11/10/2015

Scream - Primeira Temporada



O primeiro Pânico foi um dos filmes que mais vi na vida. Lá pela sétima, oitava série, sempre chegava da escola e dava o play no VHS — acho que até hoje sei recontar a trama inteira de cabeça. Pânico 2 vi no cinema com meu primo, que saiu falando que era o melhor filme que já tinha visto. A estreia de Pânico 3 foi um evento épico que levou minha escola inteira ao Diamond Mall em uma tarde de sexta-feira: teve empurra-empurra na entrada e gritaria generalizada nas cenas de terror, e eu até levei minha máscara do Ghostface pra fazer graça.

Revendo os três filmes anos depois, apenas o primeiro continua se sustentando bem. O segundo é até divertido, mas só moleques de 14 anos poderiam considerá-lo a obra máxima de suas breves existências. O terceiro é bem fraco e às vezes parece mais Simão, o Fantasma Trapalhão do que um slasher movie. Pânico 4, lançado tardiamente onze anos após a parte 3, não é lá dos mais memoráveis: eu só lembro mesmo da criativa cena de abertura, cheia de filmes-dentro-do-filme, quase um screamception.

Meu interesse em Scream — mais um exemplar na enxurrada de séries recentes baseadas em filmes, como Bates Motel, Fargo e From Dusk Till Dawn — era nulo, mas a máscara boquiaberta do novo Ghostface apareceu na tela do Netflix e, provavelmente movido pela nostalgia, resolvi conferir o que é que a MTV tinha feito com sua reinvenção televisiva de Pânico.

A série ignora os eventos dos filmes e não menciona Sydney Prescott ou os trocentos assassinatos cometidos na quadrilogia. A história se passa em Lakewood, cidadezinha cujo nome não deixa de lembrar Woodsboro, cenário dos filmes. Há vinte anos, um serial killer mascarado deixou um rastro de vítimas e alguns poucos sobreviventes traumatizados. Duas décadas depois, um novo assassino volta a colocar a adolescentaiada em pânico. Não é coincidência que quase 20 anos separem 2015 do primeiro filme, lançado em 1996.


Muitos dos personagens principais parecem esculpidos com base nos filmes. Emma (Willa Fitzgerald) é a nova Sydney, toda hora recebendo telefonemas do assassino, escolhendo os namorados errados e descobrindo segredos do passado obscuro da mãe. Noah (John Karna) é o novo Randy: conhece os clichês do gênero e despeja referências à cultura pop a cada duas frases — além de ser um hacker de fazer inveja à garotinha de Jurassic Park, rastreando e invadindo qualquer dispositivo com dois cliques. Piper (Amelia Rose Blair) é a podcaster que equivale à repórter Gale Weathers, misturando-se à meninada para arrancar detalhes sobre as vítimas. De resto, temos a trupe usual de personagens frívolos e desinteressantes que só servem para protagonizar mortes horríveis, embora apenas uma, em que a vítima é serrada ao meio da cabeça aos pés, se distancie do monótono padrão "facada na barriga / facada nas costas" que acomete as demais.

Sobre o assassino, talvez o fato mais digno de nota seja a nova máscara. Acho bem-vindo atualizarem o visual do Ghostface, inserindo uma significância dentro da história pregressa da trama (é a mesma usada pelo serial killer de vinte anos atrás). Mas ainda prefiro mil vezes a icônica máscara original, com sua boca cartunesca, olhos franzidos e cara de dó. A voz distorcida ao telefone também está presente, mas "Hello, Emma" definitivamente não tem o mesmo apelo sonoro de "Hello, Sydney". Talvez seja o sibilar que inicia o nome "Sssssydney". Talvez seja a nostalgia falando.


A verdade é que, apesar do assassino mascarado e dos personagens derivados, a série não tem muito a ver com os filmes. O que diferenciava Pânico de todos os clássicos do horror que o inspiraram — e das dezenas de filhotes que pariu nos anos seguintes — era que seus personagens conheciam os clichês dos filmes de terror e sabiam que estavam em um. Em Scream, as referências a outras séries de TV se resumem a piadinhas com Game of Thrones, Breaking Bad e Dexter, mas apenas nos diálogos, nunca na estrutura. Vez ou outra, o personagem nerd faz menção aos clichês de terror destrinchados nos filmes ("Não vou dizer 'volto já', porque senão não vou voltar"), mas a coisa não passa disso.

No terceiro episódio já tinha ficado claro que Scream não era das melhores séries. Mas para descobrir a identidade do assassino (que só veio a dez minutos do final do último episódio), foi preciso aguentar mais sete episódios com personagens se comportando de maneira ilógica, pontas soltas sendo ignoradas (ou convenientemente deixadas para a segunda temporada) e episódios inteiros que mais parecem Malhação — cheios de historinhas de romance adolescente e subtramas envolvendo cyberbullying e chantagem — do que uma "slasher series". Em uns três episódios consecutivos, inclusive, a única aparição do assassino é numa sequência de sonho, um dos recursos de roteiro mais preguiçosos da paróquia.

O season finale tem a inevitável festa seguida de matança e a aguardada revelação de quem se esconde por trás da boca aberta (claro: um dos únicos dois ou três personagens que não tinham virado suspeitos durante a temporada inteira), mas fica a sensação de que teria sido melhor gastar esses 400 minutos revendo o primeiro Pânico mais algumas vezes. Taí uma série que poderia dizer "volto já" e não voltar, que não faria falta.

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Lucas Paio já foi campeão mineiro de aviões de papel, tocou teclado em uma banda cover de Bon Jovi, vestiu-se de ET e ninja num programa de tevê, usou nariz de palhaço no trânsito, comeu gafanhotos na China, foi um rebelde do Distrito 8 no último Jogos Vorazes e um dia já soube o nome de todas as cidades do Acre de cor, mas essas coisas a gente esquece com a idade.

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