15/02/2013

Comendo com a mão

Talvez a revelação mais surpreendente sobre a culinária do Laos seja que, ao contrário de praticamente todos os países ao seu redor, eles não usam pauzinhos pra comer. Onipresentes na China, no Japão, nas Coréias, no Vietnã, na Tailândia e onde mais você pensar, no Laos eles são encontrados apenas em restaurantes de comida chinesa ou japonesa. Garfos e facas são bem mais comuns, e foram oferecidos em quase todos os restaurantes em que comemos. Mas a maioria dos pratos tipicamente laocianos não exigem do comensal nenhum utensílio específico para serem ingeridos: come-se com a mão e ponto final.

O arroz é um item básico e a forma como é preparado é fundamental para que a comilança manual funcione. Nada do arroz soltinho e bem temperado como fazemos no Brasil: o arroz do Laos é grudento e seco, ideal para você pegar com uma pinça formada pelo polegar, o indicador e o dedo médio, amassar em montinhos que caibam na sua boca, mergulhar em molhinhos dos mais variados tipos e mandar pra dentro. Os molhos mais populares incluem um de tomate, que gostei bastante, e um de berinjela, que definitivamente não curti – mas é que nunca fui fã do legume; os pró-berinjelistas certamente vão apreciar.

 

 

Quem não mantém bom relacionamento com a pimenta deve ter certo cuidado no Laos, porque muitos pratos aparentemente inofensivos vêm carregado no ardor. Um dos mais famosos é a salada de mamão verde, que mistura fatias finas de papaia com uma boa dose de red hot chili peppers. A picância também está presente em muitos dos suculentos peixes servidos nos restaurantes à beira do Mekong, mas se meu estômago reclamou depois, meu paladar apreciou bastante. 

 

Na categoria "aperitivos insólitos para a mesa de bar", entram as algas secas com gergelim e a pele de búfalo seca. As algas desceram bem com goladas de Beerlao Dark, mas a pele borrachuda não me apeteceu: a carne de búfalo, basicamente uma carne de boi com gosto mais forte, saiu-se bem melhor. Mas bom mesmo foram o peixe com ervas embrulhado em folha de bananeira e o capim-limão recheado com frango, ambos degustados no restaurante Tamarind, em Luang Prabang – que também servia, como parte da mesma refeição, a abóbora com gengibre, a lingüiça de Luang Prabang e uma sobremesa de arroz grudento com leite de coco e molho de tamarindo. O Tamarind também oferece cursos rápidos sobre como preparar as iguarias laocianas. Se estiver com tempo em Luang Prabang, dê uma olhada. 

 
Frango no capim-limão: excelente. 

 
Alga seca com gergelim: até que passa. 

 
Pele de búfalo: melhor evitar. 

A influência francesa na Indochina pode ser sentida nas várias barraquinhas que vendem sanduíches em baguetes, e são sempre uma boa opção para o café da manhã. Também são bem comuns os estandes de vitaminas feitas na hora, com ingredientes tão diversos quanto maçã, melancia, limão, abacate, fruta-dragão e... biscoito recheado! 

 

E se a ubíqua Beerlao, já descrita em um post anterior, não for forte o bastante para seu paladar – ou seu fígado –, experimente o Lao Lao, uma aguardante local feita de arroz grudento e que tem pelo menos 50% de álcool. Mas é melhor não marcar nenhuma trilha ou passeio de elefante para o dia seguinte. 

  
Eu não podia deixar de experimentar sabores bizarros e altamente industrializados de refrigerantes famosos. Esta Fanta Laranja-Banana-Abacaxi tem gosto de pasta de dente, enquanto a Fanta Blueberry, claro, causa um efeito colateral que não podia ser outro: 



No próximo post: Sabaidee, Luang Prabang! 


Publicado originalmente no Boca de Gafanhoto

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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