31/12/2020

Todos os filmes que eu vi em 2020



Não vi um número suficiente de filmes lançados em 2020 pra poder fazer sequer um top 5 decente. Talvez eu tire o atraso durante 2021, depois de conferir as recomendações de quem assiste a muito mais filme do que eu, tipo os meus chapas do Cinema de Buteco

Minha última sessão de cinema foi em fevereiro, pra ver 1917 (tecnicamente impressionante, e só). De resto, os destaques doismilevínticos foram vistos no conforto da quarentena, como O Homem-Invisível (terrorzão de primeira sobre relacionamentos abusivos) e Soul (meu Pixar favorito desde Divertida Mente). Não me atrevi a encarar cinema no meio de uma pandemia para conferir Tenet ou coisas do tipo, mas foi-se o tempo em que me sentia culpado por não ter visto tal e tal lançamento só porque era o maior hype de todos os tempos da última semana.

De qualquer forma, aproveitando minha vontade de reativar o Biselho depois de tão comprido hiato, resolvi publicar aqui a lista completa dos 60 filmes que vi este ano. É um número pífio para qualquer cinéfilo hardcore, mas se eu comparar com meus números ainda mais pífios de 2019 (30 filmes) e 2018 (24), sessentinha tá bão demais.

A classificação por estrelas é puramente pessoal e pode variar de acordo com o humor do dia, mas como regra geral:

⭑⭑⭑⭑⭑ é para filmaços impecáveis e eternos favoritos, como Amadeus
⭑⭑⭑⭑ é para aqueles que eu gostei pra caramba e recomendo sem pudor, como Três Anúncios para um Crime
⭑⭑⭑ é para os filmes medianos: tanto os que poderiam ser melhores e são apenas "meh", como 1917, quanto os que tinham tudo pra ser uma bela porcaria e até que não saem tão mal – como Pulgasari, o Godzilla norte-coreano (que, embora mais tosco, diverte mais que o Godzilla americano de 2014)
⭑⭑ é para filmes francamente ruins, incluindo boas ideias desperdiçadas em roteiros que atiram pra todo lado (estou olhando pra você, Pequena Grande Vida)
⭑ é reservado para aqueles onde absolutamente nada se salva (grazadeus, escapei de algum assim este ano, porque ainda bem que existe a internet pra alertar a gente antes)

Ficção (live-action)


  • O Homem Invisível (2020, dir. Leigh Whannell) ⭑⭑⭑⭑
  • Borat: Fita de Cinema Seguinte (2020, dir. Jason Woliner) ⭑⭑⭑⭑
  • Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020, dir. Charlie Kaufman) ⭑⭑⭑
  • A Vida Invisível (2019, dir. Karim Aïnouz) ⭑⭑⭑⭑ - visto no cinema
  • História de um Casamento (2019, dir. Noah Baumbach) ⭑⭑⭑⭑
  • Jojo Rabbit (2019, dir. Taika Waititi) ⭑⭑⭑⭑ - visto no cinema
  • Dois Papas (2019, dir. Fernando Meirelles) ⭑⭑⭑⭑
  • 1917 (2019, dir. Sam Mendes) ⭑⭑⭑ - visto no cinema
  • Segredos Oficiais (2019, dir. Gavin Hood) ⭑⭑⭑
  • A Lavanderia (2019, dir. Steven Soderbergh) ⭑⭑⭑
  • Dumbo (2019, dir. Tim Burton) ⭑⭑
  • Nasce Uma Estrela (2018, dir. Bradley Cooper) ⭑⭑⭑⭑
  • Oito Mulheres e Um Segredo (2018, dir. Gary Ross) ⭑⭑⭑
  • O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (2018, dir. Lasse Hallström & Joe Johnston) ⭑⭑⭑
  • Green Book – O Guia (2018, dir. Peter Farrelly) ⭑⭑⭑
  • Três Anúncios para um Crime (2017, dir. Martin McDonagh) ⭑⭑⭑⭑
  • Eu, Tonya (2017, dir. Craig Gillespie) ⭑⭑⭑⭑
  • Mr. Roosevelt (2017, dir. Noël Wells) ⭑⭑⭑⭑
  • Assassinato no Expresso do Oriente (2017, dir. Kenneth Branagh) ⭑⭑⭑
  • Um Laço de Amor (2017, dir. Marc Webb) ⭑⭑⭑
  • Pequena Grande Vida (2017, dir. Alexander Payne) ⭑⭑
  • A Última Ressaca do Ano (2016, dir. Josh Gordon & Will Speck) ⭑⭑⭑
  • Garota Exemplar (2014, dir. David Fincher) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Para Sempre Alice (2014, dir. Richard Glatzer & Wash Westmoreland) ⭑⭑⭑
  • O Lobo de Wall Street (2013, dir. Martin Scorsese) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Expresso do Amanhã (2013, dir. Bong Joon-ho) ⭑⭑⭑⭑
  • Jobs (2013, dir. Joshua Michael Stern) ⭑⭑⭑
  • Bem-vindo aos 40 (2012, dir. Judd Apatow) ⭑⭑⭑
  • O Garoto de Liverpool (2009, dir. Sam Taylor-Johnson) ⭑⭑⭑ - revisão
  • Zodíaco (2007, dir. David Fincher) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Borat (2006, dir. Larry Charles) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Pequena Miss Sunshine (2006, dir. Jonathan Dayton & Valerie Faris) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • O Virgem de 40 Anos (2005, dir. Judd Apatow) ⭑⭑⭑ - revisão
  • Todo Mundo Quase Morto (2004, dir. Edgar Wright) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Adeus, Lênin! (2003, dir. Wolfgang Becker) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Frida (2002, dir. Julie Taymor) ⭑⭑⭑
  • O Poderoso Chefão – Parte III (1990, dir. Francis Ford Coppola) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Cinema Paradiso (1988, dir. Giuseppe Tornatore) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • Amadeus (1984, dir. Milos Forman) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • O Poderoso Chefão – Parte II (1974, dir. Francis Ford Coppola) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • O Poderoso Chefão (1972, dir. Francis Ford Coppola) ⭑⭑⭑⭑⭑ - revisão

Animação



  • Soul (2020, dir. Pete Docter) ⭑⭑⭑⭑
  • Toy Story 4 (2019, dir. Josh Cooley) ⭑⭑⭑
  • Os Incríveis 2 (2018, dir. Brad Bird) ⭑⭑⭑⭑
  • Festa da Salsicha (2016, dir. Greg Tiernan & Conrad Vernon) ⭑⭑⭑ - revisão
  • Up – Altas Aventuras (2009, dir. Pete Docter) ⭑⭑⭑⭑ - revisão
  • WALL-E (2008, dir. Andrew Stanton) ⭑⭑⭑⭑ - revisão

Documentários




  • O Dilema das Redes (2020, dir. Jeff Orlowski) ⭑⭑⭑
  • Becoming (2020, dir. Nadia Hallgren) ⭑⭑⭑
  • Democracia em Vertigem (2019, dir. Petra Costa) ⭑⭑⭑⭑

Categoria especial: Pelo Mundo

Filmes que vi como parte da pesquisa para meu projeto sobre o cinema pelo mundo, que vai virar livro em 2021 depois de nascer como uma série de colunas no Cinema de Buteco.



🇵🇬 Papua-Nova Guiné

  • Aliko & Ambai (2017, dir. Mark Eby & Diane Anton) ⭑⭑⭑
  • Cannibal Tours (1988, documentário, dir. Dennis O'Rourke) ⭑⭑⭑⭑
  • Trobriand Cricket (1975, documentário, dir. Gary Kildea & Jerry Leach) ⭑⭑⭑

🇦🇶 Antártida

  • Antarctica: A Year on Ice (2013, documentário, dir. Anthony Powell) ⭑⭑⭑⭑
  • South of Sanity (2012, dir. Matt Edwards & Kirk Watson) ⭑⭑⭑
  • Encontros no Fim do Mundo (2007, documentário, dir. Werner Herzog) ⭑⭑⭑

🇰🇵 Coreia do Norte

  • Pulgasari (1985, dir. Shin Sang-ok) ⭑⭑⭑

🇱🇦 Laos

  • Chanthaly (2012, dir. Mattie Do) ⭑⭑⭑

🇸🇦 Arábia Saudita

  • O Sonho de Wadjda (2012, dir. Haifaa Al-Mansour) ⭑⭑⭑⭑ - revisão

🇲🇹 Malta

  • Simshar (2014, dir. Rebecca Cremona) ⭑⭑⭑

E você aí, tem uma lista parecida? Quer recomendar algum filme de 2020 e me chamar de boco-moco por não ter visto? Quer discordar veementemente das estrelinhas que eu distribuí a meu bel-prazer? Fica à vontade aí nos comentários, que estão aí pra isso.

26/12/2020

Olá, amigão


Você tem 19 anos e cria um blog. 

Ter um blog, nessa época, é a coqueluche do momento. Inclusive, é uma época em que expressões como "coqueluche do momento" ainda não caíram em desuso completo. Ou talvez seja só você, que se agarra a gírias antigas da mesma forma como ainda não largou mão do Nokia 5120 tijolão que carrega no bolso. Todo mundo já migrou para flipfones menos você. E um monte de gente já criou o próprio blog menos você. Chegou a hora, você diz.

É um tempo em que o Google já matou o Cadê, mas as pessoas ainda digitam URLs na barra do navegador. Esse navegador, na maioria dos casos, é o Internet Explorer. O pessoal mais moderno usa Firefox. Você sabe de cor endereços complicados como dábliu dábliu dábliu ponto geocities ponto com barra área cinquenta e um não sei das quantas e números mil. Você organiza meticulosamente a sua pasta de Favoritos, para nunca mais perder de vista os endereços compridos que não conseguiu memorizar. Anos depois, metade já virou página de erro 404. A internet é assim. Nada dura para sempre, as coisas mudam o tempo todo e cada ano vale por sete. 

Criar um blog é tipo adotar um cachorro. No início, o bicho é frágil e requer constante atenção. Você dá a ele uma casinha que não é lá grandes coisas. "Blogspot ponto com" não tem o mesmo status de um "ponto com ponto br", mas pelo menos é grátis. Pra um estudante de 19 anos, pagar hospedagem de um blog está fora de cogitação. O nome é mais importante, e você escolhe "Biselho". Não é bonito, ninguém sabe o que significa, mas é diferente. É único.

Você alimenta o bicho diariamente. Tem tempo pra isso: a faculdade só ocupa as suas manhãs, e você pode dedicar o resto do dia a tocar violão, assistir filme em VHS e escrever textos novos para o recém-nascido Biselho. Você fica feliz quando as pessoas deixam comentários elogiando. Dá uma satisfação ver esse bicho de nome estranho fazer outras pessoas rirem, mesmo que sejam quase todos seus amigos. Às vezes aparece alguém que você nunca viu na vida e deixa ali um comentário positivo. Não perguntam se o seu blog tem telefone, mas é como se fosse.

Mas a vida passa. E de repente você não tem mais metade do dia livre para dedicar ao pequeno Biselho, que já acumula centenas de posts e nem é mais tão pequeno assim. Agora tem estágio, depois arranja um emprego, a vida social fica mais agitada e os passatempos viram outros. De vez em quando alguém pergunta: e o Biselho?, e te bate aquele sentimento de culpa. Você imagina o bicho magricela, morrendo de solidão numa casinha às moscas. Você volta pra casa, liga o computador, faz um carinho no bicho, escreve uns posts. Ele abre um sorriso e você também.

Até que um dia, do nada, você se muda para o outro lado do mundo. E o seu Biselho, que em idade bloguina já é adulto e emancipado, fica de lado de vez. Você passa a cuidar de um novo bicho, um pequinês que atende pelo nome ainda mais esdrúxulo de "Boca de Gafanhoto". O ciclo, no entanto, é o mesmo: no início, cuidados diários; depois, a vida fica mais atarefada e os textos se tornam cada vez menos frequentes. De vez em quando você dá uma olhada no Biselho e até o alimenta com um textinho ou outro, coisa pouca, só pra ele não ficar faminto. Só pra você não se sentir tão culpado.

Você vai embora da China e, mostrando não ter coração, abandona o pequinês para sempre. Mas tampouco volta a cuidar do Biselho, seu velho amigo, que a essa altura é um blog de meia-idade a quem só restam as memórias antigas. Sua atenção se volta a bichos mais novos, mais atraentes. Vídeos no YouTube. Podcasts. Parece até aquela outra época, anos atrás, em que você esqueceu o jovem Biselho por alguns meses pra cuidar de um irmão mais novo que atendia pelo nome de "fotolog". Esse morreu cedo, tadinho.

Um dia, com o Biselho já com o pé na terceira idade, você se sente nostálgico e resolve lhe dar um pouco de atenção. Começa com um trato no visual, umas fontes novas, um layout menos antiquado. Passa a alimentar o bicho com textos quinzenais – não é muito, mas nessa idade ele já nem precisa de tanto. Ter um blog, a essa altura, é um troço meio ultrapassado. As pessoas agora escrevem textões no Facebook, que geram brigas familiares e depois desaparecem no buraco negro da timeline. Empresas têm blogs, mas esses abrigam textos genéricos, robóticos, em que frases repetitivas disputam a sua atenção com anúncios animados e pop-ups que te atacam de repente. Das pessoas que ainda têm blog, quase ninguém usa Blogspot mais. 

Mas você não dá bola para os WordPresses e Mediums de hoje em dia, deixa o Biselho no lar onde nasceu e vai cuidando dele aos trancos e barrancos. Até que a vida entra no meio novamente – e, como já aconteceu dezenas de vezes nesses anos todos, o bicho volta a ficar largado. O último texto é sobre os seus discos favoritos de dois anos atrás. Você percebe que o blog passou 2019 sozinho e você nem deu bola. E que ele ainda atravessou um ano de pandemia e quarentena na mais completa solidão, só recebendo visitas ocasionais de desconhecidos que pintavam por acaso. Um bicho abandonado numa casinha velha, com uma aparência anacrônica, o mesmo nome estranho na coleira e uma memória de elefante, guardando detalhes de coisas que você escreveu quinze, dezesseis anos atrás.

E aí num fim de ano cinzento, você resolve digitar aquele velho endereço na barra do navegador, aperta o Enter e ele te encara com um sorriso de canto de boca e uma cara de quem diz: "Eu sabia que você ia aparecer qualquer dia desses". E você responde: "Olá, amigão", e promete que não vai ficar mais sem dar um oi por tanto tempo assim. 

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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