30/03/2007

Amsterdamned

Uma desova de fotos da capital holandesa.



O maior desafio em Amsterdam é tirar foto de paisagem sem que apareça uma bicicleta.



Fachada de uma das lojas do Bulldog, rede de coffee-shops que não vende só cafés. Como se fosse um "BeckDonald's". Lá dentro também funciona uma boate, onde presenciei uma das cenas mais avulsas da viagem. Estava eu com uma turma de sicilianos ouvindo aquelas músicas que tocam em qualquer lugar do mundo, quando começa um tecladinho familiar. Nisso entra a vocalista: "Choooooorando se foi... quem um dia só me fez chorar...".



Uma esmola pelo amor de Deus! Uma esmola, meu, por caridade!



Enquanto as meretrizes escondem-se atrás das vitrines, as estátuas se pegam no meio da rua.



Show com as Electroputas. Provavelmente em versão plugged, unplugged, plugged, unplugged...



Simpático fungo recepcionando os clientes da loja "Magic Mushrooms".



Vai um “cafezinho”?



Tia Marylin se diverte com o vento.



Isso é que é motivo de orgulho: “first sexshop in the Red Light District!”



Quem não quer só perdição pode passar uma tarde cultural nos museus da cidade.

29/03/2007

25/03/2007

Turismo de botas batidas



"O cara ainda tá limpando seu quarto, volta daqui a umas três horas", disse o recepcionista do albergue. Resolvi aproveitar o tempo pra dar um pulinho no cemitério Père-Lachaise, um dos pontos turísticos mórbidos da capital francesa. Uma espécie de revista People de tumbas. Ou um onde-está-Wally. Porque afinal de contas o lugar é um cemitério, e obviamente não há uma ala de celebridades com todo mundo reunido, esperando pelos turistas. Você que se esgueire no meio dos mortos pra achar os restos do seu ídolo.

Eles vendem na porta um mapinha com todas as lápides famosas, mas como custava 2 euros e logo na entrada havia uma placa grande mostrando o mesmo mapa, optei por uma solução mais econômica: fotografei a placa em alta resolução e toda hora dava uma olhada na telinha da câmera digital pra tentar descobrir onde estava. Lógico que me perdi inúmeras vezes e não consegui encontrar ícones como Balzac, Chopin, La Fontaine e Molière. Mas olha quem eu vi por lá:



James Douglas Morrison, 1943-1971. O notório vocalista d'Os Portas jaz tranqüilo num cantinho escondido do cemitério, o que não impede que todo dia apareçam novas flores de presente pro cara. Antigamente tinha um busto do Jim sobre a lápide, mas algum pig spirit encarou como souvenir e aí tchau homenagem.



Sarah Bernhardt, 1844-1923. A atriz francesa que rodou os teatros desse mundão de meu Deus e até apareceu no Xangô de Baker Street hoje mora no Père-Lachaise e recebe flores diariamente de gente que nunca a viu atuar. E se ela era uma porcaria e ninguém sabe?



Allan Kardec, 1804-1869. O codificador da doutrina espírita (ou "fondateur de la philosophie spirite", como diz a inscrição) tem uma tumba ajeitada, com um busto de bronze e uma grande estrutura de pedra erguida como os antigos dólmens druídicos. Na pedra lá do alto, a frase: "Naitre, Mourir, Renaitre Encore et Procresser Sans Cesse. Telle est La Loi" ("Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a lei").



Oscar Wilde, 1854-1900, não ganha tantas flores como seus companheiros de necrópole, mas em beijinhos ninguém supera o o irlandês. Beijinhos e recados pichados. Alguns que consegui identificar:

"L'importanza di essere, Oscar!"
"Gracias"
"Whatever u want!"
"Je t'aime"
"Dennis & Flavia was here from Brazil"
"So resistere a tuto tranne che alle tentazioni!"
"Ti amo"
"Desde Barcelona... 106 años después... ¡¡te queremos!! Adrian, Noemi, Javi"

Mais tumbas você encontra no site oficial do cemitério, onde é possível fazer uma visita virtual e dar uma olhada na morada eterna de um monte de gente. Quando eu morrer em Barcelona aos 99 anos tentando subir a escadaria da recém-inaugurada Sagrada Família (ela só fica pronta em 2084, é sério!), podem me levar pra Paris e me jogar num buraco qualquer no Père-Lachaise. Quero só ver como vão me definir no mapinha da entrada. "Vagabond"? "Vieillard inutile"?

Aipim & companhia

Outro dia alguém entrou neste blog procurando no Google por "sugestões de logomarcas para bolinhos de aipim", e certamente deu com os burros n'água. Como eu sei o quão desapontador é buscar alguma coisa importante na internet e não lograr sucesso, tentarei me redimir com um breve top 10 sugestões de logomarcas para bolinhos de aipim, destinadas aos mais variados públicos-alvo.

Para bolinhos feitos em casa, uma logo manuscrita e artesanal:


Para bolinhos sofisticados, um design neo-clássico e requintado:


Para atingir a rapaziada esperta, uma logo radical:


Mas se a intenção é conquistar a meninada pequena, que tal um visual elétrico e espevitado?


Para um público urbano e cosmopolita, uma estética que evoca a contemporânea sociedade de consumo:


Já um público mais tradicional pede um ar medieval:


Este aqui, além de tudo, atua no subconsciente e ajuda a aumentar a venda de refrigerantes:


Um toque oriental sempre cai bem no miscigenado mundo de hoje em dia:


Se você faz os melhores bolinhos do oeste, uma marca à altura para atrair os forasteiros:


E este é pra quem se sente sozinho, sem direção, como um completo desconhecido, uma pedra rolante:


Espero que tenha ajudado.

17/03/2007

13/03/2007

Fabuleux destins

Alguns cenários cinematográficos nas esquinas parisienses.



"Cafe des 2 moulins", onde Amélie Poulain trabalhava de garçonete antes da fama mundial. Fica no bairro de Montmartre, entre o Moulin Rouge e o Moulin de la Galette, daí o "2 moulins" ("dois moinhos") do nome. O lugar mudou de dono há pouco tempo e o novo proprietáro, sem o menor tino de marketing, mudou completamente o interior do café, posição do balcão, das cadeiras, tudo. E botou um cartazão com a Amélie lá dentro, rindo à toa, coisa que obviamente não tinha no filme, senão as outras garçonetes ficariam com cíumes.



"Shakespeare and Company", a livraria onde o protagonista de Antes do Pôr-do-Sol lança seu livro logo no comecim do filme. Eu tinha visto em algum lugar que ela ficava ali perto de Notre Dame - o que não ajuda muito, a região é enorme. Fui margeando a catedral até achar. O interior logo me pareceu familiar, mas resolvi confirmar com a atendente.

- É aqui onde gravaram aquele filme do...
- Yeah, yeah, Before Sunset - (ela deve estar com saco cheio de todo mundo perguntar isso)

A equipe de filmagens merece palmas por conseguir filmar lá dentro, o lugar é minúsculo e com livro empilhado até no teto. Ainda tinha uma plaquinha anunciando uma sessão de autógrafos com um escritor, sob o título "Meet the author", exatamente como faz o personagem de Ethan Hawke na película.



- Você vai ter que tirar uma foto na porta do Moulin Rouge pra mim!! - pediu minha avó, fã dos grandes clássicos do cinema. Taí, vovó. Fico devendo as fotos do interior porque a apresentação de can-can mais barata custava 140 euros. Fica pra próxima, beleza?



O Moulin Rouge à luz do dia não tem o mesmo charme.



Amsterdam também tem seu Moulin Rouge, que exibe suas moçoilas numa das ruas principais do Red Light District. Aqui as Nicoles Kidmans certamente fazem mais do que dançar can-can. Será que vovó aprovaria?

10/03/2007

E o prêmio de pior refrigerante do mundo vai paraaaaaaaaaa...



Fanta Chinotto.

Fui fazer um lanchinho em Roma e me deparei com a inusitada garrafa olhando pra mim na geladeira. Era uma Fanta preta. 500ml de Fanta preta. Algo me dizia que aquilo não tinha nada a ver com coca-cola. Talvez café. O nome não ajudava: chinotto. Comprei. Experimentar é preciso, certo? O primeiro gole não forneceu pistas sobre o sabor. Jiló? Berinjela? Na segunda golada, a única certeza era o alto grau de terribilidade que a coisa gasosa era capaz atingir. Resisti por mais alguns goles e o amargo só piorava. 500ml de Fanta sabor bílis. Não consegui terminar e ainda tive que comprar uma coca-cola pra tirar o gosto.

Depois, resolvi pesquisar. Chinotto: qual o mistério por trás da palavra? Que mente maligna se esconde atrás dessa criação? O Wikipedia me esclareceu. Chinotto é uma pequena fruta cítrica, amarga, muito encontrada na Itália. É o ingrediente que dá sabor à maioria dos licores digestivos italianos, e também ao popular Campari, o que explica tudo.

Pior: descobri que existem vários e vários refrigerantes de chinotto sendo vendidos nos armazéns da Itália. Se a versão da Coca-Cola conseguiu ser assim, imaginem um "Chinotto Del Rey"?

06/03/2007

O ladrãozinho da Fontana di Trevi



Cheguei na Fontana di Trevi à noite, vagando a esmo por Roma, sem saber direito o que esperar. A capital européia do trânsito maluco tem fontes e estátuas por todo canto, e acho que eu imaginava da tal Fontana mais um mix água-com-estátua, com o adendo de ser o tradicional local onde turistas jogam suas moedinhas para pedir um desejo e garantir sua volta a Roma no futuro.

Nada, o troço é enorme (26 metros de altura por 20 de largura), cheio de esculturas diferentes de Netuno e seus asseclas, especialmente bonita com a iluminação noturna e, claro, repleta de turistas a qualquer hora. Com o excesso de turistas, proliferam-se também os inumeráveis vendedores de bugigangas. Por algum motivo que me foge à compreensão, os vendedores ao redor da Fontana têm uma peculiar predileção pelas pedras que zumbem: duas pedrinhas que eles jogam pra cima e que produzem um irritativo bzzzzz ao se encostarem. E não vi ninguém comprar aquilo, todo mundo recusando, fazendo aquela cara de pelamordedeus, pra quê eu vou querer esse troço chato? Mas se tem oferta, deve haver demanda. Senão algumas senhoritas no Red Light District, em Amsterdam, que parecem filhas de um orc com a Princesa Fiona versão ogra, não continuariam lá, ganhando sua graninha diária.





Entre um gelato e outro à beira da fonte, também joguei minha moedinha, um krona que tinha sobrado da minha ida à Suécia. E funcionou, tanto pro desejo quanto pra garantir meu retorno a Rome Sweet Rome: continuei sem pegar catapora até o final da viagem e, no domingo seguinte, após alguns dias rodando entre Veneza e Florença, lá estava eu de volta a Roma, já que de lá que sairia meu avião de volta pro Brasil. Conclusão: gastei meu retorno garantido na mesma semana... Devia era ter jogado outro krona, que vale coisa de 10 eurocents, uma prova de que a fonte dos desejos não liga muito para o valor monetário das rodelas de metal ali jogadas.

Mas tem gente que liga. Eu estava mesmo pensando: será que ninguém vem aqui de madrugada, na surdina como Anita Ekberg em La Dolce Vita, e cata essa dinheirama toda?

A resposta veio na figura de um sujeito de jaqueta de couro e boné, andando silenciosamente com as mãos nos bolsos enquanto olhava para as águas. Calmamente ele pára, pega uma haste retrátil, estica e começa a passar no fundo da fonte. Meu ingênuo pensamento inicial: será que tá medindo a profundidade? Ele tira a haste lá de dentro, dobra de novo e coloca no bolso. Anda mais uns passos e repete o procedimento. Só na terceira vez fui reparar que ele passava a mão na ponta da haste antes de guardá-la. Sim, havia um ímã na ponta e a cada vez que o safado ia lá "medir a profundidade", as moedinhas colavam no artefato ao melhor estilo Bandidos Grudentos. E na calada da noite? Coisa nenhuma. Debaixo do sol rachando, com todo mundo lá, fazendo seus pedidos e tirando fotos ao seu redor.

Ignorando todos os riscos de ser descoberto pelo meliante, fingi que fotograva os turistas e consegui registrar algumas imagens de cinegrafista amador. Observe a malícia, o sangue frio do gatuno, e aprenda a lição que tive na Fontana di Trevi: se a esmola não vai até você...

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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