04/06/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 22

 

A VIDA DOS OUTROS (Das Leben der Anderen, Alemanha, 2006, dir. Florian Henckel von Donnersmarck)
Irmão mais novo de A Conversação, este também tem como protagonista um especialista em escutas que sofre uma crise de consciência ao espionar suas vítimas mais recentes. A diferença é que o personagem de Ulrich Mühe (metódico, impassível e sósia de Kevin Spacey) trabalha para o governo da Alemanha Oriental, que almeja vigiar tudo e todos como um Big Brother – não por acaso, a trama se passa em 1984. O clima de paranóia é muito bem capturado e os vinte minutos finais, com seus súbitos saltos temporais, podem parecer anticlimáticos, mas encerram o filme de forma tocante: está longe ser um final "pra cima", mas podemos chamar de "realisticamente feliz". Nota 5/5 


CONTOS DE NOVA YORK (New York Stories, EUA, 1989, dir. Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen)
Três média-metragens feitos por três diretores foda. O filme de Scorsese ("Lições de Vida") é meu preferido: boa direção, uso constante de músicas pop e um roteiro ancorado na atuação do casal principal (Nick Nolte e Rosanna Arquette), que nunca decepciona. O do Coppola ("Vida Sem Zoe") tem a fama de ser o piorzinho, e é mesmo: a protagonista (Heather McComb) é uma menina rica e chatinha e a trama dá voltas demais e termina pouco memorável. E o último ("Édipo Arrasado") é uma fantasia simpática em que a mãe de Woody Allen desaparece num show de mágica e reaparece no céu de Manhattan, contando para todos os nova-iorquinos como seu filho é isso, aquilo e aquilo mais. Como longa, Contos de Nova York acabou ficando irregular – acho que esse é o destino de 90% das antologias, não importa quem esteja envolvido. Nota 3/5


GL[ORIA FEITA DE SANGUE (Paths of Glory, EUA, 1957, dir. Stanley Kubrick)
Kubrick trabalhava com um gênero diferente quase a cada filme, mas o tema da guerra está presente em vários, geralmente demonstrando os perigos inerentes à hierarquia militar e ao abuso de poder. O desprezo pelas figuras do alto escalão está sempre lá: o sargento durão planta a semente de seu próprio fim em Nascido Para Matar, o general insano provoca a destruição da humanidade em Dr. Fantástico. Esse desprezo é claro em Glória Feita de Sangue, e tem o rosto e a voz de Kirk Douglas, que passa o filme tentando (em vão) buscar um pouco de justiça. Embora se passe na Primeira Guerra e tenha franceses como protagonistas, os vilões nunca são os alemães, mas os generais do próprio exército francês: o general que se diz responsável pela vida de cada um de seus soldados e depois ordena ao capitão que atire nas próprias tropas; outro que, bonachão e sorridente, comenta casualmente durante uma festa de gala que "é preciso atirar em alguém de vez em quando pra manter a disciplina". A resolução da trama passa longe do romantismo hollywoodiano e deixa um gosto amargo de impotência, injustiça e pessimismo em relação à humanidade. É só ler qualquer jornal para atestar: a trama de Glória Feita de Sangue se passa há quase 100 anos, mas poderia ter ocorrido hoje. Nota 5/5


OS CAÇA-FANTASMAS II (Ghostbusters II, EUA, 1989, dir. Ivan Reitman)
Tem umas boas sacadas, como o início melancólico com os Caça-Fantasmas animando festinhas infantis pra poder pagar as contas ("Who you gonna call?", perguntam eles, e as criancinhas: "He-Man!"). Bill Murray mantém o sarcasmo que fez de seu Peter Venkman o melhor personagem do original, e o filme traz uma boa dose de gosmas asquerosas e novos fantasmas (incluindo as vítimas do Titanic, chegando a Nova York com décadas de atraso). Por outro lado, a estrutura soa parecida demais com a do primeiro filme – Caça-Fantasmas começam fracassados, ganham prestígio após um exorcismo bem-sucedido, encontram uma ameaça terrível envolvendo a Sigourney Weaver (que azarada do caramba!) e terminam invocando a um ser gigante que caminha pela cidade (desta vez é a Estátua da Liberdade que ganha vida). Se é pra fazer a mesma coisa, não é de se admirar que Bill Murray não esteja a fim de voltar para um Caça-Fantasmas 3. Nota 3/5


AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story, EUA, 1961, dir. Jerome Robbins & Robert Wise)
Uma adaptação bem livre de Romeu e Julieta, transforma os Montecchios e Capuletos em gangues adolescentes rivais, cujos conflitos invariavelmente terminam em dança. O casal de protagonistas é bem fraco, ele principalmente; a maioria das cenas envolvendo apenas os dois é meio chatinha, com juras de amor juvenis e canções melosas. As cenas com as gangues são muito melhores, com seus confrontos cuidadosamente coreografados. Pena que se acovardaram no final do filme, "surpreendendo" ao se distanciarem do original de Shakespeare mas diminuindo imensamente o peso dramático – já viu Romeu e Julieta onde um deles sobrevive?! Nota 3/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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