06/03/2007

O ladrãozinho da Fontana di Trevi



Cheguei na Fontana di Trevi à noite, vagando a esmo por Roma, sem saber direito o que esperar. A capital européia do trânsito maluco tem fontes e estátuas por todo canto, e acho que eu imaginava da tal Fontana mais um mix água-com-estátua, com o adendo de ser o tradicional local onde turistas jogam suas moedinhas para pedir um desejo e garantir sua volta a Roma no futuro.

Nada, o troço é enorme (26 metros de altura por 20 de largura), cheio de esculturas diferentes de Netuno e seus asseclas, especialmente bonita com a iluminação noturna e, claro, repleta de turistas a qualquer hora. Com o excesso de turistas, proliferam-se também os inumeráveis vendedores de bugigangas. Por algum motivo que me foge à compreensão, os vendedores ao redor da Fontana têm uma peculiar predileção pelas pedras que zumbem: duas pedrinhas que eles jogam pra cima e que produzem um irritativo bzzzzz ao se encostarem. E não vi ninguém comprar aquilo, todo mundo recusando, fazendo aquela cara de pelamordedeus, pra quê eu vou querer esse troço chato? Mas se tem oferta, deve haver demanda. Senão algumas senhoritas no Red Light District, em Amsterdam, que parecem filhas de um orc com a Princesa Fiona versão ogra, não continuariam lá, ganhando sua graninha diária.





Entre um gelato e outro à beira da fonte, também joguei minha moedinha, um krona que tinha sobrado da minha ida à Suécia. E funcionou, tanto pro desejo quanto pra garantir meu retorno a Rome Sweet Rome: continuei sem pegar catapora até o final da viagem e, no domingo seguinte, após alguns dias rodando entre Veneza e Florença, lá estava eu de volta a Roma, já que de lá que sairia meu avião de volta pro Brasil. Conclusão: gastei meu retorno garantido na mesma semana... Devia era ter jogado outro krona, que vale coisa de 10 eurocents, uma prova de que a fonte dos desejos não liga muito para o valor monetário das rodelas de metal ali jogadas.

Mas tem gente que liga. Eu estava mesmo pensando: será que ninguém vem aqui de madrugada, na surdina como Anita Ekberg em La Dolce Vita, e cata essa dinheirama toda?

A resposta veio na figura de um sujeito de jaqueta de couro e boné, andando silenciosamente com as mãos nos bolsos enquanto olhava para as águas. Calmamente ele pára, pega uma haste retrátil, estica e começa a passar no fundo da fonte. Meu ingênuo pensamento inicial: será que tá medindo a profundidade? Ele tira a haste lá de dentro, dobra de novo e coloca no bolso. Anda mais uns passos e repete o procedimento. Só na terceira vez fui reparar que ele passava a mão na ponta da haste antes de guardá-la. Sim, havia um ímã na ponta e a cada vez que o safado ia lá "medir a profundidade", as moedinhas colavam no artefato ao melhor estilo Bandidos Grudentos. E na calada da noite? Coisa nenhuma. Debaixo do sol rachando, com todo mundo lá, fazendo seus pedidos e tirando fotos ao seu redor.

Ignorando todos os riscos de ser descoberto pelo meliante, fingi que fotograva os turistas e consegui registrar algumas imagens de cinegrafista amador. Observe a malícia, o sangue frio do gatuno, e aprenda a lição que tive na Fontana di Trevi: se a esmola não vai até você...

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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