O retorno do Biselho
Por essa você não esperava: o Biselho ressurgiu das cinzas.
Lá se vão mil e dois dias desde que postei algo aqui pela última vez – um recorde até mesmo para os padrões desleixados da história deste blog.
Alguns meses depois, em julho de 2013, escrevi o post derradeiro do Boca de Gafanhoto, um blog sobre a China que mantive durante os quatro anos em que morei em Beijing. De malas prontas para minha segunda mudança de país, encerrei o texto com uma semipromessa: "Não fiquei na China pra sempre, mas ainda não é hora de retornar ao Brasil: minhas aventuras se voltam agora para o Velho Mundo. Ganharão textos, fotos, vídeos? Não planejei nada, mas se eu fosse você, daria uma olhada no Biselho de vez em quando."
Se você seguiu o conselho e se decepcionou com a constante falta de novidades, esperando anos a fio por um novo post… bom, provavelmente é o único. As estatísticas do Blogger deixam claras que a imensa maioria dos acessos atualmente vem de usuários pesquisando no Google por termos avulsos como "nomes arcaicos" e "menino luxento". Há um número grande de visitas da Rússia e da Ucrânia, e praticamente todas apontam para o clipe de "Opesdol", uma música da minha banda ABUNN cujo título é um vocábulo russo de baixo calão.
Caso você não faça parte do seleto grupo de oito pessoas que acompanhava o Biselho nos seus tempos áureos, cabe aqui uma breve retrospectiva. Criei este blog aos dezenove anos, no saudoso ano de 2004. Foram cinco anos de atividade constante, com períodos de explosão produtiva em que eu chegava a publicar um post todo dia, a épocas de vacas magras em que o blog criava bolor durante meses.
Em 2009, fui pra China e criei um novo blog dedicado especialmente à minha temporada asiática. A intenção era ficar seis meses, mas acabei morando lá por quatro anos – e enquanto o Boca de Gafanhoto ganhou um porrilhão de textos, fotos, vídeos e podcasts, o Biselho mal recebeu atualizações. A exceção foi uma série de 47 posts com comentários sobre cada um dos 235 filmes a que assisti em 2012. Depois disso, necas.
A verdade é que já faz um tempo que meus esforços não remunerados estão voltados à área audiovisual, de ficções sobre stalkers e gente presa no banheiro a documentários com nonagenárias simpáticas, passando por animações em stop-motion com rolhas de vinho. Até para o Cinema de Buteco, do qual participo desde sua fundação em 2008, passei os últimos anos muito mais focado no podcast do que nos textos.
Mas sinto falta de escrever. E não queria criar um novo blog "temático" como foi o Boca de Gafanhoto, falando apenas sobre minha vida na Alemanha. Estes dias fiquei olhando o Biselho, navegando pelos posts antigos e relendo coisas que escrevi há dez, onze anos – e me peguei pensando em retomar o blog depois de tanto tempo parado.
Aproveitei pra dar uma repaginada no visual. A versão anterior era tão antiga que ainda tinha link para o meu perfil do Orkut. Passei umas boas horas mexendo no código, fuçando os CSSs da vida e transformando este template no que você vê agora, com o azul-e-preto que já uso desde os idos de 2005. O blog também ganhou um menu de categorias no topo e de quebra tem um design responsivo que se adapta aos espertofones – perfeito pra compartilhar com a rapaziada no Zap Zap.
Ainda não descobri um jeito de voltar com os comentários antigos que o Biselho colecionou durante esses anos todos. Eles não eram hospedados diretamente no Blogger, mas numa plataforma de terceiros chamada Haloscan – que, como o Orkut, o Geocities, o Cadê, o HpG e tantas outras esferas virtuais, deixou de existir faz tempo. Estão backupeados em um arquivo XML que teoricamente deveria ser fácil de importar, mas minhas primeiras tentativas fracassaram por razões de teimosia do Blogger e/ou inabilidade técnica.
Tirando isso e um tanto de imagens quebradas – principalmente nos posts mais antigos, quando o Blogger tampouco oferecia a hospedagem de imagens e eu usava links para sites variados, muitos dos quais também já foram pras cucuias –, o arquivo completo do Biselho desde 2004 continua aí online, para escrutínio dos internautas.
Revisitei até mesmo a extinta Rádio Biselho, que trazia um punhado de canções selecionadas que eram trocadas de tempos em tempos e apareciam numa playlist incorporada à barra lateral do blog. Fazê-la era uma trabalheira: eu precisava converter as MP3 para um formato diferente, subir tudo num site externo e editar o código manualmente com o nome dos arquivos. Hoje em dia você monta uma playlist em dois cliques e cola onde estiver a fim. Reuni a maioria das canções que fizeram parte da Rádio Biselho, mas ficaram de fora algumas versões ao vivo e raridades, além de músicas de amigos e do ABUNN, minha banda (se nós e os Beatles temos algo em comum, é o fato de ambos não estarmos no Spotify).
E qual será a frequência dos posts do Biselho nesta inesperada nova fase?
Eu é que sei lá. Foi-se o tempo em que a gente chegava da faculdade ao meio-dia e tinha a tarde toda para ver Seinfeld, escrever um post ou dois pro blog, sair pra ensaiar com a banda e ainda assistir a um filme alugado por 1 real na locadora da esquina (foi-se o tempo, inclusive, em que existiam locadoras da esquina). Melhor não prometer nada, a não ser que não se passarão outros mil e tantos dias até o próximo post brotar. Vêm por aí textos sobre um campeonato de descascamento de camarões, blues tocado com vassoura e pá, minhas aventuras como figurante em Hollywood e outros temas de igual magnitude – quem sabe até os lipogramas sem as letras O e U, pra completar a pentalogia iniciada há mais de uma década.
Leitores véios de guerra, biselhantes de primeira viagem ou desavisados caindo aqui após uma busca incauta no Google, não importa – sejam bem-vindos, cambada.
Leitores véios de guerra, biselhantes de primeira viagem ou desavisados caindo aqui após uma busca incauta no Google, não importa – sejam bem-vindos, cambada.
Bom retorno!
ResponderExcluirEba! Adoro seus textos!
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