Volta ao Mundo de Mentira
Domingo, 30/12 - Cáceres, Pantanal Mato-Grossense, Brasil
Ainda não vi o Almir Sater nem a Juma Marruá, mas um tuiuiu veio me dar bom-dia hoje de manhã. Meu pescoço está torto até agora, de tanto andar de ônibus. O sol queima mais do que eu esperava (maldita hora que fui ignorar o videozinho do filtro solar). Mas enfim: minha volta ao mundo de mentira me trouxe ao Pantanal e no momento curto a vista do rio Paraguai e as chalanas navegando em seu remanso. Cáceres é a cara do Pantanal: vitórias-régias boiando tranqüilas, pássaros pousando n'água e voando molhados, cobras à espreita, capivaras no barranco. Aqui também se realiza o maior campeonato de pesca em águas fluviais do mundo, mas os surubins podem respirar aliviados, estamos na piracema.
Cheguei aqui na noite de ontem e fui direto pro boteco. Um barzim de leve, só pra começar bem a viagem. A cidade aqui é pacata e, com o agravante do fim de ano, tava tudo vazião. Pra acompanhar a cerveja, o garçom me sugeriu espetinho de jacaré frito. Uma experiência curiosa: gosto de peixe e textura de peito de frango. Me lembrou aquele chips bizarro com textura de batata frita e gosto inconfundível de camarão com limão. A trilha sonora, no entanto, desanimava. Não bastasse os dois violões tocarem a mesma coisa e as duas vozes de cabrito cantarem a primeira voz, eles ainda faziam uso de um execrável fundo eletrônico, uma das pragas mais nefastas do mundo moderno. Pedi pro garçom tirar o couvert da conta e expliquei: não pago pra ouvir karaokê. Ele ficou meio chateado, sei lá se era parente dos cantores, daí acabei pedindo mais jacaré pra compensar.
Nisso chegou um sujeito corcunda, de chapéu surrado e jeito estranho, carregando livros. Forçou um sorriso, mostrou-me um exemplar e disse: gosta de uma boa leitura? O livro trazia sua foto na contracapa: o mesmo sorriso tristonho. No mínimo era um daqueles poetas que rimam "triste" com "quis-te". Perguntei do que se tratava, se era prosa ficcional, poesia parnasiana ou auto-ajuda pantaneira. Ele me mostrou o título: "É do lado direito que bate meu coração". E explicou: é um caso raro, meu coração fica do outro lado, já fui matéria até nos Estados Unidos. Propus a ele outros tipos de abordagens:
- Responda rápido: o que é dextrocardia?
- Lembra do satânico Dr. No?
- Gosta de uma boa leitura sobre casos médicos raros que já foram matéria até nos Estados Unidos?
Ou então traria um estetoscópio e convidaria o potencial leitor a uma experiência interativa, do tipo: "você tem 15 segundos pra achar o coração", enquanto cantava "A gente se ilude dizendo já não há mais coração...". Mas ele preferiu o jeito dele.
Ainda não decidi meu ano-novo mas aparentemente a única opção nesta cidade é o Iate Clube, que não me apeteceu nem um pouco. Ou cruzo a fronteira e viro o ano na Bolívia, ou pego um teco-teco e desço no Acre a tempo de ver as festividades. Tempo tenho de sobra para decidir: afinal, quando for meia-noite em Brasília ainda serão 21h em Rio Branco. Duvida?
Ainda não vi o Almir Sater nem a Juma Marruá, mas um tuiuiu veio me dar bom-dia hoje de manhã. Meu pescoço está torto até agora, de tanto andar de ônibus. O sol queima mais do que eu esperava (maldita hora que fui ignorar o videozinho do filtro solar). Mas enfim: minha volta ao mundo de mentira me trouxe ao Pantanal e no momento curto a vista do rio Paraguai e as chalanas navegando em seu remanso. Cáceres é a cara do Pantanal: vitórias-régias boiando tranqüilas, pássaros pousando n'água e voando molhados, cobras à espreita, capivaras no barranco. Aqui também se realiza o maior campeonato de pesca em águas fluviais do mundo, mas os surubins podem respirar aliviados, estamos na piracema.
Cheguei aqui na noite de ontem e fui direto pro boteco. Um barzim de leve, só pra começar bem a viagem. A cidade aqui é pacata e, com o agravante do fim de ano, tava tudo vazião. Pra acompanhar a cerveja, o garçom me sugeriu espetinho de jacaré frito. Uma experiência curiosa: gosto de peixe e textura de peito de frango. Me lembrou aquele chips bizarro com textura de batata frita e gosto inconfundível de camarão com limão. A trilha sonora, no entanto, desanimava. Não bastasse os dois violões tocarem a mesma coisa e as duas vozes de cabrito cantarem a primeira voz, eles ainda faziam uso de um execrável fundo eletrônico, uma das pragas mais nefastas do mundo moderno. Pedi pro garçom tirar o couvert da conta e expliquei: não pago pra ouvir karaokê. Ele ficou meio chateado, sei lá se era parente dos cantores, daí acabei pedindo mais jacaré pra compensar.
Nisso chegou um sujeito corcunda, de chapéu surrado e jeito estranho, carregando livros. Forçou um sorriso, mostrou-me um exemplar e disse: gosta de uma boa leitura? O livro trazia sua foto na contracapa: o mesmo sorriso tristonho. No mínimo era um daqueles poetas que rimam "triste" com "quis-te". Perguntei do que se tratava, se era prosa ficcional, poesia parnasiana ou auto-ajuda pantaneira. Ele me mostrou o título: "É do lado direito que bate meu coração". E explicou: é um caso raro, meu coração fica do outro lado, já fui matéria até nos Estados Unidos. Propus a ele outros tipos de abordagens:
- Responda rápido: o que é dextrocardia?
- Lembra do satânico Dr. No?
- Gosta de uma boa leitura sobre casos médicos raros que já foram matéria até nos Estados Unidos?
Ou então traria um estetoscópio e convidaria o potencial leitor a uma experiência interativa, do tipo: "você tem 15 segundos pra achar o coração", enquanto cantava "A gente se ilude dizendo já não há mais coração...". Mas ele preferiu o jeito dele.
Ainda não decidi meu ano-novo mas aparentemente a única opção nesta cidade é o Iate Clube, que não me apeteceu nem um pouco. Ou cruzo a fronteira e viro o ano na Bolívia, ou pego um teco-teco e desço no Acre a tempo de ver as festividades. Tempo tenho de sobra para decidir: afinal, quando for meia-noite em Brasília ainda serão 21h em Rio Branco. Duvida?
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