Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 5
O TERCEIRO HOMEM (The Third Man, Reino Unido, 1949, dir. Carol Reed)
Noirzão clássico com todos os elementos do gênero: uma morte que é mais do que parece, um protagonista preocupado em investigar o que ninguém dá muita bola, uma mulher misteriosa, um vilão ambíguo, fotografia em preto-e-branco e cheia de sombras, composições que abusam dos ângulos tortos. Joseph Cotten está adequadamente confuso como o escritor de faroestes que chega a Viena a convite de um amigo e encontra o amigo morto, e Orson Welles, mesmo com pouco tempo de tela, compõe um personagem intrigante, variando sutilmente as expressões faciais e contribuindo com frases clássicas do cinema (eu nem sabia que vinha deste filme a citação que compara a Itália sanguinária que produziu o Renascimento e a Suíça pacífica que produziu o relógio cuco). Nota 5/5
SUPERMAN IV - EM BUSCA DA PAZ (Superman IV: The Quest for Peace, EUA/Reino Unido, 1987, dir. Sidney J. Furie)
Lembro vividamente de assistir Superman IV na tevê em Cabo Frio no reveillón de 1991 pra 1992. Eu tinha seis anos e adorei, claro. Vinte anos depois, só encarei de novo por ter assistido recentemente ao restante da série, já esperando aquela bomba – imagine um filme que tem 10% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota 3.5/10 no IMDB. E é realmente bem ruim, mas não é um desastre monumental, no sentido de que Batman & Robin é um desastre monumental. É que o espectador ideal é o menino de seis anos que brinca de bonequinhos e não dá a mínima para as leis da física, que aqui são devidamente chutadas, mastigadas e cuspidas: tem a Mariel Hemingway respirando no espaço, tem o Superman movendo a Lua para provocar um eclipse e contando que aprendeu isso "na aula de física do ensino médio". Mas ei – a ciência não é o forte da série desde o primeiro filme, com a famigerada cena da Terra girada ao contrário. Em comparação com Superman III (que trazia Richard Pryor como gênio da computação!), o quarto episódio maneira no pastelão e no humor verbal, que quando aparecem não têm muito êxito – a tirada do Superman sobre a segurança no metrô não funciona nem como piada nem como referência ao filme original. Os efeitos especiais são tosquíssimos, com cromakeys dignos de Chapolin, e o roteiro continua com a tradição iniciada pelo "superbeijo do esquecimento" de inventar superpoderes para o herói que não existiam nos quadrinhos: aqui ele tem poderes eletromagnéticos, reconstrói a Muralha da China com uma supervisão-de-pedreiro e toca a campainha com a força do pensamento (além de aparecer falando russo e italiano, numa demonstração clara de supererudição). Gene Hackman volta como Lex Luthor, que desta vez inventa um novo supervilão chamado Homem-Nuclear, com mullets loiros de McGuyver, unhas prateadas gigantes e uniforme à la He-Man. Com tanto vilão bacana nos quadrinhos que nunca apareceu nas telonas (Darkseid, Brainiac, mesmo o Superman Bizarro), por que é que ficam inventando moda? Nota 2/5
SHERLOCK HOLMES - O JOGO DE SOMBRAS (Sherlock Holmes: A Game of Shadows, EUA, 2011, dir. Guy Ritchie)
O primeiro Sherlock Holmes de Guy Ritchie me surpreendeu porque, apesar de fugir completamente da caracterização habitual do personagem, o estilo narrativo de Ritchie e a química entre Robert Downey Jr. e Jude Law deram um novo gás ao velho detetive. A rigor, esta seqüência não acrescenta nada de novo, mas continua bem bolada e divertida. As brincadeiras visuais de Guy Ritchie no primeiro filme estão de volta, e algumas funcionam por subverter o conceito original (Holmes prevendo os golpes antes de uma luta), mas outras acabam cansativas (como a câmera leeeenta na cena da floresta). Downey Jr. se diverte com os inúmeros disfarces, enquanto os personagens clássicos Mycroft Holmes (Stephen Fry) e Professor Moriarty (Jared Harris) são adições muito bem-vindas, este último protagonizando o ótimo embate final com Sherlock, mais fiel ao conto O Problema Final do que eu imaginaria. Nota 4/5
DISQUE M PARA MATAR (Dial M for Murder, EUA, 1954, dir. Alfred Hitchcock)
Um marido planeja assassinar a esposa adúltera, mas o plano dá errado e ele tem que improvisar. A trama se passa quase inteiramente dentro de um apartamento; ao contrário de Festim Diabólico, é filmado de maneira mais convencional, mas ainda extremamente precisa, passeando pelos vários detalhes do roteiro – as diversas chaves sendo o maior destaque – sem confundir o espectador. Nota 4/5
MISSÃO: IMPOSSÍVEL - PROTOCOLO FANTASMA (Mission: Impossible – Ghost Protocol, EUA/EAU, 2011, dir. Brad Bird)
Brad Bird construiu uma carreira impecável na animação, com O Gigante de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille – este último meu favorito dentre as várias obras-primas da Pixar. Sua estréia no live-action com o quarto episódio de Missão: Impossível não chega ao brilhantismo de suas animações, mas é um filme-pipoca de primeira, preferindo usar seu tempo com a ação desenfreada (e bem dirigida) do que em tentar ser "sublime". Ethan Hunt é um action hero com profundidade zero, e é melhor que seja assim – nas poucas vezes em que começa a esboçar os problemas mais emocionais de Hunt, o filme fica menos interessante. O que interessa aqui é a ação, e nisso Bird é impecável, usando humor na invasão ao Kremlin, provocando vertigem na cena do prédio mais alto do mundo, apresentando trocentos gadgets absurdos que são imediatamente invejados pela platéia. Tom Cruise já é quase cinqüentão mas ainda convence nos saltos e corridas; Simon Pegg não decepciona no seu papel habitual de nerd piadista – ele e Jeremy Renner são agentes secretos mais humanos, mostrando medo onde qualquer um de nós também o faria. Paula Patton, por outro lado, é uma "impossiblegirl" meio genérica, e Michael Nyqvist empalidece diante do vilão de Phillip Seymour Hoffman no Missão Impossível anterior. Protocolo Fantasma acaba sendo o pior filme de Brad Bird até agora – mas só porque ele estabeleceu um padrão alto demais. Nota 4/5