Rogério Skylab - Skylab VII
Primeira audição comentada
21h46 - Começa o disco. O nome da música é: "Qual Foi o Lucro Obtido?". Um sonzinho eletrônico ao fundo e o Skylab com voz monótona, estilo professor de química orgânica numa tarde nublada de terça-feira, narrando situações ("Me casei, tive dois filhos. Me separei, pago pensão e sou fodido.") e terminando sempre com a pergunta: "Qual foi o lucro obtido?"
21h49 - A faixa 2 tem início e parece que vem música estranha por aí. Ops, tinha deixado no shuffle, e acabou pulando pra outra faixa. Voltei à 2. "Há Quanto Tempo?" é um rock'n'roll anos 50 com a letra em cima de variações sobre o título.
21h51 - Solinhos de baixo e de bateria. A letra não é um primor, mas o instrumental é divertido. Lembra Mutantes, "Posso Perder Minha Mulher, Minha Mãe, Desde Que Eu Tenha o Meu Rock'n'Roll".
21h54 - "Quanto mais saúde eu morro. Quanto mais doente eu fico vivo." Essa é a letra toda da terceira música. Isso e o Rogério se lamentando, fazendo voz de miserável.
21h57 - O nome da próxima é "Samba Isquemia Noise", mas não é exatamente um samba. Tem violão, bateria, umas guitarras distorcidas, aí vem o violão repetindo uns riffs melancólicos, e o Rogério divagando: "O samba é muito esquisito. O samba não tem pai nem mãe". Vou aproveitar que a música é grande (6 minutos e meio) pra pegar uma coca-cola.
22h02 - A música prossegue. A bateria faz uns grooves sambísticos no final. O violão continua no mesmo ritmo. Barulhos estranhos e uma batida no prato pra terminar.
22h03 - Depois de um minuto de ruídos introdutórios, "Corpo e Membro Sem Cabeça" ganha vocal e uma letra típicas da obra skylábica de humor negro: "O dedo mindinho do Lula. O olho de Luís de Camões. As pernas do Lars Grael". O melhor verso vem no meio da música: "Samba, samba, songa-monga."
22h07 - Fui dar uma olhada na playlist do Media Player. A próxima canção tem mais de 8 minutos e atende pelo título nada salesiano de "Eu Chupo Meu Pau".
22h08 - Começa a dita cuja. Violão, introdução arrastada, aliás longos trechos instrumentais têm sido uma constante nesse disco.
22h10 - Skylab entra, filosofa ("Eu me olho. Eu te olho? Não, eu me olho. O olho é seu? Não, o olho é meu. Se fosse fácil se olhar, quem diria eu?"), mais instrumental viajandão. Esse disco deve ser bacana de ouvir bêbado. Será que eu volto na cozinha e troco a coca-cola por uma cerveja?
22h13 - Enquanto isso, acabo de baixar o Skylab V, que tem o clássico "Você É Feia". Foi o show desse cd que assisti em dezembro de 2004, no ambiente inferninho da Obra. Tá na hora do cara vir aqui de novo, viu...
22h16 - Finalmente cabou. Essa agora chama-se "É Tudo Atonal". Segundo o release do disco, é uma parceria com Zé Felipe, baixista da banda carioca Zumbi do Mato. Variações sobre a frase: "Tá todo mundo pensando que tudo é tão natural".
22h18 - "Dá Um Beijo Na Boca Dele". Essa o Skylab cantou no Jô. Uma música sobre luta livre, narrada pelo treinador do lutador, segundo o próprio Skylab. "Ele vai bater, ele vai bater. Aproveita agora, aproveita agora. Dá um beijo na boca dele". O instrumental entre as estrofes é muito bom, mas a melodia dos versos não é das mais inspiradas. Nesse dia no Jô, o Skylab declarou que é fã do Victor Belfort. Bizarro. Mas o melhor foi a declaração sobre as baleias, que pode ser conferida aqui. Fiz até uma pausa na audição pra assistir de novo.
22h23 - "Chove Chuva Na Minha Cabeça" é uma valsinha interessante, bonita e instrospectiva. "O meu corpo treme, estranha beleza. Vou dançando sob a chuva na minha cabeça."
22h27 - "A Irmã da Minha Mulher". Balada meio insossa.
22h31 - Um som eletrônico introduz a canção seguinte, "Hei, Moço, Já Matou Uma Velhinha Hoje". Pouco mais de um minuto. Também não é grandes coisas. Pôxa, achei que esse disco seria mais divertido. Cadê as grandes poesias de humor negro, as narrativas envolventes e os sambinhas escatológicos? Essa agora, "Eu Vou Dizer", evoca "Carrocinha de Cachorro-Quente" nos versos: "Olha prum lado, olha pro outro".
22h36 - O que será que os fãs do Skylab no orkut têm a dizer sobre o álbum? Deixa eu pesquisar.
22h40 - A maioria dos comentários fala da competência da banda (os caras são foda mesmo) e da seriedade do disco, não tem nenhuma música que faz você cair no chão de rir e gera piadas internas nas mesas de bar como nos álbuns mais antigos. Tá mais experimental, mais poesia urbana, mas pra muitos o humor é importante sim, e eu me incluo nesse grupo. A que tô ouvindo agora, "O Primeiro Tapa é Meu", tem um pouco desse lado cômico.
22h50 - "Desperdício de Tudo" tem uma letra daquelas que lembram fórmula pronta, como os Titãs gostam muito de fazer. "Desperdício de luz, desperdício de água, desperdício de sonhos, desperdício de lágrimas". Versos semelhantes, variando só a última palavra.
22h53 - Skylab modifica bastante a voz em "A Última Valsa", coisa rara, nem parece que é ele cantando, soa como um Louis Armstrong menos rouco e mais bêbado (não por acaso, os primeiros versos da canção são: "Beber, beber, beber até cair / Depois se reerguer e partir").
22h57 - Gostei da letra dessa que tá rolando agora, "As Asas de um Anjo". Morbidez poética. "Seus lábios cor de açaí, neles se misturam / Bardoux, Deneuve, Adjani, num vermelho puro / Mas pode ser sangue de escorbuto / Que vai saindo gota a gota do seu corpo imundo."
23h03 - "O Mundo Tá Sempre Girando" tem um dueto entre o Skylab e um tal de Maurício Pereira. Acho que é a primeira vez nas canções rogerianas que escuto a voz de outro cantando.
23h05 - Bom, o disco já vai findando. Parece inferior ao Skylab VI, que por sua vez é inferior ao IV, ao II e até ao primeiro. Destaques: "Há Quanto Tempo?", "Chove Chuva Na Minha Cabeça" e "A Última Valsa". Nenhuma delas entraria num Top 10 Skylab. Os músicos realmente merecem elogios, mas sei lá, as melodias não são contagiantes, sabe cumé? É tudo mais intimista, talvez seja daqueles álbuns que melhoram com o tempo, embora não tenha me convencido muito. Vou ficando por aqui, tô com fome e tem um resto de pacote de Ruffles me aguardando ansiosamente. Até a próxima.