Voa passarinho voa
"Não vou me render ao Twitter". Escrevi essa frase no décimo terceiro dia de abril passado, pronto para iniciar um texto sobre minha resistência ao mais novo (ou nem tão novo) fenômeno efêmero da internet terráquea. Abandonei porque quatro dias depois eu me rendi e criei um perfil cujo endereço, www.twitter.com/lucaspaio, não divulguei pra ninguém. Ainda assim consegui 10 seguidores, sendo seis conhecidos e quatro de quem nunca ouvi falar.
Não foi minha primeira experiência na ferramenta microblóguica. Nos finalmentes de 2007, criamos um perfil na agência onde eu trabalhava que funcionava como aquelas notícias de última hora sobre os participantes do Big Brother: huguinho saiu pra beber água, zezinho anunciou que está com fome, luizinho não pára de cantar. Uma diversão que durou dois dias e algumas centenas de nanoposts, depois acabou como qualquer modismo. (Infelizmente o troço saiu do ar, ou sou eu que não lembro o endereço nem a pau).
Daí quando me rendi e criei o @lucaspaio, fiz mais pra ver se eu viciava, e por umas semanas até atualizei com certa freqüência. Dos 35 minitextos de 140 caracteres ou menos, foram 4 sobre filmes ("...E o Vento Levou - Victor Fleming, 1939: épico com suas ressalvas, mas bem conduzido. 4 estrelas em 5"), 7 sobre o Comida di Buteco ("Ali-Ba-Bar: kafta ao molho, mandioca com manteiga e couve. Bem bom, principalmente os molhos"), 4 descrições de almoço ("arroz com bacon, frango, bife à parmegiana, batata frita, mandioca frita, milho, alface e ovo de codorna"), 5 comentários sobre discos ("Já fui muito fã de Green Day e gostei bastante do American Idiot, mas este 21st Century Breakdown não me convenceu..."), 2 links interessantes ("Portal pra quem quer fazer cinema: http://filmmakeriq.com - tutoriais e dicas de produção, roteiro, direção, edição..."), 3 links para posts do Biselho, 6 observações sortidas sobre o cotidiano ("Carro é foda. Depois de arrumar suspensão, escapamento, trocar óleo e alinhar, agora foi a luz do freio que deu pau"), 1 sobre Lost ("The Variable"), 1 sobre Futurama (DVDs da primeira temporada), 1 sobre uma HQ ("Wolverine: Origem") e 1 sobre shows ("Conexão Vivo 21/04: valeu o Samuel Rosa no final tocando Skanks antigos e a participação surpresa do Milton Nascimento no bis").
Agora me desrendi, ou pelo menos perdi a vontade de ter mais uma obrigação virtual, ainda mais uma que exige uma constância tão rígida. Fica igual a maioria dos portais jornalísticos: na ânsia de atualizar a página principal com notícias urgentes, destacam-se manchetes como "Jurado diz que foi beijado por Susan Boyle" ou "Naiá fala mal de Priscila na TV" (fonte: G1 e Folha Online, minutos atrás). Citando um amigo meu citando Caetano, quem lê tanta notícia? Quem precisa saber que Susana Vieira tomou o microfone das mãos de um repórter do Video Show, ou que eu comi ovo quente com sal e pimenta-do-reino hoje de manhã? Além do mais, deve ter algo de errado com um site que faz a Jennifer Aniston terminar com você.
De qualquer forma, não achei no Twitter foi uma utilidade verdadeiramente exclusiva. Pra escrever textos tenho o Biselho e A Saga de Tião, pra divulgar o Biselho e o Tião tenho as mensagens de MSN, pra falar de filmes tenho a planilha online e o Cinema de Buteco, pra conversar com os outros sem privacidade tenho o scrapbook do Orkut. Ou sei lá, às vezes amanhã me rendo de novo e passo a compartilhar com o mundo minhas análises sobre o pôr-do-sol, minhas recomendações dos melhores sabores exóticos de sorvete disponíveis no meu quarteirão ou minha descoberta de uma nova rede social diferente de tudo o que existe. Vai saber.