23/11/2012

Filmes de Dois Mil e Dôuze - Parte 42


A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA (Brasil, 2011, dir. Vinícius Coimbra)
Os diálogos são afiados e cheios de sacadas ótimas – claro, esta é uma adaptação fiel ao conto de Guimarães Rosa – e João Miguel é um ator que cresce cada vez mais no nosso cinema, completamente diferente em cada papel: aqui ele convence tanto como bandidão quanto homem bom. Há também boas participações (a melhor é a de Chico Anysio, em um de seus últimos papéis). O roteiro poderia ser melhor estruturado – a passagem do tempo não fica muito clara, a família só ganha uma cena avulsa envolvendo os filhos, Joãozinho Bem-Bem só aparece no terceiro ato; talvez porque tenha sido fiel demais à obra original? As cenas em câmera lenta e a trilha melosa também contribuem para o clima meio novelesco, o que é compreensível dada a experiência televisiva do diretor Vinícius Coimbra. Nota 3/5


O PALHAÇO (Brasil, 2011, dir. Selton Mello)
Me lembrou muito os filmes de Wes Anderson, não só pelos planos com tudo centralizado, mas pelo senso de humor bizarro, que às vezes causa estranheza e desconforto em vez de risadas. E esta era certamente a intenção de Selton Mello ao fazer um filme sobre um palhaço melancólico que pensa em desistir da profissão. A estrutura do roteiro também é estranha: os primeiros dois terços se ocupam da vida circense, apresentando um elenco de rostos e corpos únicos e várias participações bacanas (tem até Zé Bonitinho e Ferrugem); quando o conflito parece finalmente começar, o filme já está em seu terço final e acaba relativamente rápido – não sem antes nos mostrar suas melhores cenas. Nota 4/5


XINGU (Brasil, 2012, dir. Cao Hamburger)
Tirando a narração (que às vezes soa pouco natural e desnecessária) e alguns probleminhas com a passagem do tempo (os personagens não envelhecem e quando assustamos já se passaram décadas), gostei muito de Xingu desde as cenas iniciais (que mostram os irmãos Villas-Bôas se voluntariando para uma complicada expedição) até os planos finais (o close no índio, a revelação do piloto do avião). Tenso quando indígenas e homens brancos ainda se desconhecem, emocionante quando são aceitos e enraivecedor sempre que os jogos políticos ganham destaque, é uma história real bem contada e que infelizmente não fez o sucesso merecido no Brasil. Nota 4/5


TRABALHAR CANSA (Brasil, 2011, dir. Marco Dutra & Juliana Rojas)
Quando terminei de assistir, eu sabia que tinha gostado, mesmo que não soubesse exatamente o porquê. É um filme pequeno, independente e esquisito, que mistura drama familiar, comédia nervosa e terror, nem sempre provocando os resultados mais esperados desses gêneros. As atuações estão longe de excelentes, mas isso combina bastante com o aspecto derrotado dos personagens, cada um lidando com sua rotina enfadonha: a mulher cuidando de seu mercadinho cheio de problemas, o marido enfrentando ridículas dinâmicas de grupo para conseguir emprego, a empregada agüentando os pitacos da mãe da patroa. A ausência de trilha sonora contribui para aumentar a tensão e a sensação de vida real: todas as músicas vêm exclusivamente de dentro da narrativa. E o toque fantástico no final não soa avulso, com tantas pistas plantadas desde o início. É difícil prever quem vai gostar ou não de Trabalhar Cansa, mas indiferente pouca gente fica. Nota 4/5


007 - O MUNDO NÃO É O BASTANTE (The World Is Not Enough, Reino Unido/EUA, 1999, dir. Michael Apted)
Os filmes com Pierce Brosnan vão caindo a qualidade nitidamente: enquanto o anterior não desviava da fórmula mas pelo menos tinha seus bons momentos, em O Mundo Não é o Bastante não há nada particularmente memorável. Brosnan traz de volta os trocadilhos, Denise Richards não convence como física nuclear vestindo roupinha de Lara Croft e a única cena de ação mais interessante é a cena pré-créditos, envolvendo uma superlancha e um balão – porque depois temos a qüinquagésima perseguição com esquis e a tricentésima seqüência submarina. O seqüestro de M vale pelo ineditismo, mas não é capaz de salvar o filme da mesmice. Nota 2/5

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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