08/04/2009

Number nine




É sabido que uma alta porcentagem dos participantes do Big Brother é de boçais sem muito o que acrescentar ao mundo, o que não é nem culpa deles, mas de quem os colocou ali dentro. Sempre achei a seleção dos participantes mal feita e nesta nona edição continuou rigorosamente previsível. Até os idosos, que puseram pra fingir inovação, eram boçais disfarçados de avós: uma velha escandalosa, um velho tarado. Na final de ontem, como de praxe, os participantes eliminados fizeram uma última aparição - provavelmente pelo resto de suas vidas, porque dali pro limbo é uma semana e olhe lá. As gostosas ainda garantem sobrevida mostrando as partes na mídia impressa, o que talvez explique porque elas nunca tenham vencido um Big Brother. Mas quem neste mundão se lembra de Sammy ou Rafael Valente, terceiros lugares em edições relativamente recentes?

No entanto, a idéia do programa não é ruim. E, embora eu tenha ignorado solenemente os quatro primeiros, nos últimos anos acompanhei com curiosidade, tanto para desenvolver mais repertório para esculachar, quanto porque admiro um programa de televisão bem produzido. Confinar pessoas em uma casa e fazê-las passar por situações ridículas é divertido. Ver o pau quebrar e a galera avançar umas nas outras também. O problema com o Big Brother, e que foi ainda mais visível em 2009, é que ele é bonzinho demais.

Porque confinar o povo e deixar um casal sair pra voar de helicóptero ou pular Carnaval é que nem deixar os jogadores do Survivor escolherem entre minhoca ou chocolate. Confinamento é confinamento: prisão domiciliar, sem direito a visitas ou regalias. Nesse sentido, nada mudou e nem vai mudar, mas nesta edição fizeram três tentativas para tentar variar um pouco. Todas furadas.

Uma: separar a casa em dois grupos, divididos por um muro. A intenção era jogar uma turma contra a outra quando eles se juntassem, o que realmente ocorreu, mas como óbvio efeito colateral gerou panelinhas de gente insuportável que duraram até o fim. Duas: a casa de vidro. Juntaram quatro dos boçais e puseram numa espécie de bolha em um shopping center. Mas os participantes podiam ver o povo lá fora! Que chulé na cabeça é esse, pessoal? Em vez de interagirem entre si e proporcionarem ao público a inusitada experiência de presenciar um reality show ao vivo, os quatro ficavam rebolando e fazendo mímica para a platéia, como um chipanzé que joga bosta pra chamar a atenção. E três, o quarto branco. Foi a melhor idéia: um confinamento dentro do confinamento, só que de verdade dessa vez, ouvindo o Pedro Bial só pela voz, a luz acesa o tempo todo, sendo desistir a única possibilidade de sair dali. Só não deu certo porque o chorão que foi pra lá pediu pra sair em poucas horas, acabando com a graça.

Desde o primeiro programa, com aquele sorteio suspeito de lado A e lado B e erros nítidos de direção - os participantes/personagens chegavam e não eram mostrados de frente pelas câmeras - já dava pra ver que, em muitos momentos, nem a Globo, nem o Boninho e nem o Bial sabiam direito o que estavam fazendo. Se as festas sempre foram constrangedoras e a presença do Latino cantando "Hoje é festa aqui no BBB" não surpreende, as provas do líder, por exemplo, costumavam ser mais criativas. A regra aqui foi vender a prova para grandes marcas. Como publicitário, devo reconhecer que descobriram ali um bom negócio - para a Globo e para os anunciantes - mas como espectador é frustrante notar a preguiça mental dos produtores em idealizar competições mais interessantes. A única com alguma emoção foi a tirolesa de ponta-cabeça com os participantes colados pelo pé (e mesmo assim já tinham feito coisa semelhante). De resto, um monte de provas de sorte, provavelmente rabiscadas pelo estagiário às pressas para que o chefe apresentasse logo ao cliente.

O alento é saber que, quanto mais insosso e risível é o espetáculo, maior a chance de originar bons comentários sarcásticos. Na próxima edição, podiam contratar o pessoal do Big Bosta.

0 comments :

Postar um comentário

Quem

Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

Busca no blog

Leia

Leia
Cinema-Múndi: Uma viagem pelo planeta através da sétima arte

Leia também

Leia também
A Saga de Tião - Edição Completa

Ouça

Ouça
Sifonics & Lucas Paio - A Terra é Plana

Mais lidos

Leia também


Cinema por quem entende mais de mesa de bar

Crônicas de um mineiro na China


Uma história parcialmente non-sense escrita por Lucas Paio e Daniel de Pinho

Arquivo

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *