11/03/2005

Ô cride, fala pra mãe...



Senhora do Destino, segundo a Veja a novela mais assistida no Brasil em todos os tempos, acaba hoje. Olha, não sou um anti-novelístico ferrenho. Assisti a praticamente todos os capítulos de A Próxima Vítima, quando reprisaram em 2000. Já vi muita Malhação na vida, nos tempos em que Dado não era o Dolabella, mas um lutador de jiu-jitsu, e o Mocotó ainda não era uma bola que apresentava o Vídeo-Show. Sei dizer quem explodiu o shopping e ainda consigo cantar boa parte do clássico tema de Rei do Gado ("Sou desse chão onde o rei é peão...").

Mas essa Senhora do Destino... Deus do céu. Ô coisa horrorosa. Nenhum personagem marcante, nenhum mistério a ser resolvido, nenhuma angústia reservada para o último e derradeiro capítulo. Ontem à noite tava passando o funeral de um dos vilões. Todo mundo de roupa preta e guardas-chuvas pretos, debaixo de uma chuva torrencial, e uma música tétrica ao fundo. Enterro com chuva é o clichê dos clichês. E sinceramente, é uma vergonha que seja essa a novela mais vista de todos os tempos, se é que a estatística está correta, mas não duvido nada. O povo não quer ver personagens com conflitos psicológicos ou dramas profundos. Quer ver é o maniqueísmo de sempre, bem contra o mal, preto no branco, e ponto. E o engraçado é que semana que vem começa a próxima novela e Nazaré, a vilã-mor do folhetim, será apenas mais um nome adormecido na cabeça das pessoas. Como Maria Clara Diniz. Ou seja: quem?

Um dia, vou ser contratado pela Globo e eles vão me dar total liberdade pra escolher o elenco que quiser. Aí vocês verão o doutor Albieri clonando Sassá Mutema, a Rainha da Sucata casando com o Rei do Gado e dando origem a uma linhagem nobre, o alquimista Raimundo Flamel ludibriando Tonho da Lua, o vampiro Vlad metendo medo nos Irmãos Coragem, Tieta do Agreste discutindo com Filomena Ferreto, Juma Marruá duelando com Ana Raio pelo amor de Zé Trovão, quando não mais que de repente aparecerá um sujeito meio retardado que anunciará, triunfante: "Jamanta não morreu! Jamanta não morreu!". Podem esperar.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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