04/04/2009

Whatever happened, happened

Vi Lost uma vez no AXN e não gostei. Era o episódio em que Sayid tortura Sawyer porque ele tinha escondido uns remédios, e lembro que me incomodou bastante ver um monte de gente numa ilha deserta permanecendo limpos e bem maquiados. Mas depois me emprestaram os DVDs com a primeira e a segunda temporada completas, que vi tudo em um mês e o estrago já estava feito: mais um viciado no mundo. Pelo menos não foi como no vídeo Previously on Lost, sobre um cara que resolve assistir a todos os episódios em dois dias e meio. E como eu acho que nunca falei sobre Lost no Biselho (exceto neste post), acho que vale uns comentários.


1a temporada (2004-2005)

O primeiro episódio de Lost custou 11 milhões de dólares. Foi o piloto mais caro da história da TV: também, o que você esperava de uma série filmada em 35mm em uma ilha do Havaí, com um elenco populoso e a reconstituição detalhada de um desastre de avião? Sempre gostei de histórias sobre ilhas desertas - Náufrago, Robinson Crusoé, A Cidadela dos Robinsons - e o início da primeira temporada de Lost cumpre bem o papel de apresentar os personagens e mostrar sua sobrevivência (ou não) no meio da selva. Aos poucos, percebemos que a ilha não é só plantas e javalis: ali tem monstros, habitantes nativos e mistérios a rodo, levando a infindáveis conspirações - a sinistra aparição de um urso polar fez muita gente crer que aquilo fosse, na verdade, uma propaganda disfarçada da Coca-Cola. A estrutura de cada episódio é similar: cenas na ilha entremeadas por flashbacks centrados em um personagem. Ficamos conhecendo o passado de todos os personagens principais, e se alguns não são tão interessantes, quando a gente descobre as peripécias de Kate ou Locke antes de caírem na ilha a reação é sempre a mesma: "Nóóóóó!". A história vai ficando intrincada, e as recapitulações no começo ("Previously on Lost...") passam a servir não só para relembrar o episódio anterior, mas para situar o espectador após tantas reviravoltas. Tanto que na quarta temporada ainda tinha cena da primeira sendo recapitulada. Entre episódios mais calmos e outros de tensão excruciante - "Do No Harm", com a morte de um personagem e o nascimento de outro, é um dos melhores - a temporada termina mostrando que Os Outros não são aborígenes como eu pensava (sei lá, acho que tinha em mente as tribos estranhas de King Kong ou A Lagoa Azul) e que aquilo ainda vai dar muito pano pra manga. O plano que encerra "Exodus", o último episódio, é um exemplo perfeito.


2a temporada (2005-2006)

"Make Your Own Kind of Music", canção de Mama Cass Elliot, abre o primeiro episódio da segunda temporada de Lost. Logo nos primeiros minutos, descobrimos que o buraco é literalmente mais embaixo: escondido sob a escotilha misteriosa que os personagens encontraram na selva no meio da primeira temporada, há um bunker com camas, comidas, discos e livros, um habitante e um computador onde a cada 108 minutos você tem que digitar uma seqüência de números - 4, 8, 15, 16, 23 e 42 - porque senão... bem, ninguém sabe direito o que acontece. Os passageiros da cauda do avião, que todos julgavam mortos (o avião rachou no meio ainda no ar e cada pedaço foi para um lado) dão o ar da graça, embora alguns saiam da história antes de descobrirmos o suficiente a seu respeito, como a Libby. O começo da temporada é excelente, mas depois começa a ficar meio chato. Muita enrolação, com Charlie preocupado com o bebê de Claire e flashbacks que não dizem muito. No entanto, quando entra em cena Henry Gale - que se tornaria o melhor personagem da série - Lost volta ao seu melhor, encerrando com vários episódios tensos, a revelação do que acontece quando não se digitam os números e um gancho para a terceira temporada ainda melhor que o anterior.


3a temporada (2006-2007)

Depois de um mês assistindo três ou quatro episódios por dia, em DVD, me vi na obrigação de acompanhar a série como todo mundo: um episódio por semana, e olhe lá. O "olhe lá" fica por conta da estrutura adotada na terceira temporada: foram 6 episódios em outubro e novembro, e o restante só a partir de fevereiro. Se na primeira o foco era a ilha e na segunda foi a escotilha, na terceira destrincha a vida e a história d'Os Outros. O episódio inaugural, "A Tale of Two Cities", começa com uma cena genial. No entanto, a expectativa que se construiu para esses 6 primeiros capítulos não se confirmou. Achei algumas explicações meio furadas ou mesmo decepcionantes, e os flashbacks chegaram ao limite. Quem agüenta tanto Jack brigando com o pai? Além disso, a tão alardeada participação de Rodrigo Santoro (alardeada só no Brasil, claro) se restringiu a algumas cenas dispensáveis. Mas do meio pro fim, o negócio foi melhorando: reviravoltas, pessoas mudando de lado, flashbacks que realmente acrescentam - finalmente descobrimos por que Locke foi parar na cadeira de rodas - e um final de temporada excelente, como de praxe. O último episódio, "Through the Looking Glass" apresenta uma inovação surpreendente, trocando o flashback pelo flashforward. E quando um dos personagens grita, desesperado - "We have to go back!" - as perguntas mudam de "o que vai acontecer agora?" para "que porra é essa que aconteceu?" e "como diabos isso aconteceu?", gerando zilhões de lacunas para a temporada seguinte.


4a temporada (2008)
Oito longos meses depois, Lost voltou ao ar com uma temporada bem mais enxuta. Em vez dos habituais 22 ou 25 episódios, foram apenas 14 - culpa da greve dos roteiristas. Mas foi até bom: pararam com a enrolação e começaram a ir direto ao ponto, principalmente depois que anunciaram o número exato de temporadas até o fim do seriado (vai até a sexta). Diferentemente do ano anterior, em que eu ainda pegava os DVDs emprestados com um ex-colega de trabalho, comecei a baixá-los na quinta-feira, horas após a exibição na TV americana. Os flashforwards, como era esperado, trouxeram um novo frescor à série. Como em outras ficções que imaginam o futuro de personagens já conhecidos (The Dark Knight Returns, O Reino do Amanhã...), é um bom exercício tentar descobrir quem são os Oceanic Six, o que eles estão fazendo da vida e como chegaram ali. E se era óbvio supor que todos escapariam da ilha apenas no último episódio da última temporada, foi uma surpresa agradável ver essa cena aparecer a duas temporadas inteiras do final.

Sobre a quinta temporada, que venho assistindo toda quinta-feira no horário de almoço, comento quando ela terminar, lá pro final do mês que vem.

Veja também: resumão bem editado das temporadas 1 a 3
E ouça: "Make Your Own Kind of Music"

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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