitos intrigantes que dão margem a diversas teorias e um protagonista que personifica muitos sentimentos de outsider compartilhados pelos jovens. A trama de viagem no tempo não é assim tão difícil de entender, mas a sensação é de que o então estreante Richard Kelly tinha uma porção de idéias e quis usar tudo-ao-mesmo-tempo-agora, ignorando as pontas soltas. Não estou cobrando uma explicação de mão beijada sobre certos detalhes do filme, mas – já que Kelly aparentemente explica bastante nos comentários do DVD e na versão do diretor (a que eu vi é a do cinema) –, seria bacana se pudéssemos montar o quebra-cabeça sozinhos, sem precisar de um manual. Nota 3/5
A.I. – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL (A.I. Artificial Intelligence, EUA, 2001, dir. Steven Spielberg)
O polêmico filme de Spielberg é daqueles que pode não agradar da primeira vez, mas vale revisitar. As idéias que propõe sobre inteligência artificial, amor, desejo e livre arbítrio são bem interessantes, Haley Joel Osment está excelente como o pequeno robô e Spielberg não economiza em imaginação (e orçamento) na hora de criar seu mundo futurista: tem uma infinidade de modelos robóticos, Nova York submersa, Mechas superavançados – não, eles não eram aliens, e já faziam parte da versão original proposta pelo Kubrick (essa história de que há "o final do Kubrick" e o "final do Spielberg" é uma injustiça que o próprio Spielberg já se encarregou de esclarecer). Não é um filme perfeito, mas está longe de ser a porcaria que pintam por aí. Nota 4/5