07/12/2012

Vientiane, uma capital interiorana

 

O clima interiorano de Vientiane começa no aeroporto com jeitão de rodoviária. A área de espera das bagagens tem uma única esteira, onde as malas deslizam por alguns metros e param logo em seguida, sem percursos sinuosos automobilísticos. O check-in é manual: preenchem seu cartão de embarque com caneta bic, pesam sua mala nessas balanças de famárcia, amarram uma etiqueta desprovida de adesivos ou códigos de barra. O quadro com os horários de embarques e desembarques não poderia ser mais analógico, e os poucos vôos do dia são substituídos como quem atualiza o placar de um jogo de várzea. 

 

Não parece, mas esta é a maior e mais populosa cidade do Laos, e também a capital do país. Sua população de 200 mil é um punhadinho de gente se comparada às capitais de vizinhos como o Camboja (2 milhões em Phnom Pehn) e a Tailândia (6,5 milhões em Bancoc). O aeroporto fica a meros quatro quilômetros do centro da cidade, e o viajante com muita disposição pra pouca grana pode até caminhar de lá para o hotel. Táxis ou tuk-tuks são opções mais lógicas e ligeiras, embora o esquema de preço tabelado te obrigue a pagar mais do que deveria. Tudo bem, você está chegando em um país novo, tudo é festa, e o valor exorbitante – que não passa de uns 12 reais – vai ser das coisas mais caras em toda a viagem. 

Chegando na pousada, a primeira diferença cultural: tem que tirar o sapato pra entrar. Não no quarto, mas no saguão da pousada, mesmo – os calçados ficam na calçada. Na China é normal ficar descalço ao entrar na casa das pessoas (aqui em casa a gente adota esse hábito e tem até chinelos de pano pras visitas) mas no Laos isso era uma constante em vários outros lugares, incluindo hotéis, atrações turísticas e até algumas lojas. A meia acabava ficando preta de qualquer forma, porque poeira que é poeira chega em qualquer lugar, mas ignorar o protocolo e entrar de sola é desrespeito grave. 

 

Na primeira andança pela cidade, a constatação: é tudo ainda mais perto do que sugeria o mapa. O miolinho da cidade, onde estão os templos mais famosos, os restaurantes listados nos guias e a maioria dos hotéis, é coisa pra se conhecer em uma tarde descompromissada. Fica tudo do lá de cá do imponente rio Mekong – na outra margem já começa a Tailândia. O Mekong é o décimo segundo rio mais extenso do mundo e faz um tour por diversos países do Sudeste Asiático, incluindo China, Mianmar e Vietnã. Banhando tantas fronteiras, vira e mexe é palco de conflitos entre marinheiros briguentos de nações distintas, mas em Vientiane o Mekong é pacífico e só testemunha crianças praticando esquibunda, turistas comprando roupas e tralhas em feirinhas noturnas e muita gente bebendo Beerlao. 

   

A Beerlao é possivelmente a única marca de cerveja do Laos, encontrada em qualquer biboca e bem agradável. A versão comum tem 5% de álcool e custa por volta de 10.000 kip (não se assuste com os zeros, isso vale uns R$ 2,50). A Gold tem sabor parecido e um rótulo curiosamente prateado. Mas elegi como minha predileta a Beerlao Dark, 6,5%, mais encorpada e saborosa. A Beerlao é vendida em países como Estados Unidos, Inglaterra, Austrália e China, mas acho complicado encontrá-la no Brasil, onde a maioria nem sabe que o Laos existe. 


E ainda dá pra improvisar pecinhas de dama tomando apenas 40 garrafas! 

Andar a esmo, experimentar a comida local e escolher um bom bar na beira do Mekong pra tomar Beerlao e ver o pôr-do-sol é basicamente o que tem pra se fazer em Vientiane, uma cidade aprazível mas sem atrativos muito especiais. Os templos budistas estão a cada esquina, mas a menos que você seja um templomaníaco ou não vá sair de Vientiane, é melhor deixar pra conhecê-los em uma cidade mais charmosa como Luang Prabang. Há também uma espécie de Arco do Triunfo chamado Patuxai, com quatro arcos ao invés de um e uma plaquinha que denigre a própria atração: "De perto, é ainda menos impressionante, como um monstro de concreto". Quanta franqueza. 

 

No último dia, já na traseira de um tuk-tuk, aproveitei para registrar em vídeo todo o trajeto do hotel, no centro da cidade, até o aeroporto. Com vocês, Vientiane em 33 segundos: 




Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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