30/05/2004

A melhor coisa para se fazer numa terça-feira à tarde



Lembrei desse caso há uns dias, ao passar perto da Lagoa da Pampulha. Foi no começo do terceiro ano, em fevereiro de 2002, e nós, estudantes nada atarefados, inventamos de passar uma tarde no zoológico. Saímos numa terça-feira (a entrada era de graça nesse dia) depois da aula, e conseguimos chegar no famoso Zoológico de Belo Horizonte depois de pegar dois ônibus e chegar lá morrendo de fome. Lista de presença: Gustavo, Sara, Aline, Thaís, Paty e eu (pergunte a todos esses sobre esse dia que vão começar a rir).

A visita em si não teve nada de especial: vimos os macacos, as aves, as cobras, o gorilão, tudo aquilo que a gente vê quando vai no zoológico pela excursão da escola, lá pela primeira ou segunda série.

O problema foi na hora de ir embora. Meu pai, que trabalha numa empresa na Pampulha, se ofereceu pra levar a gente pra casa. Nós saímos do zoológico umas 4h30, e, como ele só saía do trabalho às 6h, teríamos que ir até lá ou ficar esperando uma hora e meia sem fazer nada, já que o zoológico fechava cedo.

Até hoje não sei se há um caminho mais curto do zoo para a Avenida Portugal, mas naquele dia nós, com certeza, pegamos o mais longo. Lá fomos, nós seis, contornar a lagoa. Andamos uns 40 minutos, sem chegar a lugar nenhum. Cansado de andar, o Gustavo resolve tomar uma atitude brilhante: atravessar a lagoa, num ponto que supostamente dava pra passar. Ficamos olhando de longe.



Mal ele pisa lá dentro, dá uns três passos e grita: “Vou pegar xistose!!”, e volta, com os dois tênis na mão, depois de ter “atolado” na Lagoa da Pampulha.

Seguimos andando, sem esperanças de chegar na Avenida Portugal a pé. Segunda idéia genial: pegar carona com o primeiro maluco que aceitasse dar carona para seis adolescentes. Depois de várias tentativas frustradas, um cara com um carro minúsculo parou pra gente. Ironicamente, foi nessa hora que minha mãe me ligou no celular, perguntando onde eu estava. “Tô entrando num carro aqui, mãe”, disse eu, e imagino a cara que ela deve ter feito. Minha sorte foi ficar no banco do passageiro, enquanto os outros cinco se espremiam, sei lá como, no banco de trás.

O motorista acabou nos deixando num posto de gasolina na própria Portugal, mas num ponto razoavelmente distante da empresa. Lá estávamos nós a pé novamente, e isso já devia ser umas 5h40 ou mais. O detalhe é que eu nunca tinha ido na empresa a pé, e não fazia a mínima idéia de como chegar lá, já que a Portugal faz curvas e mais curvas. Um bom tempo depois, através de conversas (mais de uma) com meu pai pelo celular, passamos o Labareda, o Via Brasil, o restaurante Três Meninas (um dos vários com esse nome na mesma região, o que confundia ainda mais nosso senso de direção) e, finalmente, conseguimos chegar. Às 6h da tarde.

Felizmente, meu pai ofereceu umas coca-colas ao meus cinco colegas, mortos de fome, sede e cansaço como eu. Foi o que salvou minha vida das mãos deles quando meu pai, mais de 6h da tarde e depois do fim do expediente, declarou:

- Era só ter me ligado que eu buscava vocês!

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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